Depois de quase 15 anos com as portas fechadas, sendo seis em processo de restauração do prédio, o Cine Theatro Brasil Vallourec, na Praça Sete, será reaberto nesta terça-feira, dia 8, como espaço multiuso e retorna ao circuito cultural de Belo Horizonte. Para marcar a reinauguração, a partir desta quarta-feira (9) estará diante dos olhos belo-horizontinos o painel Guerra e Paz, de Cândido Portinari (1903-1962), uma das mais importantes obras do artista brasileiro. É uma oportunidade única para apreciar a pintura, já que depois dessa exposição em BH as telas seguem para a Europa e, no ano que vem, retornam para seu ponto de partida, a sede da ONU, em Nova York, nos Estados Unidos.
Com 8 mil e 300 metros quadrados de área construída, divididos em sete pavimentos (altura equivalente a onze andares), o Cine Brasil vai contar com dois teatros – um com mil lugares e outro com 200, dois andares de galerias para exposições de artes visuais, área de eventos para até 650 pessoas, restaurante, loja e áreas de convivência. Os ambientes receberam isolamento acústico e possuem sistema de ar condicionado. Será mais um local destinado à difusão das artes, com apresentações de teatro, dança, música e mostras de cinema, além de exposições de artes visuais.
Grandioso no tamanho e na história. O Cine Brasil, inaugurado em 1932, foi o primeiro edifício em art déco de Belo Horizonte e, por muitos anos, permaneceu no posto de prédio mais alto da cidade. Isso motivou muitas pessoas a pagarem ingresso para visitar o terraço e conhecer a cidade do alto. Com a reforma, o local ganhou mais um andar.
Restauração
A arquitetura do Cine Brasil chama a atenção até hoje num dos pontos mais centrais de BH. Para resgatar a história dessa casa de espetáculos, foram necessárias diversas intervenções a fim de garantir sua caracterização como espaço multiuso. O prefeito Marcio Lacerda salientou a relevância da reabertura do Cine Theatro Brasil para Belo Horizonte. “Foi uma iniciativa de grande importância na valorização da nossa cultura e tem um peso a mais por significar também a revitalização de um patrimônio importantíssimo para a história e parte integrante do imaginário do belo-horizontino. É um belo espaço, que combina com o momento de grande efervescência cultural vivido pela nossa cidade, um presente para a nossa capital”, disse. Diversos profissionais se mobilizaram entre 2007 e 2013 para concluir a restauração do Cine Brasil. O investimento de R$ 53 milhões foi dividido entre recursos da Lei Federal de Incentivo à Cultura e da iniciativa privada.
Segundo representantes da Vallourec, empresa responsável pelo empreendimento e mantenedora do Cine Brasil, o maior desafio da restauração foi conhecer a estrutura do imóvel sem suas plantas originais, que se perderam com o tempo. Surpresas surgiram durante esse processo. Em meio às obras, foi encontrada a pedra fundamental da construção original, de 1928, além de uma caixa com moedas e outros objetos deixados pelos operários que ergueram o edifício.
A fachada principal do prédio foi reconstituída seguindo o padrão original, com revestimento em pó-de-pedra, três grandes vitrais com motivos geométricos e quatro grandes lanternas em metal e vidro. As tradicionais portas pantográficas também foram reconstruídas e possibilitam ao público admirar o hall de entrada do Cine Theatro Brasil Vallourec da mesma forma que na década de 1930. Mesmo tendo sido construído originalmente sobre uma super-resistente base de concreto armado, o prédio recebeu uma nova estrutura de sustentação. O reforço possibilitou a construção de um novo pavimento, com fundação independente, acima do telhado original. Assim, o Cine Theatro Brasil Vallourec ganhou mais um salão para exposições e eventos diversos.
Portinari
A dualidade entre dor e serenidade, conflito e tranquilidade, morte e vida é imortalizada nos painéis Guerra e Paz, de Portinari, que podem ser vistos no Cine Brasil até o dia 24 de novembro. A obra é formada por duas telas de 140 m², compostas por 28 placas de 2,2 metros de altura por cinco metros de largura. São 280 metros quadrados de área pintada, espaço maior que o do Juízo Final de Michelangelo na Capela Sistina, em Roma. Para trazer a Belo Horizonte uma obra desse porte, foi empregada uma logística diferenciada a fim de garantir sua integridade durante o transporte. “Examinei as peças e cada caixa para garantir o controle da umidade e a proteção contra fungos. Chegaram a BH em perfeitas condições”, assegurou Cláudio Teixeira, restaurador que acompanhou o traslado desde a saída de Nova York. Além da obra, o universo do artista também integra a exposição, cujo acervo ocupará as galerias e espaços de convivência do renovado centro dedicado às artes em Belo Horizonte.
A singularidade de Guerra e Paz não se limita aos traços do artista, mas também à sua história. A obra fica numa sala da sede da ONU, em Nova York, restrita ao público em geral. Esta, portanto, é uma rara oportunidade de conferir a exposição antes do seu retorno, já que após a estadia em Belo Horizonte ela segue para Paris, na França, onde também ficará exposta ao público, e retornará para seu local original. Guerra e Paz foi um presente do governo brasileiro à Organização das Nações Unidas, na década de 1950, e é a última obra produzida por Portinari.
Presidente da Fundação Municipal de Cultura, Leônidas Oliveira destaca a ligação do pintor com a capital mineira. "Portinari tem sua história intimamente ligada a Belo Horizonte. Na Igrejinha da Pampulha pintou o painel do altar e a via sacra, e os azulejos imprimiram a religiosidade franciscana, por meio de suas pinceladas fortes do realismo abstrato”, lembra. Leônidas salienta, ainda, a relevância da ilustre visita que BH recebe. “A vinda do painel Guerra e Paz nos faz pensar nessa fortaleza a que o conjunto da obra de Portinari nos remete, uma fortaleza de seres repletos de humanidade", conclui.
O artista
Contrariando as recomendações médicas, proibido de pintar por sintomas de intoxicação pelas tintas, Portinari aceitou o convite para a confecção da obra. O trabalho durou quatro anos, entre 180 estudos, esboços e maquetes para os murais. Em 5 de janeiro de 1956, Portinari entregava os painéis Guerra e Paz ao Ministro das Relações Exteriores, Macedo Soares, que efetivou a doação à ONU. Portinari morreu em 6 de fevereiro de 1962.
Fique atento
• Aberturada exposição: quarta-feira, dia 9.
• Horário de visitação: das 10h às 19h. Acesso por meio de sessões programadas a cada hora, com capacidade para 400 pessoas. Entrada por ordem de chegada.
• Um vídeo de 10 minutos sobre a história e o processo criativo de Portinari na elaboração dos painéis antecede a visita.
• Entrada gratuita
• Mais informações pelo telefone (31) 3201-5211.
PBH
Dom Total
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