Jovens discriminados pelos shoppings gastam mais do que todas as classes sociais juntas.
Jovens da classe C concentram poder de consumo de 129 bilhões de reais.
Por Marina Rossi*
A presidenta Dilma afirmou estar preocupada com a questão do rolezinho, mas, por ora, ainda não tomou nenhuma medida em relação ao assunto.
Diante dos rolezinhos que invadiram a praia dos shoppings nas últimas semanas, a Associação Brasileira de Lojistas de Shoppings (Alshop) solicitou oficialmente uma reunião com a presidenta Dilma Rousseff para discutir a proibição as convocações. Isso ocorreu na mesma semana em que o Instituto Data Popular divulgou uma pesquisa apontando que esses mesmos jovens do rolê são também os que têm o maior potencial de consumo entre todas as classe sociais.
Sozinhos, os jovens da classe média concentram um poder de consumo de 129 bilhões de reais, enquanto os jovens das classes A e B somam 80 bilhões, e os da classe D, 19,9 bilhões. Segundo Renato Meirelles, presidente do Data Popular, impedir os jovens dos rolezinhos de entrarem nos shoppings - como muitos estabelecimentos estão tentando fazer - é não enxergar o potencial de consumo que esse público pode gerar. "É uma miopia das oportunidades de negócios", disse Meirelles.
A pesquisa ainda mostrou que 16,6 milhões de brasileiros entre 16 e 24 anos frequentam um dos 495 shoppings do país, em uma média de três vezes ao mês. Metade (54%) desse público é da classe média, que tem na lista dos produtos mais desejados o notebook, seguido do smartphone e do tablet.
"Descobrimos que os jovens da classe c são a maioria absoluta dos frequentadores dos shoppings. Depois, vimos que eles gastam mais do que todas as classes sociais somadas, o que pode ser uma oportunidade para os shoppings", disse Meirelles, que observa que esses jovens são os filhos da nova classe média, que não tiveram um passado de restrição como seus pais.
Um dado curioso é que entre as mulheres das classes A e B, 70% já usaram algum produto falsificado. Entre os consumidores da classe c, esse percentual não passa de 50%, porque, segundo a pesquisa, essas mulheres creem na apresentação como forma de diminuir o preconceito. Ocorre que, segundo a pesquisa, “a renda das pessoas cresceu mais do que os espaços de consumo, e não se construíram espaços e nem métodos de consumo universalizados.
Segregação
Enquanto o estudo fala sobre universalização dos espaços de consumo, se dependesse somente da classe alta brasileira, os shoppings deveriam ser segregados. Metade dos jovens de classe A e B afirmam preferir frequentar locais com pessoas do mesmo nível social. Pessoas malvestidas deveriam ser barradas dos shoppings para 17% dos jovens dessa classe social mais alta. Também para 17% deles, os estabelecimentos deveriam ter elevadores separados, e metade defende a criação de produtos na versão "para ricos e para pobres".
A ideia de fechar as portas para os meninos de classe média brasileira, pareça ter coerência com o desejo da classe alta, não confere com o dinheiro que a classe média é capaz de movimentar, devido ao seu alto potencial de consumo.
* Marina Rossi é correspondente em São Paulo do El País, onde esta reportagem foi publicada originalmente.
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