sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

O jesuíta João Batista Libanio

João Batista Libanio faleceu na manhã desta quinta-feira (30).
Por Michelle SantirocchiRepórter DomTotal

A notícia do falecimento de João Batista Libanio foi recebida com tristeza e comoção. Ele morreu após sofrer um infarto na manhã de ontem (30) em Curitiba (PR), onde estava ministrando um retiro para professores. 

“Homem de trato e estilo de vida simples, extremamente acolhedor, simpático, de bom humor. Amava de coração a Igreja e a Companhia de Jesus. Era fiel aos amigos e familiares. De uma disponibilidade impressionante para as atividades próprias à sua vocação de teólogo, assessor e pastor. Também tinha uma capacidade impressionante de trabalho, como se pode ver nas inúmeras palestras, aulas e assessorias que dava em lugares tão diversos do Brasil e do mundo. Alguém de bem com a vida. Acho que se pudéssemos resumir numa palavra a vida dele, poderíamos dizer que foi um cristão, um jesuíta e um padre feliz, que ajudou muitos homens e mulheres a terem uma visão da própria fé mais profunda, que lhes permitia também serem felizes”, disse o teólogo Geraldo De Mori, colega de Libanio na Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE). 

O corpo do jesuíta chegará a Belo Horizonte na manhã de hoje (31) e será velado a partir das 11h até às 8h deste sábado (1) no auditório Dom Luciano de Almeida, na FAJE. A partir das 8h de sábado, no mesmo local, será celebrada uma missa presidida pelo arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, dom Walmor Oliveira de Azevedo TV Dom Total

Ainda no sábado, o corpo será velado em Vespasiano: das 10h30min às 16h, na igreja Nossa Senhora de Lourdes. Logo após será celebrada uma missa e às 17h acontecerá o sepultamento, no Bosque da Esperança.

João Batista Libanio tinha 81 anos e era padre jesuíta, teólogo da libertação e muito engajado em causas sociais. 

Ele nasceu em Belo Horizonte em 18 de fevereiro de 1932 eaté sua morte, era vigário na Paróquia Nossa Senhora de Lourdes, em Vespasiano, na Grande BH e professor na Faculdade Jesuíta (FAJE). 

Quem era Libanio

Para De Mori, Libanio era um homem extremamente atento ao que se passava ao seu redor. “Isso se mostrava tanto nas atitudes do cotidiano quanto em sua preocupação com o contexto mais amplo da Igreja e do mundo. No dia a dia, isso se revelava nos pequenos gestos e detalhes de cuidado e atenção com os companheiros da comunidade religiosa, os jesuítas idosos que vivem na casa de saúde próxima de onde ele morava, os jovens jesuítas em formação, os funcionários da FAJE, os alunos e as pessoas que o procuravam para entrevistas, conversas, etc”, disse.

Ele também contou que Libanio dispensava grande atenção no cuidado de pastor que durante anos esteve ligado à Paróquia de Nossa Senhora de Lourdes. “Além de celebrar e pregar, ele também visitava doentes, atendia o povo, numa escuta constante de suas dores e alegrias. Esta atenção ao real se encontrava também em sua preocupação contínua de acompanhar as grandes evoluções de nossa cultura”, contou. 

Dia a dia

De acordo com De Mori, Libanio começava o dia cedo, com o tempo de oração pessoal. Em seguida, quando não havia missa na paróquia onde ajudava, participava da missa na Capela Santo Inácio, que acontece todos os dias às 7h. 

“Após o café da manhã, buscava os jornais e, quando não tinha aulas, dedicava um primeiro tempo ao estudo. Na metade da manhã sempre ia visitar os jesuítas idosos da casa de saúde e depois dedicava tempo à escrita. Após o almoço, atendia alunos ou dava entrevistas. Pela tarde, quando não tinha aulas, voltava ao trabalho da escrita ou recebia alunos para acompanhamento em suas pesquisas. À noite, ia pelo menos duas vezes por semana à paróquia, ou dava aulas e participava de atividades diversas de tipo pastoral em vários ambientes eclesiais de BH”, completou.

Uma fala de Libanio em seu site descreve o desejo, ainda na infância, de se dedicar à Igreja. “Ainda criança, um padre jesuíta perguntou-me que queria ser. Naqueles idos, facilmente, sem hesitar, era comum responder diante de um padre que se queria ser padre. Nada de formal nem decisivo. No entanto, tudo começou aí”.

Estudos

Padre Libanio estudou filosofia na Faculdade de Filosofia de Nova Friburgo, no Rio de Janeiro e letras neolatinas na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. 

Ele também estudou fora do Brasil. Fez teologia sistemática na Hochschule Sankt Georgen, na cidade de Franckfurt, na Alemanha. Depois, Libanio fez mestrado e doutorado na Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma, na Italia. 

Durante os anos do Concilio Vaticano II (1959 a 1965), Libanio foi diretor de estudos do Pontifício Colégio Pio Brasileiro. 

Libanio retornou ao Brasil em 1968, onde se dedicou ao magistério e pesquisa teológica, na linha de teologia da libertação. Foi professor de teologia na Universidade do Vale do Rio dos Sinos, em São Leopoldo (RS), do Instituto Tecnológico da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais e da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Ele lecionou, até seu falecimento, na FAJE. 

“Apesar das inúmeras atividades pastorais, de assessoria e de redação de textos para revistas, livros e jornais, sem contar as entrevistas, ele conseguia tirar um tempo significativo para estudar. Isso lhe permitiu estar continuamente a par do que acontecia no mundo, não apenas em sua superfície, mas na profundidade. Foi, provavelmente, um dos teólogos brasileiros que mais se dedicou ao estudo dos grandes intérpretes da realidade social, cultural, religiosa e eclesial de nosso tempo. Além desta capacidade enorme de leitura e pesquisa, conseguia traduzir o que descobria numa linguagem e pensamento próprios. Por isso, conseguiu escrever tanto, sem repetir-se continuamente, explorando campos diversos do saber teológico”, disse o teólogo Geraldo De Mori.

Teologia da Libertação

Libanio foi um dos maiores teóricos e seguidores da Teologia da Libertação, que consiste no cristianismo a favor dos excluídos. 

“Libanio foi um teólogo importante na sistematização e divulgação da Teologia da Libertação latino-americana. Como sabemos, esta teologia deu uma contribuição ímpar ao cristianismo e às igrejas cristãs na América Latina. Ela foi responsável por uma leitura comprometida do evangelho e da fé cristã. Graças a esta teologia, muitos grupos eclesiais se engajaram no compromisso social de transformação da realidade de injustiças e desigualdades que caracteriza países como o Brasil e tantos outros no mundo. Foi um teólogo importante na assessoria das CEBs (Comunidades Eclesiais de Base) e em muitas pastorais sociais da igreja católica no Brasil e na América Latina” disse De Mori.

Livros e colunas

Padre Libanio era colunista do Dom Total. Seus artigos eram publicados sempre às quartas-feiras e grande parte com temas voltados às causas sociais e humanitárias. Sua última coluna foi publicada na semana passada com o título“Migração e tráfico de seres humanos”

Foi autor de cerca de 125 livros, dos quais 36 de autoria própria e os demais em colaboração com outros autores, alguns editados em outras línguas. Além disto, possuía mais de 40 artigos publicados em periódicos especializados, e inúmeros artigos em jornais e revistas.

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