Por Assessoria de Imprensa
14 / Fev / 2014 14:23
No dia 9 de fevereiro foi ordenado o quarto padre indígena da Igreja do Rio Negro no estado do Amazonas. Trata-se do padre salesiano, Gaudêncio Gomes Campos, do povo Desano. A ordenação foi presidida pelo bispo de São Gabriel da Cachoeira (AM), dom Edson Damian. Publicamos abaixo, a íntegra da homilia da ordenação.
“Sei em quem coloquei a minha confiança” ( 2 Tm 2,4)
Is 44, 1-5, Sl 90, Cl 3,12-17, Jo 21, 15-19
Gaudêncio, teu nome contém um rico simbolismo e indica também uma importante missão. Gaudêncio vem de “gaudium”, alegria. Expressa a alegria que está sempre estampada no teu belo rosto indígena Desano. És um índio feliz porque manténs viva tua identidade e tua cultura e
soubeste integrá-las com a Boa Nova de Jesus. “A alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus”, assim inicia a Exortação Apostólica do Papa Francisco. Guadêncio, por tanto, tem tudo a ver com a Evangelii Gaudium, a profética carta programática do Papa Francisco. Até hoje nenhum papa tinha apresentado um programa de reformas tão profundas para a Igreja e para a Sociedade. E a partir de seus gestos, atitudes, testemunho e palavras, o Bispo de Roma está mostrando como deve ser a nossa vida e ação de discípulos missionários de Jesus de Nazaré em pleno século XXI, na periferia do Brasil, aqui no coração da Amazônia. Neste tempo de nova e surpreendente primavera, o Papa nos convoca para construir uma Igreja pobre para os pobres, convertida a Jesus e vestida de Evangelho, misericordiosa e missionária, que vai às periferias geográficas e existenciais, descentralizada, aberta, servidora, Igreja da inclusão, do encontro, da ternura. “Prefiro uma Igreja acidentada, ferida, enlameada por ter saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de se agarrar às próprias seguranças” (EG 49). Mas, não basta que o Papa se converta. Precisamos nos converter com ele, arregaçar as mangas e partir para a ação. Gaudêncio, tua vida e ministério já tem um rumo bem traçado e comprometedor. És trabalhador da primeira hora para ajudar a concretizar as propostas renovadoras e exigentes de nosso amado Papa Francisco.
Não sabemos se isto realmente aconteceu. O que importa é tirarmos uma lição para nunca mais esquecer. Apesar de nossas covardias, traições e infidelidades, o amor de Jesus por nós é irrevogável, irreversível, sem arrependimento. O Papa Francisco confirma: “Como faz bem voltar para o Senhor quando nos perdemos! Insisto mais uma vez: Deus nunca se cansa de nos perdoar, somos não que nos cansamos de pedir a sua misericórdia. Aquele que nos convidou a perdoar “setenta vezes sete” dá-nos o exemplo: ele perdoa setenta vezes sete. Volta uma vez ou outra a carregar-nos aos seus ombros. Ninguém nos pode tirar a dignidade que esse amor infinito e inabalável nos confere” ( EG 3). E conclui: “O verdadeiro missionário, que nunca deixa de ser discípulo, sabe que Jesus caminha com ele, fala com ele, respira com ele, trabalha com ele. Sente Jesus vivo com ele, no meio da tarefa missionária. Se uma pessoa não O descobre presente no coração mesmo de sua entrega missionária, depressa perde o entusiasmo e deixa de estar seguro do que transmite, faltam-lhe força e paixão” (EG 266).
Por fim, escolheste da carta aos Colossenses a passagem que tem tudo a ver com a “força revolucionária da ternura e do afeto” (EG 88 e 288) na qual insiste o Papa Francisco. “Como eleitos de Deus, santos e amados, revesti-vos com sentimentos de compaixão, com bondade, humildade, mansidão, paciência: suportai-vos uns aos outros e, se um tiver motivo de queixa contra o outro, perdoai-vos mutuamente como o Senhor vos perdoou. Sobretudo, revesti-vos do amor, que une a todos na perfeição” (Cl 3,12-14).
Ao escolheres esta carta de Paulo para orientar tuas relações e atividades percebeste que ela ilumina o carisma salesiano de Dom Bosco e dos seus missionários e missionárias que há 100 anos evangelizam os Povos Indígenas do Rio Negro. Na festa de Dom Bosco, 31 de janeiro, recebi a mensagem de um amigo com uma carta escrita por este santo:
“Sempre trabalhei com amor. Quantas vezes, meus filhinhos, no decurso de toda a minha vida, tive de me convencer desta grande verdade! É mais fácil encolerizar-se do que ter paciência, ameaçar um jovem do que persuadi-lo. Direi mesmo que é mais cômodo, para nossa impaciência e nossa soberba, castigar os que resistem do que corrigi-los, suportando-os com firmeza e suavidade... Consideremos como nossos filhos aqueles sobre os quais exercemos certo poder. Coloquemo-nos a seu serviço, assim como Jesus, que veio para obedecer e não para dar ordens; envergonhemo-nos de tudo o que nos possa dar aparência de dominadores; e se algum domínio exercemos sobre eles, é para melhor servirmos... Assim procedia Jesus com seus apóstolos; tolerava-os na sua ignorância e rudeza, e até mesmo na sua pouca fidelidade. A afeição e a familiaridade com que tratava os pecadores eram tais que em alguns causava espanto, em outros escândalo, mas em muitos infundia a esperança de receber o perdão de Deus. Por isso nos ordenou que aprendêssemos dele a ser mansos e humildes de coração” (das cartas de Dom Bosco).
Querido irmão Gaudêncio, dentro de instantes receberás o Sacramento da Ordem e a força do Espírito Santo para exerceres este ministério com o amor e a misericórdia de nosso divino e adorável Bom Pastor. Não tenhas medo. A Mãe de Deus e nossa, a Auxiliadora, juntamente com os santos e santos que invocaremos na ladainha te acompanharão a vida inteira. E para manifestar-te nossa solidariedade fraterna e a certeza de nossa oração vamos repetir contigo o teu lema sacerdotal: “Sei em quem coloquei a minha confiança” ( 2Tm2,4). O que se seguirá em tua vida, a partir de hoje, será amadurecimento e colheita de tua entrega definitiva, amorosa, confiante e fiel nas mãos do Senhor. E serás um índio Desano presbítero feliz na vida e missão neste chão!
São Gabriel da Cachoeira, 09 de fevereiro de 2014
+ Edson Tasquetto Damian, bispo de São Gabriel da Cachoeira (AM).
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