Repetindo o ritual iniciado em 1982 pelo padre Albino Donatti, neste segundo domingo de novembro, foi realizada a 31ª Caminhada da Seca, com o tema "Caminhada ao Campo Santo do Sertão, com fé, em busca do conviver e bem viver no Semiárido".
Uma multidão partiu da igreja de Nossa Senhora das Dores até o cemitério da barragem do Açude Patu reverenciando os flagelados mortos na seca de 1932. Os fiéis assistiram à missa campal e depois visitaram o cemitério FOTO: ALEX PIMENTEL
Uma multidão partiu da igreja de Nossa Senhora das Dores até o cemitério da barragem do Açude Patu reverenciando os flagelados mortos na seca de 1932, e sepultados naquele campo, situado a cerca de 6Km do Centro deste município.
À frente do cortejo, pelo segundo ano, o pároco João Melo dos Reis, acompanhado de milhares de fiéis, exaltou o santo coletivo das almas da barragem, flagelados da seca, mortos em 1932 no "curral da fome", como o canteiro de obras daquela represa ficou conhecido.
Público
Segundo os organizadores da Caminhada, este ano o número de participantes foi um pouco maior em relação a 2012. Aproximadamente três mil pessoas seguiram a pé pela estrada sinuosa até o cemitério da barragem.
Pelo menos outras 100 preferiram acompanhar o cortejo em caminhões e automóveis, para evitar o sol escaldante já no início da manhã, e também a poeira do caminho sobre chão de piçarra. Em pouco mais de hora chegaram ao destino, onde foi celebrada missa campal e em seguida a visitação ao cemitério.
Na noite anterior, o público, grande parte de outras dioceses, participantes do Fórum Cearense Pela Vida no Semiárido, teve a oportunidade de assistir a peça Campo de Concentração de 1932, a tragédia da união da seca com a seca de 1932, apresentada pela Cia. Engenheiros da Arte e Grupo Arautos do Bonfim, com texto de Valdecy Alves e direção de Fram Paulo de Sousa.
A encenação rememora o sofrimento enfrentado pelos retirantes no campo de concentração do Patu. O Fórum Cearense Pela Vida no Semiárido realizado nos últimos dias na cidade é promovido pela Articulação do Semiárido (ASA).
A dona-de-casa Aparecida de Sousa revelou ter viajado do Crato para Senador Pompeu ainda na sexta-feira. Ela pretendia rever os amigos conquistados ao longo dos anos, nas visitas às almas da barragem, de quem se tornou devota.
Um desses amigos era Luiza Ló, considerada a última sobrevivente do campo de concentração do Patu, da seca de 1932. Mas ela morreu no início do mês de fevereiro. Cinco meses depois, em agosto, o padre Albino Donatti, idealizador da Caminhada, também faleceu.
Na romaria e na celebração campal o padre e a sobrevivente foram homenageados como símbolos da luta social promovida pela Igreja Católica, com o apoio do Centro de Defesa de Direitos Humanos Antônio Conselheiro e o Instituto Casarão.
Segundo a assessora pedagógica do Centro Antônio Conselheiro, Marta Sousa, ao longo dos anos eles articulam os movimentos sociais a levaram a indignação do martírio histórico registrado nesta cidade e discutem as políticas públicas de sobrevivência do semiárido.
O ex-caminhoneiro João Benício Viturino nasceu em 1932. Com o passar do tempo passou a entender e respeitar o sofrimento dos retirantes da seca. "Quem esteve no campo de concentração do Patu viveu no ano de seu nascimento um dos momentos mais cruéis de suas vidas".
Alex Pimentel
Colaborado
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