quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Negócio da China

Em pleno jantar num restaurante chinês, nossa mesa é invadida por uma ratazana gorda e peluda.



"Faminta como eu, a ratazana avança na minha direção". (Foto: Arquivo)
Por Alexandre Kawakami*

O ato de se servir chá na China é cerimonioso e cercado de experiência acumulada. Numa casa de chá normal, após a fervura da água em bule de ferro, coloca-se o chá em porções bem medidas em um bule menor de cerâmica. Coloca-se a água fervente no bule menor, junto com o chá, fecha-se o bule e derrama-se mais água fervente sobre ele, para manter o bule menor aquecido e “respirando”. Aguarda-se o tempo necessário, que deve ser exato para que a infusão se complete sem deixar o chá amargar. Ao servir-se o chá nos copos, deve-se erguer o bule ao máximo para garantir que a bebida estará em temperatura ideal ao consumo. Cada detalhe é fruto de longa experiência visando a satisfação de quem vai beber.

Corte para um jantar em restaurante chinês tradicional e famoso de BH. Noite de calor, o garçom vem nos receber na porta, o local não tem ar condicionado. Pergunto: podemos ficar na mesa mais fresca? Resposta: Sim, o senhor pode ficar onde quiser! Pergunto de novo: onde é a mesa mais fresca? Resposta: Pode ficar à vontade, senhor!

Escolho a varanda, já de mau humor. Peço um bule de chá. Aproveito e faço meu pedido. Reparo que o garçom, ainda que munido de atitude polida, não anota...

Logo vem a bebida, acompanhada de conjunto de chá onde as xícaras e os pires não se combinam. O garçom serve do bule o que, para minha confusão, só pode ser água. Ele mesmo olha para a xícara surpreso. Havia se esquecido dos sachês. Leva tudo de volta.

Após rodada de chá em xícaras igualmente desconectadas de seus pires, o garçom traz os pratos, colocando-os em cima da mesa com os talheres jogados sobre os mesmos. Tiro fotos. Um furacão parece ter passado sobre a mesa e jogado tudo ao alto.

E nada de meu pedido chegar.

Frustrado, com fome e pronto para reclamar com a gerência, meu jantar é agraciado pela visita indesejada de uma ratazana preta, gorda, rabuda e folgada, que corre em minha direção. Levanto, enojado. Ela olha para mim como quem diz: Quer passar? Pode passar...

Chamo minhas companhias para deixarmos o restaurante. No caminho da saída, aparece o garçom trazendo nosso pedido. Olho para minhas companhias que me contra-olham insistentes: agora já veio... vamos comer...

Derrotado pela maioria, no sentamos em mesa dentro do restaurante (e longe da ratazana). O pedido, todo errado. 

Peço a conta, desesperado para deixar aquele lugar. O garçom traz a comanda. Cobra-nos vários itens que não pedimos. Reclamo. Ele desculpa-se e traz nova comanda. Errada de novo.

E a comida nem era tão ruim...
*Alexandre Kawakami é Mestre em Direito Econômico Internacional pela Universidade Nacional de Chiba, Japão. Agraciado com o Prêmio Friedrich Hayek de Ensaios da Mont Pelerin Society, em Tóquio, por pesquisa no tema Escolhas Públicas e Livre Comércio. É advogado e consultor em Finanças Corporativas.

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