Jogadores são flagrados por TV dando declarações que comprometem a reputação do Cruzeiro.
Júlio Batista: suspeito de "entregar" a partida para o Vasco
Por Carlos Eduardo Leão*
Ninguém me contou. Mesmo porque não acreditaria. E só acreditei porque assisti. Trata-se da declaração dada na véspera do jogo Vasco x Cruzeiro pelo zagueiro Dedé, tricampeão brasileiro pela Raposa, e que, muito pouco tempo atrás, defendia o Cruzmaltino.
Dedé é o mais verdadeiro exemplo do cara-de-pau ou da sua mais extraordinária derivação: "caríssima"-de-pau. Trata-se de uma expressão superlativa que ignora a língua culta mas, em compensação, nos faz exprimir todo o sentimento em relação ao conteúdo de sua fala desastrosa, desrespeitosa e descompromissada com o verdadeiro significado do esporte: "Como o Cruzeiro já é campeão prefiro não jogar contra o Vasco, meu time do coração".
O mundo virou, meus amigos. Eu, se presidente do clube, não deixaria esse atleta entrar na Toca nem mesmo para apanhar seus pertences. Enviaria a tralha por Sedex com o seguinte bilhete: “Seja feliz no Vasco, Dedé”. De nada serviu o magnífico exemplo do comandante Marcelo Oliveira, atleticano declarado, que, ao que nos parece, toda vez que entra na Toca da Raposa retira o seu coração do peito e o deixa no banco do carro. Treina o arquirival com a cabeça, com a inteligência e, sobretudo, com a imparcialidade de um profissionalismo raro. Faltou, talvez, a ele, Marcelo, o exercício pleno de sua autoridade e exigir de seu atleta, de 300 mil por mês, a retratação pública e o compromisso de uma partida exemplar, daquelas que apagam qualquer má impressão.
Ontem, durante o "amistoso" entre os dois clubes, sim, meus amigos, "amistoso", o nosso Júlio Batista, aos quatro minutos do segundo tempo, quando o jogo já estava 2 a 0 pro Vasco, foi flagrado pelas câmeras do Sportv dizendo para o zagueiro Cris, do Vasco e ex-Cruzeiro: "Faz logo outro(gol), pô", o que levou o Bahia a entrar com representação junto a CBF pedindo explicações sobre uma possível "entrega" do grande e inquestionável campeão. Parece ou não coisa de "amistoso"? Parece ou não joguinho de "cumpadis", como diz o bom mineiro? Fica aqui a incômoda dúvida.
Para culminar, a presença do atacante Pedro Ken no jogo, reforça as suspeitas do Bahia.
Por força de contrato ele não poderia enfrentar o Cruzeiro, seu ex clube. Mas, por ação do famoso Dr. Sobrenatural de Almeida, personagem lendário de Nélson Rodrigues, lá estava o nosso Ken, firme e forte.
"Desejo toda sorte ao Vasco, torço para que não seja rebaixado mas agora sou Cruzeiro, luto pelas suas cores e estarei em campo para chegar ao nosso objetivo de quebrar todos os recordes possíveis neste mais difícil campeonato do mundo". Essa tinha que ser a sua fala, Dedé. É exatamente isso que o nosso torcedor cruzeirense espera de seus atletas regiamente pagos. É isso que o torcedor brasileiro, cansado da falcatrua, da indecência e da imoralidade que permeiam o futebol pentacampeão do mundo, espera de seus jogadores que, paradoxalmente, clamam por melhores condições de trabalho através do movimento "Bom senso futebol clube". Como exigir bom senso se fora e dentro das quatro linhas agem dessa forma?
O cronista esportivo Jaeci Carvalho escreveu, num de seus concorridos textos, que o campeão deve comemorar e muito o seu título por um ou dois dias, no máximo três e depois retornar aos seus treinamentos com a mesma seriedade que o levará a um outro título. Isso não acontece na nossa cultura futebolística. Se ganhamos o campeonato com três ou quatro rodadas de antecedência estas passam a ser amistosos. Um total desrespeito ao campeonato, à torcida e ao esporte. Abel Braga, logo após a conquista do campeonato pelo Fluminense, ano passado, com três rodadas de antecedência deu férias antecipadas aos titulares campeões. Pode uma coisa dessa? Só no Brasil das bolsas eleitoreiras.
Tudo que antecedeu e transcorreu durante o embate de campo entre Vasco e Cruzeiro não comprova a existência de fraude, mas apenas pelos fatos suspeitos que se somaram, já maculam indelevelmente um campeonato ganho com competência e determinação por um time inquestionável. Os fatos a que me refiro fazem parte de uma cultura que precisa ser banida definitivamente desse futebol que encantou e, inacreditavelmente, continua encantar gerações de apaixonados mundo afora.
*Carlos Eduardo Leão é médico e cronista
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