quarta-feira, 23 de outubro de 2013

O capitalista homoafetivo

A perseguição aos homoafetivos anda de mãos dadas com o dirigismo econômico e político.


O dirigismo político depende da catarse das grandes massas para manter sua hegemonia. (Foto: Arquivo)
Por Alexandre Kawakami*

Existe um outro aspecto muito pouco abordado, pelo menos no Brasil, quando se trata da capacidade da autonomia econômica de prover liberdade de escolhas. Refere-se à capacidade dos atores dentro de ambientes de liberdade econômica de destacarem a fonte de seu sustento de outros aspectos de sua vida privada que não se relacionam com sua atividade profissional.
Quando o ator produz um parafuso, uma pizza, um programa de computador ou um serviço de contabilidade, os compradores destes produtos ou serviços estão pouco preocupados com a religião, as preferências, as crenças, o gênero ou quaisquer outros aspectos que não se relacionam com a decisão econômica de adquirir ou não aquele produto ou serviço.

Eventualmente, alguns clientes ou consumidores podem vir a saber que o provedor daquele produto ou serviço tem alguma característica com a qual não concordam ou condenam. Estes clientes ou consumidores podem evitar esses produtos ou serviços. Isso pode fazer com que esses provedores tenham de abaixar seus preços, aumentar sua produtividade ou a atratividade de seus “outputs” em relação a seus competidores. Em casos extremos, podem até ter de mudar de ramo. 

Mas num ambiente de livre empreendedorismo e competição, sempre haverá uma alternativa, ainda neste caso extremo; de fato nestes ambientes, os clientes e consumidores que evitam estes produtos tendem a perder eles mesmos sua competitividade, uma vez que os atores alvo do preconceito farão o esforço de prover preços mais baixos, produtos de maior qualidade, serviços melhores e por aí vai.

Eventualmente, num ambiente de liberdade, estes provedores serão mesmo capazes de demonstrar suas qualidades e suas vantagens competitivas, bem como consolidar seus espaços, garantindo a autonomia de professar sua religião, viver suas preferências amorosas e, mais importante, sobreviver com o próprio gênero ou raça. 



É por esta razão que sempre me surpreendo quando vejo um grupo de interesses especiais, seja ele religioso, de gênero, de preferência afetiva ou de raça defender políticas que visam concentrar a autonomia da decisão econômica em qualquer tipo de estrutura política.

Historicamente, ambientes de dirigismo econômico sempre estiveram ligados a sistemas onde o preconceito é usado como fomento para o controle das massas. O anti-semitismo, a perseguição aos homoafetivos, a discriminação da mulher e dos de origem africana ou asiática sempre andaram de mãos dadas com o dirigismo econômico e político.

A ilegalidade do homossexualismo na Rússia não é invenção de Putin. O anti-semitismo não foi invenção dos nazistas. Assim o é porque o preconceito tem apelo populista, e o dirigismo político depende da catarse das grandes massas para manter sua hegemonia. Nestes regimes, quando um grupo é proibido de exercer atividade econômica, não há para onde recorrer: tal grupo está efetivamente impedido de prosseguir em qualquer área, dar qualquer contribuição, por razões que não têm a ver com sua capacidade ou eficiência. 


Tornam-se verdadeiramente seus rótulos e, como tal, estão condenados ao sacrifício no altar da demagogia. E a relevância disso se vê claramente nas declarações e projetos de lei de uma certa ala religiosa, bem como no apoio que recebe da administração atual para garantir sua hegemonia na Câmara.
*Alexandre Kawakami é Mestre em Direito Econômico Internacional pela Universidade Nacional de Chiba, Japão. Agraciado com o Prêmio Friedrich Hayek de Ensaios da Mont Pelerin Society, em Tóquio, por pesquisa no tema Escolhas Públicas e Livre Comércio. É advogado e consultor em Finanças Corporativas.

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