segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Para os que ainda duvidam

Em Dubai, uma amostra clara de que a China tornou-se um país totalmente capitalista.



O Dragon Mart é o maior centro de comércio chinês fora da China. (Foto: Arquivo)
Por Luiz Sérgio Toledo*

Sexta-feira é fim de semana em Dubai. Não somente em Dubai, mas em todo o mundo muçulmano. É como o domingo no resto do mundo. O único dia livre da minha agenda. Tiro para descansar, ir à praia, ler e relaxar, porque sábado é dia de branco. O dia mais movimentado da semana. Não tenho ido muito à praia depois que começou o inverno. Apesar da temperatura estar oscilando entre 25 e 30°C, as águas do Golfo estão frias. Aqui estamos acostumados a banho de mar tipo canja. Agua quentinha. Agora a água está fria como a do Oceano Atlântico. 

Enfim, não deu praia e depois do almoço resolvi dar um pulo até Chinatown. Precisava repor o meu estoque de chá de ginseng, que tomo todas as noites antes de dormir e, me garantiram anos atrás, trás bons sonhos e é bom para a saúde. Ainda estou esperando me lembrar dos meus sonhos quando acordo. Nunca me lembro, o que não quer dizer que não os tenha. Então continuo tomando o chá de ginseng, com um pouco de mel todas as noites. Tornou-se uma espécie de ritual. Meu lado médico não acredita em medicina alternativa, mas meu lado brasileiro do interior aceita. E o gosto do ginseng não é ruim, mal não faz e por isso vou tomando o meu chazinho.

O maior centro de comércio chinês fora da China

Chinatown aqui em Dubai está concentrada em uma área da estrada que vai para Oman, a mais ou menos 20 km da cidade, perto de International City, um complexo de prédios de apartamentos divididos em áreas com nome de países, inclusive China, onde moram os trabalhadores blue-collar, os empregados de nível médio nas empresas de Dubai, inclusive quem trabalha no Dragon Mart. Esse complexo de lojas foi inaugurado em 2004 com 1,2 quilômetros de extensão. O DragonMart é o maior centro de comércio de produtos chineses fora da China continental, construído na forma de um enorme dragão cor-de-rosa, que inclui salas de exposições, áreas comerciais, restaurantes e armazéns que abrigam nada menos do que 4.000 empresas que vendem produtos chineses. 

Ontem, a briga começou para achar lugar para estacionar. As 2.500 vagas de estacionamento estavam cheias e até o valet-parking estava lotado. Os carros vêm da Arábia Saudita, Bahrain, Kuwait, Qatar, Oman, Abu Dhabi, Fujairah e lá dentro pode-se notar a diversidade das roupas árabes e os diferentes modos de cobrir a cabeça. Os homens de Oman, por exemplo usam um gorro redondo, tipo pill box, que parece aquele de enfermeiro. Muito diferente do guthra, o lenço que os árabes usam na cabeça em Dubai. 

As mulheres sauditas em geral têm toda a pele do corpo coberta pela abaya preta, usam sapatos, meias e também luvas pretas. Apenas os olhos são visíveis através do niqab, o pano preto que cobre o rosto.  As mulheres de Dubai usam o vestido preto, a abaya, mas não usam niqab, não cobrem o rosto. Usam a shela, um véu que cobre apenas os cabelos, deixando o rosto visível. As mais velhas usam mashakhes, um ornamento estranho, uma espécie de máscara de metal dourado, que deixa apenas os olhos de fora.  Os africanos se vestem... bem, como africanos, com roupas espalhafatosas e coloridas. Os do norte da África, que têm grande influência árabe, usam uma mistura entre a simplicidade árabe e o colorido africano. 

O Dragon Mart é dividido em várias seções, roupas , ferramentas e mobiliário. Pode-se achar sapatos confortáveis, parecidos com os das melhores marcas, um vestido de seda colante bordado ou um autêntico colar de pérolas, tudo ridiculamente barato. É um ótimo lugar para se comprar pérolas : o colar é confeccionado no local. 

Enquanto isso, vou tomando meu ginseng

O DragonMart é um portal para a distribuição de produtos chineses nos mercados do Oriente Médio e Norte da África, oferecendo aos comerciantes e fabricantes chineses uma plataforma única para atender às necessidades deste mercado considerável. Acha-se de tudo por atacado e varejo, até automóveis, cozinhas industriais, equipamentos médicos, e uma variedade de produtos chineses, incluindo eletrodomésticos, artigos de papelaria, material de escritório , comunicação e equipamento de som, iluminação, utensílios domésticos, materiais de construção , móveis, brinquedos, máquinas, roupas, tecidos, calçados e mercadorias em geral .

As pessoas vão comprando e contratando carregadores para levar as mercadorias. Em geral vem a família toda, crianças correndo (a sessão de brinquedos é sem igual) e passam o dia todo andando e comprando. 

Quanto fui lá pela primeira vez em 2005 havia poucas lojas e localizadas apenas na rua principal. Ontem notei que toda a extensão da rua está lotada e que já existem mais 4 ruas paralelas de cada lado, tudo cheio de loja. Não foi surpresa quando, ao sair vi a construção, já no sexto andar, de um novo prédio que não estava lá na minha última visita seis meses atrás. Trata-se da expansão do DragonMart, o DragonMart2. Cerca de mais 175 mil metros quadrados, localizado na rodovia para Oman. O DragonMart2 irá adicionar hipermercado, cinemas, entretenimento, restaurantes, varejo, hotel e mais estacionamento.

Quando as 60 medidas tomadas recentemente pelos chineses para transformar sua economia em algo realmente competitivo no mundo moderno forem melhor entendidas, vai-se perceber que a China virou completamente capitalista. Enquanto isso vou tomando meu ginseng.
*Luiz Sérgio Toledo é cirurgião plástico em Dubai

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