Padre Geovane
saraiva*
São Francisco só viveu quarenta e cinco anos (1182-1226), mas foi o
suficiente para anunciar o Evangelho em harmonia com todas as realidades da
terra, começando com a própria natureza, levando a todos e a tudo uma mensagem
de serenidade, esperança e paz. Por isso mesmo ele é respeitado em todas as
religiões, pelo seu jeito de viver, totalmente encarnado e identificado com a
pessoa de Jesus Cristo, como o arauto da paz verdadeira e duradoura. Daí a
belíssima oração atribuída ao pobrezinho de Assis: “Senhor, fazei-me
instrumento da vossa paz...”.
Ele, quando jovem, sonhou
com a glória militar, chegando a participar de uma guerra entre as cidades de
Assis e Perúgia, mas não obtendo nenhum sucesso, a ponto de amargar uma dura
prisão, por um ano. Ao iniciar uma nova aventura militar, passa por uma crise
de consciência, sendo envolvido por um profundo questionado quanto à ação
militar. Voltou para sua terra natal e, aos poucos, foi amadurecendo nele uma
radical conversão.
Foi Deus mesmo que
o chamou a dizer não as vaidades do mundo, não a glória militar, não a ambição
do comércio. Mas sim a imitação radical da pobreza de Cristo. Francisco de
Assis foi tão profundo em viver o exercício da caridade, nos pobres, fazendo um
firme propósito de nunca negar-lhes um auxílio ou esmola. Não tendo nada, mas
nada mesmo para oferecer a um mendigo, tirou o seu manto novo e o trocou pelo
manto esfarrapado do pobre mendigo.
Dois anos antes
de morrer, com sua vontade louca de assemelhar-se ao Cristo, Deus entrou ainda
mais na sua vida, de modo extremamente profundo, através das santas chagas,
ficando impresso no seu corpo os sinais da paixão do Senhor Jesus Cristo,
totalmente despojado, assemelhando-se ao “Servo Sofredor”, confundindo-se: “Não
sei se eras Francisco ou se Cristo eras”.
O Santo de Assis
acolheu sua missão, ao abraçar o mistério da cruz, numa demonstração de coragem
e de fé inabalável. Aceitou tudo por amor, canalizando dentro da virtude da
humildade, com a clara consciência de que todas as graças concedidas pelo o
Espírito Santo de Deus, a mais preciosa é a renúncia.
O pobrezinho de
Assis foi – (coisas de Deus), a figura humana mais importante e atraente do
milênio passado, conhecida em todo planeta. E é precisamente a partir dele que
a fé passou a ser vivida dentro de uma nova visão, fazendo a diferença, porque
ele foi ao extremo, foi às raízes.
No Cântico das Criaturas vemos um Francisco
de Assis amando e respeitando a criatura humana e, ao mesmo tempo, protegendo
os animais e plantas, chamando-os com a maior ternura, de irmãos e irmãs. A
chuva, o vento, o fogo e tudo mais para ele deveriam ser carinhosamente
tratados e respeitados como irmãos.
*Padre
da Arquidiocese de Fortaleza, escritor, articulista, blogueiro, membro da Academia
Metropolitana de Letras de Fortaleza, da Academia de Letras dos Municípios do
Estado Ceará (ALMECE) e Vice-Presidente da Previdência Sacerdotal - Pároco de
Santo Afonso - geovanesaraiva@gmail.com
Autor dos livros:
“O peregrino da Paz” e
“Nascido Para as Coisas Maiores” (centenário de Dom Helder Câmara);
“A Ternura de um Pastor” -
2ª Edição (homenagem ao Cardeal Lorscheider);
“A Esperança Tem Nome”
(espiritualidade e compromisso);
"Dom Helder: sonhos e
utopias" (o pastor dos empobrecidos);
"25 Anos sobre Águas
Sagradas (coletânea de artigos e fotos).
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