quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

A lista vermelha de Francisco

Por Alver Metalli


Leopoldo José Brenes, novo cardeal da Nicarágua, o segundo na história do país centro-americano governado pelos sandinistas, falou sobre a “metodologia muito especial” do Pontífice ao se referir ao anúncio dos nomes dos novos cardeais. "Geralmente se avisava o candidato alguns dias antes, através da nunciatura, para que não fosse pego de surpresa, mas creio que muitos de nós fomos pegos de surpresa, porque fez seu anúncio diretamente do Vaticano; da nunciatura não nos veio nenhuma notícia prévia". 

Segundo ele mesmo admitiu, soube da notícia na madrugada, “com o cantar do galo”, graças a um sacerdote que havia escutado um programa radiofônico. Pensou que era uma brincadeira, mas foi o primeiro de muitos telefonemas de felicitações, e não era possível que todos se tivessem colocado de acordo para zombar dele. “É uma decisão do coração do Papa”, disse ao ser recebido pelos jornalistas que o perseguiam na entrada da catedral de Manágua, onde celebrou uma missa de agradecimento. “Aqui não há nenhuma lista, não há pesquisas, ele conhece muitos bispos no mundo”, acrescentou.

Dom Orani Tempesta, por sua vez, não teve sequer tempo para modificar a tradicional coluna que publica às segundas-feiras no Jornal do Brasil, que, de fato, foi publicada com uma meditação dedicada a São Sebastião, padroeiro da cidade do Rio de Janeiro, que está se preparando para as celebrações dos 450 anos de sua fundação. Ao final da coluna, a assinatura de sempre: “Dom Orani Tempesta, cisterciense e arcebispo do Rio de Janeiro”.

O novo cardeal brasileiro encontrava-se no alto do Corcovado, ao pé do célebre Cristo com os braços abertos sobre a cidade, “quando o Papa anunciou meu nome”. Depois indicou que havia sentido “um calafrio na espinha” quando lhe indicaram que na lista dos 19 novos cardeais estava seu nome. Pouco depois das 16h30 do domingo, a CNBB atualizou sua página na internet com a notícia, as felicitações dos bispos brasileiros ao novo cardeal e a mensagem do secretário-geral dom Leonardo Ulrich Steiner, que recordou, entre as muitas responsabilidades que dom Orani Tempesta teve, a de ter sido “anfitrião da Jornada Mundial da Juventude, assumida com dedicação e generosidade para acolher o Santo Padre e milhares de peregrinos de todas as partes do Brasil e do mundo”. 

O mais surpreso ficou o novo cardeal do Haiti, Chibly Langlois, atual arcebispo de Les Cayes e presidente da Conferência Episcopal do Haiti. “Uma bênção para o país”, comentou imediatamente e indicou igualmente surpreendente coincidência da própria nomeação com o dia em que há quatro anos o terremoto sacudiu a ilha, deixando um saldo de 300.000 mortos e um milhão e meio de deslocados. 

O salesiano ítalo-chileno, Ricardo Ezzati (atual arcebispo de Santiago do Chile e presidente da Conferência Episcopal nacional), também se inteirou pela manhã ao ler nos jornais a notícia e indicou que pretende aproximar a Igreja chilena dos valores do Papa Francisco. Depois falou sobre seu retorno ao Chile após a viagem a Roma durante a qual receberá o anel cardinalício, incidindo que espera ser recebido com as características demonstradas pelo Papa, que não gosta de ostentação.

Ao contrário, no entorno do argentino Mario Aurelio Poli, outro religioso de origens italianas, a nomeação era esperada menos do que se poderia pensar. Muitos, de fato, consideravam que a púrpura não chegaria tão rápido às suas mãos e que o sucessor de Bergoglio em Buenos Aires teria que esperar pelo menos uma rodada antes de receber a honra cardinalícia.
Vatican Insider, 13-01-2014.

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