Enquanto o planeta naufraga, os seres humanos seguem firmes e fortes rumo ao precipício.
Por Ricardo Soares*
Nas boas casas do ramo livreiro, está disponível um simpático livrinho de capa alaranjada, chamado "10 bilhões". Capa cítrica, com conteúdo mais do que crítico. Eu diria que tem um conteúdo fundamental e alarmante levantado pelo seu autor, o sintético e eficaz Stephen Emmott, que dirige o departamento de pesquisas em ciências da computação da Microsoft.
Há 200 anos, havia nesse conturbado planeta azul, um bilhão de seres humanos. Nesse ritmo de crescimento no final do século presente, estaremos chegando aos fatídicos 10 bilhões que dão título ao livrinho. Essa profusão de seres humanos (na maioria predadores e consumistas) representa uma tragédia iminente de proporções irreversíveis, se nada for feito. E, convenhamos, apesar de certo otimismo, pouco ou nada tem sido feito.
Só para dar um exemplo singelo e brasileiro: na questão das divergências entre ruralistas e ambientalistas acerca do nosso Código Florestal, o atraso dá o tom, já que os proprietários continuam com o mesmo raciocínio das capitanias hereditárias, de que todos estão querendo expropriá-los quando, na verdade, o que se quer é preservar o meio ambiente. Inclusive para os descendentes dessa malta de aproveitadores. Mas a estreiteza mental não permite que se enxergue, sobretudo se levarmos em conta que o pensamento vivo ( ou morto) dessa gente se materializa no ideário injustificável de ódio e intolerância da musa da motosserra, a senadora Kátia Abreu. Há 500 anos, que esse povo pensa da mesma maneira como se pudessem levar para as suas tumbas toda a terra pseudo produtiva que acumulam e devastam. São os toscos faraós do agronegócio.
Por causa dessa gente ignara e mesquinha é que nosso planeta vai bater no teto dos 10 bilhões de habitantes com uma perspectiva assustadora apontada pelo Emmott. Gente que se esquece que todos os dias quando nos levantamos estamos a habitar um lar de milhões de espécies. Somos apenas mais uma. Mas é a triste espécie que domina o planeta e a essa altura tenho mais do que certeza que tudo seria melhor se fossemos governados por golfinhos.
A emergência planetária sem precedentes criada pelo aumento ininterrupto da população foi causada pela nossa “inteligência”, nossa “criatividade” e nossas ações, todas concentradas numa economia global de mercado onde o “consumo logo existo” é o slogan que domina corações e mentes. Mais do que certo que isso não deu certo. Mas a gente segue firme e forte rumo ao precipício. Com sorrisos nos rostos, edulcorando grandes coquetéis industriais, comerciais e imobiliários que patrocinam as devastações multiplas. Enquanto o planeta naufraga, comemoramos e rimos como hienas. Não vamos acordar. E, quando isso acontecer, temo que será tarde como tristemente aponta o livrinho "10 bilhões".
*Ricardo Soares é diretor de TV, escritor , roteirista e jornalista. Titular do blog Todo Prosa (www.todoprosa.blogspot.com) e autor , entre outros, dos livros Cinevertigem, Valentão e Falta de Ar. Atualmente diretor de Conteúdo e programação da EBC- Empresa Brasil de Comunicação.
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