O alto nível de investimento tem causado o endividamento da empresa
Por Dyelle Menezes
Na semana em que comemorou 60 anos de atividades, a Petrobras teve a nota de crédito rebaixada pela agência de classificação de risco Moddy’s. Além disso, as expectativas não são boas para a petrolífera que deve permanecer com o rating negativo. Apesar das dificuldades financeiras, a empresa tem mantido o nível de investimentos.
Nos oito primeiros meses do ano, as aplicações do Grupo Petrobras atingiram R$ 58,5 bilhões. O montante corresponde a 65,4% do total de R$ 89,3 bilhões orçados para a companhia em 2013. Em valores constantes (atualizados pelo IGP-DI, da FGV), as aplicações foram 7,2% maiores do que os R$ 54,5 bilhões desembolsados no mesmo período do ano passado. Conforme levantamento do Contas Abertas, para os oito primeiros meses do ano, o valor é o maior desde 2000.
Os programas do âmbito do setor petróleo se destacam em comparação aos demais. Segundo o Departamento de Coordenação e Governança das Estatais (Dest), a diferença não acontece apenas pelo vulto dos recursos que lhes são destinados, mas também pelo empenho que a Petrobras dedica em sua execução, medido pelos respectivos indicadores de desempenho.
A rubrica “Petróleo e Gás”, por exemplo, possui previsão de investimentos de R$ 50,7 bilhões, o que representa 56,8% do total de recursos previstos para aplicações do Grupo Petrobras. Até agosto deste ano, R$ 35,7 bilhões, o equivalente a 54,4% do autorizado, foram aplicados.
O programa “Combustíveis” da estatal é o segundo maior em termos de recursos. Ao todo, R$ 29,7 bilhões estão previstos para este ano. Nos oito primeiros meses do ano, o correspondente a 29% desse total (R$ 19,1 bilhões) foi aplicado.
Em entrevista ao Contas Abertas, o professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Edmar Almeida, afirmou que o aumento nos investimentos da companhia é consequência da estratégia da estatal.
“O governo decidiu se lançar num grande esforço de investimento, notadamente em exploração e produção (pré-sal) e também aplicações na parte de refino. Se olharmos para a história da Petrobras, esses setores se alternam. Agora o governo se lançou em duas frentes de batalha ao mesmo tempo para aumentar o nível das aplicações”, explica.
Segundo o professor, se lançar de maneira incisiva em diversas frentes é uma estratégia boa para o país, mas muito arriscada para a empresa. “Esse é um risco para a empresa, que fica em situação de vulnerabilidade financeira. É um experimento, um período de desafio para enfrentar duas frentes de batalha ao mesmo tempo. O risco é de uma crise financeira, por esse passo audacioso”, conclui.
O risco assumido pela Petrobras foi exatamente um dos motivos para que a nota de crédito tenha sido rebaixada. Segundo a agência, as previsões também não são otimistas. A Moddys explicou que a Petrobras continuará com o fluxo de caixa negativo nos próximos anos, à medida que conduz um ambicioso programa de investimentos, o que pode piorar a sua saúde financeira.
“Vemos a alavancagem da Petrobras chegando a níveis de pico em 2013 e em 2014, significativamente maiores que aqueles de seus pares no setor e que provavelmente só diminuirá a partir de 2015”, disse o vice-presidente Senior da Moody’s, Thomas Coleman, em comunicado.
O alto nível de investimento, com os preços da gasolina congelados, tem causado o endividamento da empresa. No comunicado, Coleman explicou que a dívida total da estatal aumentou no primeiro semestre deste ano em US$ 16,3 bilhões e deverá continuar crescendo em 2014.
Antes do anúncio da agência, a presidente Dilma Rousseff comemorou, nas redes sociais, os 60 anos da empresa. "A EnLeaderPetrobras completa hoje 60 anos com o orgulho do Brasil. Ela mudou o país para melhor", disse ela, que se encontrou com a presidente da petrolífera, Graça Foster.
Em resposta ao Contas Abertas, a Petrobras reconheceu ser robusto o seu programa de investimento constante do Plano de Negócios e Gestão 2013-2017, no montante de US$ 236,7 bilhões, e destacou o fortalecimento da governança da companhia com maior rigor na aprovação de novos projetos. “A demonstração disso é que não houve inclusão de nenhum novo projeto na carteira de investimentos do PNG 2012-2016 e do PNG 2013-2017. A Petrobras manteve o mesmo nível de investimento, focando na conclusão dos projetos em execução sem alteração de seus escopos”, explica a empresa.
Os principais investimentos são na área de Exploração & Produção, contemplando 62,3% do total previsto no Plano. A expectativa é de entrar em operação 25 novas unidades de produção no período 2013-17. “Portanto, a realização deste Plano propiciará à Companhia o aumento significativo de sua produção de petróleo e gás natural, atingindo 3,4 milhões de barris de óleo equivalente por dia (boed) em 2017 e 5,2 milhões de boed em 2020”, ressaltou a empresa.
Em relação à “saúde financeira”, a Petrobras afirmou que se encontra em posição confortável de liquidez, com R$ 72,8 bilhões em caixa. Além disso, a empresa explicou que o perfil atual de vencimento de sua dívida está bem distribuído e balanceado com a geração de caixa futura e a maior parte dos financiamentos já contratados este ano tem prazo de vencimento médio igual ou superior a sete anos, “compatível, portanto, com a maturidade dos projetos de investimento e consequente crescimento da geração de caixa da companhia”.
Aumento nos combustíveis
Em entrevista ao jornal O Globo, Graça Foster afirmou que no Conselho da companhia já discute uma nova política de aumentos nos preços dos combustíveis e a mudança destina-se justamente a dar previsibilidade às receitas da Petrobras.
Na oportunidade a presidente a maior estatal do país afirmou que o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, disse que até o fim do ano é possível que ocorra aumento nos combustíveis, mas que ela gostaria que isso acontecesse o mais rápido possível.
Contas Abertas
Nenhum comentário:
Postar um comentário