quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Entrando em 2014 pelas portas de Seychelles

Dez dias de férias num paraíso de silêncio e natureza exuberante no Oceano Índico.


Na pequena ilha Eden, carro não entra, só carrinho de golfe.
Por Luiz Sérgio Toledo* 

Uma das vantagens de morar em Dubai é que, em 4 horas de voo, cheguei com a família em Eden Island, a melhor da ilhas do arquipélago do Oceano Índico, para passar o fim de ano. Seychelles fica na linha do Equador e, embora a previsão do tempo mostrasse chuva para os próximos dez dias, resolvi encarar. Enfim, só poderia vir aqui agora e não terei férias em abril- maio, quando o tempo vai estar ideal. E depois a casa é confortável, com todos os brinquedos para gente grande e trouxe livros suficientes para os 10 dias de férias.

Na pequena ilha Eden, carro não entra, só carrinho de golfe. Um paraíso de natureza e silêncio. Quando fui ao supermercado, comprei o jornal local, The Victoria Times (Victoria é a capital) um pasquim de 12 páginas, das quais três são anúncios e uma é tomada pelo horóscopo e palavras cruzadas. Como já disse um critico feroz, “pena que o papel é muito grosso…” 

As notícias locais são o que se esperava: a mensagem de fim-de-ano do presidente, que num ato de humildade diz que ainda há muito a ser feito pelo país, a mulher que pode ir para a cadeia se não pagar uma multa porque seu cachorro mordeu a vizinha, o dono de uma loja de memorabilia militar que levou 26 anos para construir uma casa de bonecas em escala 1:12, com chão de mármore e lustres georgianos, estilo Dowton Abbey, que ele quer vender por 9 mil libras. 

Yabba-dabba-doo 

Outra notícia que mereceu meia página do jornal foi o roubo, acontecido em Sacramento, na Califórnia, de uma réplica do carro de Fred Flintstone da porta de uma loja de gibis. O dono da loja oferece uma recompensa apropriada a quem informar o paradeiro do veículo, uma caixa de cerveja Rolling Rock. 
As notícias internacionais são, surpresa, a situação caótica na Síria, no Sudão do Sul, e a mensagem de Natal pessimista de Edward Snowden, que, do frio de Moscow, prediz que “as crianças que nascem hoje não terão nenhuma privacidade no mundo. Elas nunca saberão o que é ter um momento de privacidade, ter um pensamento que não seja gravado e analizado.” Snowden acha que ainda será possível dar um fim a essa vigilância constante. 

“Minha missão está cumprida”, diz ele, já que na semana passada um juiz decidiu dar fim a espionagem telefônica em massa, julgando-a inconstitucional. 

Como grande parte da população local é de indiano seu pensava que o cricket seria o esporte favorito, mas não, perde para o futebol, o esporte preferido dos seychellenos (?).O jornal tem matéria de meia página com Mourinho, técnico do Chelsea, dizendo que “a estabilidade é a chave do sucesso do clube e que ele gostaria de permanecer no cargo por mais 12 anos.” Ele diz que não é por causa do alto salário (8,5 milhões de libras),mas porque ele adora o clube. 

Guerra Santa 

A grande matéria do jornal é sobre a Guerra Santa que está ocorrendo entre Católicos e Anglicanos, cerca de 500 anos após a separação das duas igrejas. Em outubro passado o Vaticano formou o St Peter’s Cricket Club, uma liga composta de times de padres e seminaristas das escolas católicas e seminários de Roma. Os melhores jogadores formarão o time do Vaticano, o “Vatican XI” e os católicos desafiaram a igreja Anglicana a formar o seu time de padres e seminaristas para um jogo em Londres, no campo Lord’s, o berço do cricket. 

O Arcebispo de Canterbury, Justin Welby, líder dos mais de 80 milhões de protestantes Anglicanos pelo mundo, aceitou o desafio através de seu representante no Vaticano, o Arcebispo David Moxon. Ele informou que o jogo ocorrerá em setembro e para isso os Anglicanos já estão reunindo o seu time, com craques dos seminários perto de Canterbury. O padre Eammon O’Higgins, que está organizando o time do Vaticano, já entregou a Moxon a bola do jogo. E o Vaticano não brinca em serviço; está convocando para o “Onze do Papa Francisco” jogadores de países com tradição em cricket, Índia, Paquistão, Austrália, Inglaterra, Bangladesh e Nova Zelândia.

Quando perguntado se esta combinação de diplomacia no esporte e diálogo inter-religioso pode ajudar a melhorar as relações entre as duas igrejas, separadas em 1534 quando Henrique VIII rompeu com Roma, Moxon respondeu: “pelo menos isso será tema de conversa no mundo todo quando Católicos e Anglicanos se encontrarem.” 

Sei não. Eu, quando criança jogava “bat” na rua, no interior, usando dois tijolos, um “bat” de bambu e uma bola de tênis. Chamava assim mesmo, “bat.” Chatíssimo de jogar e pior para quem tem que assistir. Mas inglês adora. Meu sogro, um escocês, ombudsman da rainha na África e Nova Zelândia adorava cricket. Quando ele estava vivo fomos várias vezes a Wellington visitá-lo e numa dessas viagens, fui testemunha de uma das cenas mais insólitas.Ele sozinho na sala, com o radio ligado, escutando a transmissão de uma partida de cricket. Ele torcia, dava murros no ar e reclamava do juiz. O cricket deve ter alguma mensagem oculta que agora a igreja quer aproveitar.
*Luiz Sérgio Toledo é cirurgião plástico em Dubai. Está de férias em Seychelles.

Dom Total

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