segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Macroeconomia e desenvolvimento sustentável



Rio Nilo (foto) já apresenta enorme dificuldade em atingir o Mediterrâneo (Foto: Divulgação)
Marcus Eduardo de Oliveira

Viver a experiência de compartilhar uma economia mais fraterna e menos desigual, mais solidária e menos técnica, mais justa e equilibrada, indubitavelmente passa pela ruptura do atual modelo centrado no consumo expansivo, alimentado pela expropriação do capital natural.

Esse desafio não é único. A tarefa que segue é colocar em pauta as condições de um novo modelo econômico que seja capaz de conciliar a macroeconomia com a questão ambiental, reconhecendo, antes, que a economia é um subsistema da biosfera.

No arcabouço teórico dessa macroeconomia do desenvolvimento sustentável, é necessário compreender a dinâmica subjacente aos processos naturais de suporte à vida, bem como estabelecer reflexão consistente que dê espaço a novos paradigmas: um deles é diminuir a pressão que as atividades humanas exercem sobre a natureza.

Estabelecer um novo modelo de consumo, de vida e de produção industrial que se mantenha afastado da sanha consumista que emoldura as economias modernas, é o caminho a ser percorrido.

Nesse caminho, que a economia possa, em tempo hábil, amadurecer o suficiente para esclarecer seus adeptos que consumir menos significa não agredir a biodiversidade; que produzir menos significa poluir menos e, assim, respeitar a qualidade de vida.

Há que prevalecer reiteradamente o entendimento que menos consumo é sinônimo de mais vida, e de não destruição do capital natural. Não por acaso, a palavra “consumir” tem significado etimológico ligado ao conceito de “destruir”.

O modelo econômico que tem sido vastamente praticado pelas principais praças econômicas tece loas exageradas ao consumo fácil. O preço de não se discutir e aprofundar essa reversão tem sido muito elevado. Isso resultou em desequilíbrio ambiental em várias regiões, morte de espécies sem precedentes, desmatamento incontrolável, poluição atmosférica, contaminação de rios, lagos e mares. Árvores e bosques se extinguindo a uma “velocidade” de 50 mil espécies por ano.

De acordo com o estudo intitulado “A Economia dos Ecossistemas e a Biodiversidade”, produzido pela União Europeia em 2008, estamos perdendo mais de 7 milhões de hectares anuais. Isso significa dizer 20 mil hectares por dia, o que equivale a uma superfície diária que corresponde a duas vezes o tamanho de Paris, ou a aproximadamente 33 campos de futebol por minuto. Têm sido intensa as queimadas de florestas que expandem desertos, elevando os níveis de dióxido de carbono.

Parcela considerável de deltas e estuários dos principais rios do mundo, dentre eles o Colorado, nos EUA, e o Ganges, na Índia, estão secando, pois, antes de a água dos rios desembocar nos mares ela é represada para usinas hidrelétricas e para uso da agricultura. Assustadora situação também acontece com o Nilo que já apresenta enorme dificuldade em atingir o Mediterrâneo.

Essa gama de lastimáveis acontecimentos ao clima ambiental provoca o deslocamento populacional. Os refugiados ambientais já somam atualmente quase 50 milhões de pessoas e estima-se que até o ano 2020 aproximadamente 60 milhões de pessoas se deslocarão das áreas desertificadas da África subsaariana em direção ao norte da África ou Europa.

Diante disso, a condição que se coloca como essencial é a de promover o quanto antes uma fina sintonia entre a Economia e a Ecologia. Certamente isso resultaria, num curto espaço de tempo, em considerável diminuição da agressão aos ecossistemas.

As intervenções humanas, ditadas por uma lógica econômica que só enxerga o crescimento como fator-chave, não mais podem ameaçar os sistemas naturais. Para superar esse problema, urge a adoção de um novo modelo econômico que faça uso racional dos recursos naturais, preservando a saúde do planeta e evitando-se o esgotamento do capital natural.

O outro nome disso é vida saudável. E como a Ciência Econômica tem tudo a ver com a vida das pessoas, é imprescindível que a economia tradicional reveja suas posições e passe a aceitar em suas prerrogativas o meio ambiente como parte integrante e fundamental, e não como mera externalidade.

Que a ciência econômica avance rumo a uma análise sistêmica das relações com o meio ambiente, tentativa essa que pretende superar o reducionismo envolto das análises neoclássicas que olha pra natureza e a trata como objeto de lucro, pronta para ser violentada pela sanha de mais e mais produção. Por fim, que a vida econômica esteja a serviço do desenvolvimento social e ecológico, afinal, é isso o que mais importa.
Marcus Eduardo de Oliveira é economista e professor de economia da FAC-FITO e do UNIFIEO, em São Paulo. prof.marcuseduardo@bol.com.br

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