quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

A paixão de El Greco

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Há 400 anos morria o gênio grego que fez da Espanha sua casa e musa inspiradora



Vista de Toledo, pintada por El Greco entre 1604 e 1614 (Foto: Divulgação)
Por Marco Lacerda*
Neste 18 de janeiro os muitos sinos de Toledo, na Espanha, repicarão de um modo especial. Será um concerto que ecoará nos céus, vindo das pelo menos 25 torres da cidade, para anunciar ao mundo que em 2014 se celebra o 4º centenario da morte de Domenikos Theotocopoulos, mais conhecido como El Greco, um pintor tão presente e tão espanhol, mas ainda pouco conhecido em sua verdadeira dimensão.
El Greco desenvolveu sua carreira na Espanha, no Século de Ouro, mas nunca foi admitido na corte. “O grego de Toledo, como ficou conhecido no seu tempo, foi um imigrante – recorda Gregório Marañon, curador da exposição inaugurada na cidade –, um homem que chegou aos 36 anos a Toledo, onde realizou o melhor de sua obra”. O interesse e atualidade de sua pintura são incontestáveis, apesar de nunca ter aprendido o castelhano nem perdido suas raízes cretenses e italianas e, mesmo assim, ter-se convertido, ao longo do século 20, em um dos ícones mais emblemáticos da pintura.
Pouca vezes uma exposição pode dispor de um contexto histórico tão intacto esta ‘El Greco 2014’. “O que torna Toledo única para este evento não é apenas a prodigiosa conservação do lugar onde o pintor viveu, mas a possibilidade de ver suas obras nos mesmos lugares em para os quais foram realizadas e onde se encontram há mais de 400 anos.
Entre esses espaços originais inclui-se a sacristia da Catedral, recém-restaurada. ‘O espólio’, que o famoso restaurador Rafael Alonso considera a obra de El Greco melhor conservada é uma composição portentosa que o artista pintou ao chegar a Toledo, além das magníficas pinturas de Lucas Jordán, no teto da igreja, que ganharam vida e protagonismo.
Marco do fim da crise espanhola 
É importante visitar os cinco espaços da mostra por um motivo especial: “Eles nos permitem ver as obras do pintor nos lugares para os quais foram concebidas. Para ele, a arte transcendía a pintura e compreendia a totalidade desse conjunto.
O ponto alto da exposição será a tela ‘Vista de Toledo’, que pertence ao acervo de Metropolitan de Nova York e é considerado a melhor retrato da cidade jamais pintado. “Será emocionante para o espectador vê-lo junto do extraordinário ‘A vista e o mapa de Toledo’, que o Museu del Greco cedeu para a exposição
O importante para o organizador da mostra é que a comemoração não se limitará a fogos de artifício, por mais brilhantes que sejam. Gregório Marañon quer que o evento transcenda e que represente para Toledo e para a Espanha um acontecimento que enriqueça seu patrimonio cultural. No momento, somente 2% dos visitantes que chegam a Toledo – a uma hora de carro de Madrid – estçao em busca de El Greco. Com certeza depois da mostra este número será bem mais expressivo.
‘El Greco 2014’ será um dos acontecimentos mais importantes da Europa, fazendo de Toledo a capital cultural do Velho Mundo. Sua importancia é proporcional à memoria que temos do artista. Além do mais, a mostra coincide com o ano em que a situação económica e social espanhola começa a sair da crise que atravessa há quase uma década.
"El Greco 2014" - Veja o vídeo. 

*Marco Lacerda é jornalista, escritor e editor-especial do Domtotal

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