Os setores conservadores da sociedade sempre pedem mais polícia, mais repressão.
Brasil reduziu as desigualdades, mas a violência permanece. (Foto: Arquivo) |
Por Emir Sader*
A América Latina - e o Brasil dentro dela - tem sido o continente que mais diminui a desigualdade, a pobreza e a miséria, melhorando consideravelmente a situação social do continente mais desigual do mundo. Porém, isso não tem levado à diminuição da violência, demonstrando que, embora o vínculo entre os dois planos seja real, sua relação não é mecânica.
O Brasil tem conseguido, pela primeira vez, promover os direitos sociais da grande massa pobre da população. Porém, essa melhoria, aqui também, não tem sido seguida por diminuição da violência.
Mas os casos não podem ser isolados da exploração da violência por setores da mídia - tanto de rádio, como de tevê e de imprensa escrita -, que não somente exacerbam os casos de violência, como promovem formas privadas e diretas de resposta. Como no caso em questão. Uma comentarista de extrema direita na TV não apenas defendeu a ação dos que a exerceram, como conclamou a que outros fizessem o mesmo e recomendou, aos defensores dos direitos humanos, que adotem esses jovens nas suas famílias.
Os setores conservadores sempre pedem mais polícia, mais repressão. Tem havido mais polícia e mais repressão, porém, isso só tem multiplicado a violência, piorado o clima nas prisões e incentivado ações como a desses jovens, de ações diretas e vingativas. Os programas de tevê e rádio, sob o pretexto de defender a população da violência, exploram os casos de maneira mórbida, no fundo exaltando os casos, dando-lhes dimensões muito maiores do que as que realmente têm. Por um lado, aparecem defendendo as condições de insegurança em que viveria a população e, por outro, contribuem para disseminar os casos e incentivam reações violentas.
As políticas sociais desenvolvidas em favelas do Rio de Janeiro têm diminuído a violência, o que pode ser comprovado empiricamente. Portanto, a disseminação dessas políticas, aliadas à repressão contra as gangues de narcotraficantes, tem sido o melhor caminho para a diminuição da violência e a incitação a ações de polícias paralelas. Em perspectiva, com a provável continuidade dessas políticas, se estão criando as condições da diminuição da violência, paralelamente à diminuição da desigualdade no Brasil.
*Emir Sader é Professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Este artigo foi publicado originalmente no El País.
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