Lembrando o personagem bíblico, Francisco alerta que não basta apenas conhecer a doutrina cristã.
Autoridades assistem a missa: segundo papa, síndrome atinge aqueles que buscam uma 'santidade de lavanderia'. (Foto: AFP) |
É necessário lutar contra a "síndrome de Jonas" que nos leva à hipocrisia de pensar que nossas obras são suficientes para nos salvar. As palavras são do papa Francisco e ditas na missa da manhã desta segunda-feira (15) na Casa Santa Marta. O bispo de Roma chamou a atenção sobre “uma atitude de religiosidade perfeita”, que segue a doutrina, mas que não se preocupa com a salvação dos “pobres”.
A “síndrome de Jonas” e o “sinal de Jonas”. O Santo Padre centrou sua homilia neste binômio. Jesus, observou, fala no Evangelho de hoje de uma “geração perversa”. É palavra muito forte. Mas, disse, Jesus certamente não se referia às pessoas “que o seguiam com tanto amor”, mas aos “doutores da lei” que “procuravam colocá-lo à prova para fazê-lo cair na armadilha”.
Eram pessoas que, de fato, “pediam-lhe sinais” e Jesus responde que só lhes será dado o “sinal de Jonas”. Existe, no entanto, prosseguiu Francisco, a “síndrome de Jonas”. O Senhor lhe pediu que fosse a Nínive, mas ele fugiu para a Espanha. Jonas, disse, “tinha as coisas claras”: “a doutrina é esta”, “deve-se fazer isto” e que os pecadores “que se arranjem por conta própria, porque eu não tenho nada a ver com isso”. Àqueles que “vivem segundo esta síndrome de Jonas”, acrescentou o Pontífice, Jesus “chama de hipócritas, porque não querem a salvação” dos “pobres”, dos “ignorantes” e dos “pecadores”.
“A ´síndrome de Jonas´ não tem zelo pela conversão das pessoas, busca uma santidade – permito-me a palavra – uma santidade de ‘lavanderia’, toda bonita, impecável, mas sem esse zelo que nos leva a anunciar o Senhor. Frente a esta geração doente da ‘síndrome de Jonas’, o Senhor promete o sinal de Jonas. A outra versão, a de Mateus, diz que Jonas esteve dentro da baleia por três dias e três noites, referência a Jesus no sepulcro – a sua morte e ressurreição –, e aquele é o sinal que Jesus promete contra a hipocrisia, contra esta atitude de religiosidade perfeita, contra esta atitude de um grupo de fariseus”.
Há uma outra parábola do Evangelho, acrescentou o pontífice, que retrata muito bem este aspecto: a do fariseu e do publicano que rezavam no Templo. O fariseu, “tão seguro de si mesmo”, dava graças a Deus diante do altar por não ser como o publicano que, ao contrário, pedia somente a misericórdia do Senhor, reconhecendo-se pecador. Eis aqui “o sinal que Jesus promete para o seu perdão, através da sua morte e ressurreição”, disse o papa, “é sua misericórdia”: “Misericórdia e não sacrifícios”.
“O sinal de Jonas, o verdadeiro, é aquele que nos dá a confiança de seremos salvos pelo sangue de Cristo. Quantos cristãos, quantos há, que pensam que serão salvos apenas pelo que fazem, por suas obras? As obras são necessárias, mas são uma consequência, uma resposta àquele amor misericordioso que nos salva. Mas ó as obras sozinhas, sem esse amor misericordioso, não bastam. Pelo contrário, a ‘síndrome de Jonas’ tem confiança só na justiça pessoal, em suas obras”.
Jesus fala então de "geração má” e de “pagã, a rainha de Sabá, quase a nomeia juíza: se levantará contra os homens desta geração”. E isto, assinalou, “porque era uma mulher inquieta, uma mulher que buscava a sabedoria de Deus”.
“A ´síndrome de Jonas´ leva-nos à hipocrisia, àquela autossuficiência, a ser cristãos limpos, perfeitos, ‘porque fazemos estas obras’: cumprimos os mandamentos, tudo’. É uma grande doença. É o sinal de Jonas, da misericórdia de Deus em Jesus Cristo, morto e ressuscitado por nós, por nossa salvação. Na primeira leitura há duas palavras que se conectam com isto. Paulo disse de si mesmo que é um apóstolo, não porque estudou, não: Apóstolo por chamado. E aos cristãos diz: ´Vocês são chamados por Jesus Cristo´. O sinal de Jonas nos apela: seguir o Senhor, pecadores, somos todos, com humildade, com docilidade. Há um chamado, também uma opção”.
L’Osservatore Romano, 15-10-2013.
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