O mistério último da vida pede-nos uma resposta lúcida e responsável.
Diante tantas interrogações, não será Deus o mistério último? (Foto: Arquivo) |
Por José Antonio Pagola*
Jesus não se dedicou a falar muito da vida eterna. Não pretende enganar ninguém fazendo descrições fantasiosas da vida para além da morte. No entanto, toda a sua vida desperta esperança. Vive aliviando o sofrimento e libertando do medo as pessoas. Contagia uma confiança total em Deus. A sua paixão é fazer a vida mais humana e feliz para todos, tal como a quer o Pai de todos.
Só quando um grupo de saduceus se aproxima com a ideia de ridicularizar a fé na ressurreição, a Jesus lhe brota do seu coração crente a convicção que sustenta e alenta toda a sua vida: Deus “não é um Deus de mortos, mas de vivos, porque para Ele todos vivem”.
A sua fé é simples. É verdade que nós choramos os nossos entes queridos porque, o morrer, os perdemos aqui na terra, mas Jesus não pode nem imaginar que para Deus lhe vão morrendo esses seus filhos que tanto ama. Não pode ser. Deus partilha a sua vida com eles porque os acolheu no seu insondável amor.
O traço mais preocupante do nosso tempo é a crise de esperança. Perdemos o horizonte de um Futuro último, e as pequenas esperanças desta vida não chegam para nos consolar. Este vazio de esperança gera em muitos a perda de confiança na vida. Nada vale a pena. É fácil, então, o niilismo total.
Nestes tempos de desespero, será que não nos estão pedindo a todos, crentes e não crentes, para fazermos as perguntas mais radicais que levamos dentro de nós? Esse Deus do qual muitos duvidam, que muitos abandonaram e por quem muitos continuam a perguntar, não será o fundamento último em que podemos apoiar a nossa confiança radical na vida? No fim de todos os caminhos, no fundo de todos os nossos desejos, no interior das nossas interrogações e lutas, não estará Deus como Mistério último da salvação que estamos procurando?
A fé está ficando por aí, em algum canto do nosso interior, como algo pouco importante, que não vale a pena cuidar já nestes tempos. Será assim? Certamente não é fácil acreditar, e é difícil não acreditar. Entretanto, o mistério último da vida pede-nos uma resposta lúcida e responsável.
Essa resposta é decisão de cada um. Quero apagar da minha vida toda a esperança última para além da morte como uma falsa ilusão que não nos ajuda a viver? Quero permanecer aberto ao Mistério último da existência confiando que ali encontraremos a resposta, o acolhimento e a plenitude que buscamos já desde agora?
Instituto Humanitas Unisinos
*José Antonio Pagola é teólogo. A reflexão é proposta em cima do Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas 20, 27-38 que corresponde ao 32º Domingo do Tempo Ordinário, ciclo C do Ano Litúrgico.
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