quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Candidatas à presidência têm o primeiro enfrentamento

Dilma e Marina, que se enfrentarão nas eleições, dão largada na campanha eleitoral.


Marina e Dilma: troca de farpas no primeiro encontro. (Foto: Arquivo)
Por Juan Arias* 

A presidente Dilma Rousseff e a ambientalista Marina Silva, as candidatas que, segundo as pesquisas, terão mais votos nas eleições presidenciais do ano que vem, se enfrentaram num duelo verbal sobre o estado da economia brasileira que foi apontado como a largada da campanha eleitoral.

Convencidas de que, no final, será a economia que decidirá as eleições, as duas iniciaram uma polêmica sobre o tema. Silva falou em Recife, território do socialista Eduardo Campos, a cujo partido, o PSB, ela acaba de se filiar para concorrer às eleições depois que o seu partido, a Rede Sustentabilidade, não obteve o registro a tempo. Rousseff respondeu de Minas Gerais, território do candidato da oposição, Aécio Neves, do PSDB.

Silva abriu fogo ante uma plateia a portas fechadas, organizada pelo banco Crédit Suisse. Depois de reconhecer que tanto o ex-presidente do PSDB, Fernando Henrique Cardoso, quanto o ex-presidente do Partido dos Trabalhadores, Lula da Silva, tinham deixado “marcas”, disse que o legado de Rousseff é o “retrocesso” da política econômica.

A aspirante acusou o governo de Rousseff de tratar a economia com “negligência” devido a certa “ansiedade política”. Acusada ela própria de se interessar mais pelos problemas ambientais que pelos demais graves problemas do país, Silva quis deixar claro ante os empresários que, se chegar à presidência, respeitará os três pilares que sustentaram o êxito da economia e permitiram o crescimento econômico: o superávit primário, o câmbio flutuante da moeda e as metas de inflação que, segundo ela, estão altas.

Rousseff não se calou ante outra assembleia de 400 empresários e respondeu à adversária, deixando claro que apesar da “crise internacional”, o país continuará “cumprindo as metas de inflação”, que são de 4,5%, com uma margem máxima de 6,5%. A presidente destacou que esta meta “não foi superada nos últimos dez anos” e explicou aos empresários: “O nosso compromisso com o rigor fiscal não se alterou, como prova o fato de ter passado pela maior crise da história desde 1929 com as metas de endividamento sob rígido controle”. E acrescentou: “Hoje, a nossa dívida líquida do setor público sobre o PIB é uma das menores do mundo.”

A ambientalista confrontou Rousseff com o tema espinhoso da ajuda do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) que, segundo ela, é usada “de maneira inadequada” em benefício de “alguns ungidos que recebem o dinheiro”. E recordou os quatro bilhões de dólares para o empresário Eike Batista, “praticamente jogados na lata de lixo”, afirmou.

Depois, comentou: “Imaginem com todo este dinheiro sendo dado a jovens empreendedores, a quantidade de oportunidades que poderíamos ter em termos de geração de novos empregos e novos negócios.”

Para Silva, o governo de Rousseff retrocedeu na área da sustentabilidade, não só ambiental como “também econômica”. A presidente destacou que o seu governo também vem trabalhando para “reduzir os custos da indústria” diminuindo, por exemplo, o custo da energia e baixando impostos de alguns produtos depois de confessar que todos podem aspirar à presidência, e que ela “não se sente superior” a ninguém. Ela se dirigiu também aos candidatos que pretendem enfrentá-la nas próximas eleições, que João Santana, o seu marqueteiro, tinha definido como “anões antropófagos”. Todos eles, disse Rousseff, “devem estudar mais” e “conhecer melhor os problemas do Brasil”.

A ambientalista respondeu à presidente: “Ela deu um conselho de professora. É um bom conselho, porque aprender é sempre positivo. O problema são os que pensam que já não precisam aprender mais e só sabem ensinar.”

Nesta mesma manhã, Rousseff respondeu a Silva pelo Twitter: “Acho que nunca deixamos de aprender. Aprendemos sempre, com os outros, estudando. Porém, não acredito nos soberbos que pensam que já nascem sabendo e que já aprenderam tudo”, e acrescentou: “Serei sempre uma aluna do mundo”.

Nesta terça-feira, Rousseff tinha recordado também que ela “já é presidente” e, portanto, a sua função agora é só “governar” e que o resto virá depois. Marina, com suas frases enigmáticas, tinha afirmado que “ninguém é dono da verdade” pois, segundo ela, “a verdade está entre nós”. No momento, é uma luta de David e Golias. Rousseff, considerada uma das mulheres mais poderosas do mundo, ganharia hoje de todos os adversários no segundo turno, pois goza de grande popularidade.

Porém, elas são duas mulheres de caráter, ambas mundialmente reconhecidas. Rousseff por ter sabido receber a difícil herança do carismático Lula da Silva, que nos últimos dois anos de governo tinha 85% de consenso, e Silva pela defesa de uma economia sustentável capaz de criar riquezas sem destruir o planeta.

Duas mulheres que “honram o Brasil” por sua intransigência na defesa dos valores da liberdade de uma das maiores economias e democracias do mundo em desenvolvimento. Ambas ex-ministras e amigas do único que hoje venceria as eleições no primeiro turno: o guru Lula, que já advertiu que não será candidato e fará campanha a favor de Rousseff como se ele “fosse o candidato”.
*Juan Arias é correspondente do El País no Brasil. Tradução de Cristina Cavalcanti.

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