sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Papa Francisco conversa com dois irmãos argentinos que fugiram para a Suécia no tempo da ditadura militar

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Cidade do Vaticano (RV) - O Papa Francisco recebeu na tarde de quarta-feira, 12 de fevereiro, na Casa Santa Marta, dois irmãos argentinos, Carlos e Rodolfo, que fugiram para a Suécia, em 1970, como refugiados políticos durante a ditadura militar. O encontro durou quase uma hora.

A conversa começou com as recordações do Papa Francisco que conheceu a esposa já falecida de um dos dois irmãos. Naquela época, Jorge Mario Bergoglio trabalhava num laboratório de química. 

Em seguida, o Santo Padre lembrou sua amizade com um Pastor Luterano, Anders Gutt, grande homem com o qual partilhou, em Buenos Aires, a cátedra de Teologia Espiritual. "Éramos um jesuíta e um luterano e nos entendíamos muito bem", disse o pontífice. O Pastor Gutt ensinava a espiritualidade da reforma e Pe. Bergoglio a espiritualidade católica. 

"O mundo deve ser mais solidário com os refugiados. Alguns países fecham suas fronteiras e isso não é bom", disse o Papa Francisco aos dois irmãos. O Santo Padre elogiou o acolhimento da Suécia que abriu as fronteiras para os imigrantes, integrando-os na própria sociedade.

"Os refugiados hoje são muitos e ninguém os quer. São como um 'palavrão'. Talvez a mensagem seja que a salvação de um povo se encontra no ser irmãos daqueles que estão sofrendo o exílio de sua pátria. Nós, em nossa fé cristã, sabemos que Jesus foi um refugiado quando era criança. É uma das primeiras mensagens do Evangelho. Jesus um refugiado e não um turista. Ele não fugiu por motivos de trabalho, mas fugiu da morte, como um refugiado", disse o Papa Francisco.

O Santo Padre respondeu a uma pergunta sobre os muitos imigrantes que chegam a Lampedusa, sul da Itália, e sobre o papel da comunidade internacional. 

"A globalização da indiferença nos leva a dizer: Chegam os refugiados. Que outros cuidem disso! Em Lampedusa o povo sentiu a necessidade de acolhê-los. E acolhem. O povo de Lampedusa junto com a prefeita, que é uma mulher forte e corajosa, entendeu que sua missão é acolher", disse ainda o pontífice.

O Papa acrescentou que em Lampedusa está sendo feito um bom trabalho, embora não tenha espaço para acolher todos os imigrantes que desembarcam na ilha. 

No que diz respeito a outros países europeus, Francisco disse que muitas vezes os refugiados não são bem acolhidos e correm o risco de ficarem pelas estradas, roubando ou se prostituindo. 

O Santo Padre recordou o trabalho dos Jesuítas com a intuição de Pe. Pedro Arrupe de fundar o Serviço Jesuíta para Refugiados e disse que tudo isso não é suficiente, é uma pequena gota no oceano. O Santo Padre falou sobre o encontro promovido em dezembro passado pela Pontifícia Academia das Ciências sobre o tema do trabalho escravo, afirmando que proximamente será feito outro encontro sobre as organizações de trabalho. O Papa reiterou a necessidade de reconstruir a consciência do ser humano contra a globalização da indiferença.

Por fim, o Papa recordou os quatro milhões de imigrantes na Argentina, dentre os quais os paraguaios e bolivianos são a maioria, e falou sobre o papel das mulheres paraguaias:

"Para mim, a mulher paraguaia é a mais heróica da América. Depois da guerra, a cada dez pessoas, oito eram mulheres. Essas mulheres escolheram ter filhos para salvar a pátria, a língua, a cultura e a fé. Desejo que um dia o Comitê do Prêmio Nobel dê o prêmio à mulher paraguaia por salvar a cultura, a pátria. Ela foi heróica." (MJ)

Rádio Vaticano

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