Um ano já se passou desde quando um cardeal argentino foi eleito bispo de Roma. Ainda não podemos nos dar conta de como e porque os cardeais reunidos em conclave escolheram este homem para ser o sucessor de um outro papa, que deu as demissões. Pessoalmente, acho que a renúncia de Bento XVI forçou a Cúria romana e a Igreja Católica a colocar em pauta assuntos teológicos/eclesiais que tinham ficado de escanteio ou silenciados, fechando as páginas do Concílio Vaticano II, ou problemas escondidos durantes os 30 anos do pontificado de João Paulo II e de Bento XVI.
É difícil avaliar o significado deste primeiro ano de papado de Francisco, também porque podemos ver o que está sendo dito e feito, mas é impossível prever se tudo isto dará uma guinada real na direção da Igreja para os próximos 30 anos ou se, mais uma vez, as forças reacionárias e conservadoras terão a capacidade de trancar novamente as portas e janelas ao vento do Espírito que permitiu esta conjuntura eclesial que eu chamo de Kairos. É um momento forte da história em que Deus quer dizer algo para a Igreja de Cristo e para a sua missão evangelizadora no mundo de hoje.
A respeito dos temas “esquecidos” ou eliminados do dicionário eclesiástico, eu citaria alguns que foram recolocados em pauta pelo papa Francisco:
- a sacramentalidade do pobre: o pobre é sacramento de Jesus, não porque é santo, mas porque é pobre, roubado da sua consciência e da sua dignidade, e por isso, é presença de Jesus no irmão sofredor;
- a postura que a Igreja e seus membros devem assumir em relação aos bens materiais, e a crítica clara e aberta ao sistema neocapitalista;
- a reafirmação que a Teologia da Libertação merece todo respeito e que é esta Teologia que recolocou na Igreja a necessidade de envolver a teologia com a vida do povo e do seu sofrimento: colocou portanto de maneira forte o problema da encarnação da nossa fé na vida e na política;
- é interessante que, para discutir o problema da fome no mundo, convidou em Roma Pedro Stedile, um dos maiores representantes do MST; - no seu documento “Evangelii Gaudium” retoma a reflexão sobre a posição e função da mulher dentro da Igreja e faz uma distinção muito bonita entre a dignidade ontológica do sacerdócio, que é dada a todos pelo batismo (Sacerdócio comum dos fieis), e a função ministerial (portanto de serviço e não de dignidade) que o padre tem na Igreja.
A tudo isso, poderíamos acrescentar a mudança da direção do banco do Vaticano, a eleição a cardeal de bispos de periferia e não de bispos de cidades importante, a formação de uma equipe para a reforma da Cúria romana.... e todos os gestos (inclusive durante a JMJ) que foram feitos pelo papa ao longo deste ano, tão cheio de novidades.
Estes são somente alguns exemplos de como a gente sente que, dentro da própria Igreja, está se respirando um novo ar e a esperança com E maiúsculo voltou a ser de casa entre todos que desejam uma Igreja mais encarnada, mais fiel ao seguimento de Jesus, uma Igreja samaritana e sempre aberta à conversão.
Parabéns papa Francisco!
Luis Sartorel
psartorel@uol.com.br
Padre e professor da Faculdade Católica de Fortaleza
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