Sem o convênio renovado com a Prefeitura, instituições lutam para manter o atendimento
"O Pequeno Nazareno foi a minha mãe na infância e o meu pai na adolescência. Foi lá que eu aprendi o que é certo e o que é errado, aprendi o sentido da vida. Foi uma oportunidade única que tive". O caso de Fernando Iago Ferreira de Sousa, 21, acolhido aos 9 anos pela instituição especializada em atender crianças e adolescentes em situação de rua na Capital - onde permaneceu até os 17 anos - é um dos que teve desfecho positivo. Entretanto, nem todos tiveram a mesma sorte.
Existem entre 200 e 300 crianças e adolescentes em situação de moradia de rua em Fortaleza. Em torno de 80% são do sexo masculino Foto: Kid Júnior
Sem renovação do convênio com a Prefeitura, duas das cinco entidades especializadas - Associação Comunitária de Ajuda Mútua do Pirambu (Acamp) e Barraca da Amizade - tiveram de fechar as portas, neste ano. Já as três que resistem - Pequeno Nazareno, Casa do Menor e Sociedade da Redenção - lutam para manter o atendimento.
Manoel Torquato, coordenador da campanha "Criança não é de rua" destaca que o Pequeno Nazareno, com capacidade para acolher 50 crianças e adolescentes, está com apenas 30. "Estamos com 20 vagas ociosas, porque faltam recursos públicos", frisa. O coordenador denuncia que, em junho deste ano, o convênio que as instituições tinham com a Prefeitura acabou e, até o momento, não foi renovado.
Por causa disso, os adolescentes que permanecem abrigados correm o risco de ficar sem atendimento. "Estamos nessa disputa para conseguir os repasses financeiros. "A gestão municipal muda e as dificuldades continuam ou até se agravam", denuncia o coordenador.
Audiência
Para debater a problemática será realizada, na próxima segunda-feira (16), às 9h30, audiência pública no auditório da Câmara Municipal de Fortaleza. Na ocasião será apresentada a pesquisa Rua Brasil S/N, que traça o perfil nacional e local da situação de rua infanto-juvenil. O estudo aponta que a ausência de políticas públicas para as famílias é a principal responsável pela ida e permanência das crianças nas ruas, representando 54,6% do universo pesquisado.
"É um trabalho difícil, que quase ninguém quer fazer. A sociedade não quer esses meninos e meninas. Há toda uma visão negativa sobre eles. Existem instituições dispostas a desenvolver esse trabalho, mas sem apoio do poder público fica muito difícil", desabafa Torquato. O coordenador diz o quanto é difícil retirar esses meninos das ruas, fazer com que fiquem na instituição e ressignificar suas histórias a ponto de retornarem para casa, e não às ruas. "Suspender esses recursos é uma tragédia em dobro, porque eles retornam às ruas e já estavam no caminho de superação dessa situação".
Torquato informa que existem de 200 a 300 crianças e adolescentes em situação de moradia de rua em Fortaleza. Em torno de 80% são do sexo masculino, com faixa etária entre 14 e 18 anos.
Em nota, a assessoria de comunicação da Secretaria de Cidadania e Direitos Humanos esclarece que os prazos ainda não podem ser restabelecidos e, só após a audiência pública de segunda-feira, a Prefeitura irá se posicionar em relação aos convênios com instituições parceiras.
LUANA LIMAREPÓRTER
Diário do Nordeste
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