quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Francisco e Luciano: coração falando ao coração!


Padre Geovane Saraiva*
Sabemos que Israel é o povo da promessa, o qual se transformou no novo povo de Deus, na inefável ocasião em que a jovem Maria Nazaré deu sua resposta ao Anjo Gabriel, no impossível que se tornou possível: “faça-se em mim segunda a tua palavra” (Lc 1, 38). Foi Deus inaugurando novos tempos, quando abriu o coração da pessoa humana para se estabelecer e nele fazer sua eterna morada.

A festa da Anunciação do Senhor (25 de março) faz-me recordar a figura ímpar de Dom Luciano Mendes de Almeida, um Jesuíta que só soube fazer o bem. Por ele Deus foi louvado, amado e glorificado, uma vez que o amor nele cresceu e se fez dom, vivendo não para si, mas para os empobrecidos. Se vivo fosse, com absoluta certeza, dois filhos de Inácio de Loyola se encontrariam numa só voz: Cor ad cor loquitur  - o coração de Dom Luciano falando ao coração do Papa Francisco, ao dizer: “O Senhor caminha conosco para amaciar o nosso coração (...)”.

Dom Luciano Mendes de Almeida, grande homem de Deus, no qual o humanismo transbordou e por muitos anos como bispo auxiliar de São Paulo, Secretário Geral e Presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, por dois mandatos consecutivos, Arcebispo de Mariana–MG deixou este mundo no dia 27 de agosto de 2006, coincidentemente, na festa de Santa Mônica, a mãe forte, na sua resistência, lágrimas e orações, conseguindo a conversão do filho Agostinho, um dos maiores Santos da Igreja Católica e da própria humanidade, e no sétimo aniversário de morte de Dom Helder Pessoa Câmara, o homem dos grandes sonhos e utopias; cidadão planetário, talhado para as coisas mais elevadas.

Ele, uma preciosidade, com o seu modo santo de viver, tinha o céu ao seu redor. Mas mesmo assim ele queria ver o céu. Um dia ele decidiu: “Há um tempo queria muito ver o céu, saber como é lá. Um dia subi no céu. Não pensei que fosse tão bonito assim, fiquei contente com tanta música, pessoas dançando na presença de Deus. Mas, de repente, percebi que eu estava escondido atrás de uma árvore. Descobri que o céu é ver os outros felizes”, tendo a eucaristia como o pão do céu, ao dizer com veemência: “A Eucaristia é mensagem de comunhão fraterna, não só enquanto nos ajuda a vencer o egoísmo e partilhar o pão e também quando elimina o rancor e o dinamismo de vingança, mas enquanto consegue superar mágoas e ressentimentos e aproximar os distantes (…)” (Congresso Eucarístico de Florianópolis).

Dom Luciano, subindo ao céu, optou em primeiro lugar pela vida, em especial a vida dos empobrecidos e indefesos, na sua seguinte assertiva: “Não foi Deus que criou a fome e miséria, foi a maldade humana”. Que seu testemunho nos encoraje e nos estimule na nossa escola dos seguidores de Jesus de Nazaré, no sentido de edificar o céu já aqui na terra, no Emanuel, o Deus conosco, ao afirmar quando entrou no mundo, “Eis-me aqui, ó pai, para fazer a tua vontade”. Assim seja!

*Escritor, blogueiro, colunista, vice-presidente da Previdência Sacerdotal e Pároco de Santo Afonso, Parquelândia, Fortaleza-CE – geovanesaraiva@gmail.com

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