quarta-feira, 19 de março de 2014

Um ano com papa Francisco

Um ano já se passou desde quando um cardeal argentino foi eleito bispo de Roma. Ainda não podemos nos dar conta de como e porque os cardeais reunidos em conclave escolheram este homem para ser o sucessor de um outro papa, que deu as demissões. Pessoalmente, acho que a renúncia de Bento XVI forçou a Cúria romana e a Igreja Católica a colocar em pauta assuntos teológicos/eclesiais que tinham ficado de escanteio ou silenciados, fechando as páginas do Concílio Vaticano II, ou problemas escondidos durantes os 30 anos do pontificado de João Paulo II e de Bento XVI.
É difícil avaliar o significado deste primeiro ano de papado de Francisco, também porque podemos ver o que está sendo dito e feito, mas é impossível prever se tudo isto dará uma guinada real na direção da Igreja para os próximos 30 anos ou se, mais uma vez, as forças reacionárias e conservadoras terão a capacidade de trancar novamente as portas e janelas ao vento do Espírito que permitiu esta conjuntura eclesial que eu chamo de Kairos. É um momento forte da história em que Deus quer dizer algo para a Igreja de Cristo e para a sua missão evangelizadora no mundo de hoje.
A respeito dos temas “esquecidos” ou eliminados do dicionário eclesiástico, eu citaria alguns que foram recolocados em pauta pelo papa Francisco:
- a sacramentalidade do pobre: o pobre é sacramento de Jesus, não porque é santo, mas porque é pobre, roubado da sua consciência e da sua dignidade, e por isso, é presença de Jesus no irmão sofredor;
- a postura que a Igreja e seus membros devem assumir em relação aos bens materiais, e a crítica clara e aberta ao sistema neocapitalista;
- a reafirmação que a Teologia da Libertação merece todo respeito e que é esta Teologia que recolocou na Igreja a necessidade de envolver a teologia com a vida do povo e do seu sofrimento: colocou portanto de maneira forte o problema da encarnação da nossa fé na vida e na política;
- é interessante que, para discutir o problema da fome no mundo, convidou em Roma Pedro Stedile, um dos maiores representantes do MST; - no seu documento “Evangelii Gaudium” retoma a reflexão sobre a posição e função da mulher dentro da Igreja e faz uma distinção muito bonita entre a dignidade ontológica do sacerdócio, que é dada a todos pelo batismo (Sacerdócio comum dos fieis), e a função ministerial (portanto de serviço e não de dignidade) que o padre tem na Igreja.
A tudo isso, poderíamos acrescentar a mudança da direção do banco do Vaticano, a eleição a cardeal de bispos de periferia e não de bispos de cidades importante, a formação de uma equipe para a reforma da Cúria romana.... e todos os gestos (inclusive durante a JMJ) que foram feitos pelo papa ao longo deste ano, tão cheio de novidades.
Estes são somente alguns exemplos de como a gente sente que, dentro da própria Igreja, está se respirando um novo ar e a esperança com E maiúsculo voltou a ser de casa entre todos que desejam uma Igreja mais encarnada, mais fiel ao seguimento de Jesus, uma Igreja samaritana e sempre aberta à conversão.
Parabéns papa Francisco!
Luis Sartorel
psartorel@uol.com.br 
Padre e professor da Faculdade Católica de Fortaleza

Nenhum comentário:

Postar um comentário