terça-feira, 18 de março de 2014

Maastricht, a capital da arte por 11 dias

Com padrões de qualidade altamente exclusivos, feira francesa reúne 30 mil objetos de arte.

Por Lev Chaim*

Imaginem um encontro cara a cara com a pintura a óleo do mais famoso aluno de Rubens, o também cidadão de Antuérpia, Anthony van Dyck, "Venus e Adônis": duas figuras esplêndidas, com mantos de cetim colorido tapando a nudez musculosa de Adônis, em plena conquista de sua quase desnuda Vênus.

O contraste com os detalhes mais escuros da tela ressalta enfaticamente a luminosidade luxuriante das figuras ali expostas, num manjar de músculos e feminilidade. E pensar que essa tela, pintada por volta de 1620 e já exposta em diversos museus do mundo, esteja agora à venda pela estonteante fortuna de 6,5 milhões de euros. Dá para imaginar? 

Ou mesmo se deparar, mais à frente, com a tela de um dos mais comentados artistas contemporâneos, Damien Hirst, “The Black Sheep with Golden Horns” (A ovelha negra com chifres de ouro), de 2009, à venda pela “bagatela” de 2,7 milhões de euros. Estou louco ou o mundo que perdeu a noção de dinheiro?

E se não estiver contente com isto, você pode se deliciar com a delicadeza e o furor causados pelos tamancos de madeira do pintor Gauguin, o grande amigo de Van Gogh, esculpidos à mão em 1890, no vilarejo francês Port-Aven, e usados pelo pintor antes de sua primeira viagem ao Taiti. Preço de venda não revelado.

Sentiu-se conquistado por toda esta luxúria milionária, expostas ao tintilar dos copos de champanhe e estourar de rolhas?

Mas não é só isto. Estão ali também jóias finas (inclusive de rainhas) e relíquias de um mobiliário antigo, autêntico, rodeadas por obras de grandes nomes como Salvador Dalí, Vincent Van Gogh, Rembrandt, Paul Signac, Andy Wharol, Henri Matisse, Picasso etc.

Tudo isto e mais uma travessa de porcelana chinesa do período de Yuan, de 1279-1368, orçada em 16 milhões de euros, estão agora a venda na feira de Maastricht, ao sul da Holanda: The European Fine Art Fair (A feira europeia de arte fina), mais conhecida pelos “peritos” pela simples sigla: Tefaf.

Trata-se da vigésima sétima edição da maior, a mais chique, a mais exclusiva e a mais disputada feira de arte em todo o mundo – a Tefaf -, aberta no último final de semana em Maastricht. Paga-se 55 euros pela entrada ou são convidados dos expositores. Ela estará aberta até o dia 23 de março.

Imaginem vocês um enorme pavilhão com cerca de 275 expositores de 20 diferentes países, com um total de 30 mil objetos de artes e antiguidade, que fornece ao visitante ou comprador uma história completa da arte, desde os velhos gregos até os designs modernos, cobertos por um seguro total que atinge a astronômica soma de 2 bilhões de euros.

Para estarem ali expostos, aqueles 30 mil objetos foram examinados por diversas comissões para verificarem sua autenticidade, conservação e valor artístico, numa verdadeira operação militar. Segundo os peritos em arte, trata-se da feira com os padrões de qualidade mais exclusivos do mundo.

Não é qualquer coisa que pode ser exposta ali. Muitas obras penduradas pelos expositores, antes da abertura oficial, foram retiradas pela comissão do júri porque não preenchiam os altos critérios da banca examinadora da feira.

As obras recusadas foram para um recinto que recebeu o sutil nome em francês de “Le Salon des Refusés” ( o Salão dos Recusados). Na verdade, este assunto é tabu na boca dos galeristas, que nunca admitem terem tido alguma de suas obras recusadas e detidas naquele pavilhão da feira, fechado ao público.

Por causa desse critério rigoroso de seleção é que o jornal norte-americano, The New York Times, há um ano atrás, escreveu que o futuro do mercado de arte estaria nas mostras do tipo Tefaf. Nem mesmo as casas de leilões famosas como Sotheby’s e Christie’s superam a Tefaf em venda, afirmam o peritos.

Durante toda a semana, jatinhos descem e decolam do aeroporto de Maastricht para visitar o evento. Desde a sua inauguração neste último final de semana já está previsto um recorde de vendas em milhões e milhões de euros, quase inadmissível nos tempos de hoje: cifras de deixar qualquer um boquiaberto.

A “boa nova” já se espalhou: o mercado de arte fina saiu da recessão. Os potenciais compradores, milionários e bilionários de todos os tipos, vêm de todo o mundo, mas são os novos-ricos chineses que mais prometem fazer furor nesta vigésima sétima edição da Tefaf – The European Fine Art Fair de Maastricht.
*Lev Chaim é jornalista, colunista, publicista da FalaBrasil e trabalhou 20 anos para a Radio Internacional da Holanda, país onde mora até hoje. Ele escreve todas as terças-feiras para o Dom Total.

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