quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Apenas um subsistema do meio ambiente



A economia é apenas uma parte de um todo; o todo é o meio ambiente (Foto: Divulgação)
Marcus Eduardo de Oliveira

É a partir da correção dos erros que reestruturaremos a economia. Sem a correção dos erros, o novo não surgirá. O novo rumo a ser seguido, em termos de um diferenciado modelo de macroeconomia ecológica, passará, indubitavelmente, pela eliminação dos equívocos de se ter um sistema econômico que fecha os olhos para a questão ecológica.
Por isso, um dos erros mais graves na relação entre a economia e a ecologia se refere ao fato dos serviços ecossistêmicos e a biodiversidade não serem levados em conta no cabedal teórico que emoldura a economia neoclássica tradicional. Decorre disso a extrema dificuldade por parte dos neoclássicos em aceitar o fato de o sistema econômico ser um subsistema da biosfera.
Diante dessa conduta, tem sido comum a economia convencional “passar por cima” da problemática ambiental. Para os economistas tradicionais, questões de ordem ambiental não passam de meros setores pertencentes à macroeconomia convencional, como são os casos da pesca, da agropecuária, das florestas, entre outros.
Com isso, é ignorada a real movimentação dentro de um sistema econômico como as “entradas” (de materiais) e as “saídas” (de resíduos). Assim, a economia, no todo, não é vista como um sistema aberto dentro de um amplo sistema (o ambiente) finito. 
Nesse ponto, é interessante reiterar que os fluxos de entrada (materiais e energia) e de saída (produtos e resíduos) precisam ser considerados com primazia. É totalmente equivocado – como faz a economia tradicional - pensar a atividade econômica isolando-a de sua relação para com o conjunto da natureza, conforme já apontamos em outra ocasião. 
O diagrama do fluxo circular, comumente ensinado no primeiro ano do curso superior em economia, apresenta, pois, uma visão irreal da economia em que não entra matéria e energia, e nem sai resíduo (poluição). Esse ainda é um enorme absurdo que “reina” às soltas no ensino de economia.

Por essa linha de análise, tudo parece acontecer dentro de uma “caixa” isolada do mundo físico, como se a economia pudesse produzir de forma ininterrupta usando sempre a mesma quantidade de energia. Isso refuta acintosamente a segunda lei da termodinâmica, a lei da entropia.
Pela lei da entropia não se pode usar a mesma energia indefinidamente, queimando o mesmo carvão ad infinitum. A ciência atesta que qualquer sistema para continuar funcionando precisa de energia entrando, no mínimo de maneira constante. Com o sistema econômico isso não poderia ser diferente.
Se a economia capta recursos de qualidade de uma fonte natural e devolve resíduos sem qualidade para a natureza, então não é possível tratar a economia como um ciclo isolado, nos diz Andrei Cechin. (2010, p.43).
Assim, cada vez mais se reafirma a premissa aqui já apontada: a economia é apenas uma parte de um todo; o todo é o meio ambiente. Logo, não há como escapar da ponderação anteriormente descrita: à medida que acontece o crescimento econômico exponencial, se dilapidam as bases da natureza, resultando em sensível diminuição do meio ambiente em seu conjunto de recursos naturais, agravando substancialmente os fundamentos naturais da vida.
Reforça-se assim a seguinte prerrogativa: mais crescimento significa menos meio ambiente, tendo em vista que a biosfera é finita, não cresce, além de ser fechada funcionando regiamente sob as leis da termodinâmica.
Sintomaticamente, mais crescimento econômico responde pela exaustão dos recursos naturais e energéticos, e pela depredação dos serviços ecossistêmicos. Com isso, fica limitada a capacidade dos ecossistemas terrestres suportarem as pressões advindas do crescimento econômico.
Os limites biofísicos, assim, constrangem o sistema econômico que, por sua vez, irrompe-se com força destrutiva, expondo o meio ambiente em constante degradação, comprometendo a capacidade de manutenção da vida humana e de outras espécies.
É necessário que todos tenham conhecimento que os recursos naturais são, essencialmente, um conjunto de matéria e energia de qualidade atuando (entrando) no processo econômico. Na saída desse “cano econômico” sobra resíduo, poluição, calor e matéria dissipada. Portanto, do ponto de vista físico, o processo econômico não cria matéria e energia, apenas as transformam.
A questão ecológica mais preocupante, nesse pormenor, está justamente no impacto dessa ação (a retirada de recursos naturais e a devolução à natureza de resíduos pós-produção) gerada pela atividade econômica.
Esse resíduo gerado deteriora o ambiente em várias frentes: quimicamente, como no caso do mercúrio ou da chuva ácida; nuclearmente, como o lixo radioativo; ou fisicamente, como a acumulação de CO2 na atmosfera (Cechin, 2010, p.87).
Razão pela qual o crescimento econômico - pelas bases da expansão da capacidade produtiva - entendido erroneamente como condição essencial para satisfazer as necessidades humanas, precisa urgentemente ser repensado, até mesmo porque o crescimento, per si, não atende em linhas gerais o desejo supremo de tornar uma sociedade desenvolvida, próspera e feliz.
Seguindo essa linha, o desenvolvimento humano (substancial melhoria da qualidade de vida) dependerá da retração econômica, e não de seu crescimento. Ademais, qualquer subsistema - como é o caso da economia -, em algum momento necessariamente deve parar de crescer e adaptar-se a uma taxa de equilíbrio natural.
Posto isto, a economia tradicional precisa aceitar um fato inexorável: é impossível um crescimento ilimitado (expansivo) num sistema que depende da existência de recursos naturais finitos (limitados).
Funda-se nesse argumento um fato imperioso: parar de crescer não significa necessariamente parar de se desenvolver. É perfeitamente possível prosperar (se desenvolver) sem crescer; é factível avançar economicamente sem agredir o meio ambiente, uma vez que prosperidade (melhoria, ascensão, progresso) nada tem a ver com crescimento físico (mais mercadorias) da economia. A essência da nova macroeconomia ecológica deve, essencialmente, enaltecer esse princípio-base.
Marcus Eduardo de Oliveira é economista e especialista em Política Internacional. prof.marcuseduardo@bol.com.br

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