domingo, 19 de janeiro de 2014

Com o fogo do Espírito de Jesus

Cristo pode levar-nos a recuperar identidade, abandonando caminhos que nos desviam do Evangelho.

Batismo de Jesus: experiência espiritual deve ser despertada.
Por José Antonio Pagola 

As primeiras comunidades cristãs preocuparam-se em diferenciar bem o batismo de João, que submergia as pessoas nas águas do Jordão, e o batismo de Jesus, que comunicava o Seu Espírito para limpar, renovar e transformar o coração dos Seus seguidores. Sem esse Espírito de Jesus, a Igreja se apaga e se extingue. 

Só o Espírito de Jesus pode colocar mais verdade no cristianismo atual. Só o Seu Espírito pode levar-nos a recuperar a nossa verdadeira identidade, abandonando caminhos que nos desviam uma e outra vez do Evangelho. Só esse Espírito pode nos dar luz e força para empreender a renovação que necessita hoje a Igreja. 

O papa Francisco sabe muito bem que o maior obstáculo para colocar em marcha uma nova etapa evangelizadora é a mediocridade espiritual. Ele o diz de forma categórica. Deseja alentar com todas as suas forças uma etapa “mais ardente, alegre, generosa, audaz, cheia de amor até ao fim, e de vida contagiosa”. Mas tudo será insuficiente, "se não arde nos corações o fogo do Espírito". 

Por isso procura para a Igreja de hoje “evangelizadores com Espírito” que se abram sem medo à sua ação e encontrem nesse Espírito Santo de Jesus “a força para anunciar a verdade do Evangelho com audácia, em voz alta e em todos os tempos e lugares, mesmo contra a corrente". 

A renovação que o papa quer impulsionar no cristianismo atual não é possível “quando a falta de uma espiritualidade profunda se traduz em pessimismo, fatalismo e desconfiança”, ou quando nos leva a pensar que “nada pode mudar” e portanto “é inútil esforçar-se”, ou quando baixamos os braços definitivamente, “dominados por um descontentamento crônico ou por uma acidez que seca a alma”. 

Francisco adverte-nos que “por vezes perdemos o entusiasmo ao esquecer que o Evangelho responde às necessidades mais profundas das pessoas”. No entanto não é assim. O papa expressa com força a sua convicção: “não é o mesmo ter conhecido Jesus que não conhecê-Lo, não é o mesmo caminhar com Ele que caminhar às cegas, não é o mesmo poder escutá-Lo que ignorar a Sua Palavra... não é o mesmo tratar de construir o mundo com o Seu Evangelho que fazê-lo sozinho com a própria razão”. 

Tudo isto temos de descobrir por experiência pessoal em Jesus. Do contrário, a quem não o descobre, “depressa lhe falta força e paixão; e uma pessoa que não está convencida, entusiasmada, segura, apaixonada, não convence ninguém”. Não estará aqui um dos principais obstáculos para impulsionar a renovação desejada pelo Papa Francisco?
*José Antonio Pagola é teólogo. A leitura deste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo João 1, 29-34, que corresponde ao Segundo Domingo do Tempo Comum, ciclo A do Ano Litúrgico.

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