quinta-feira, 24 de abril de 2014

Bento XVI lembra João Paulo II como 'santo'

Em entrevista publicada em livro, papa emérito fala da relação com seu antecessor.
Cidade do Vaticano – O papa emérito Bento XVI concedeu a sua primeira entrevista após ter renunciado ao pontificado, em fevereiro de 2013, para recordar o seu predecessor, João Paulo II que vai ser canonizado no domingo. Bento XVI recorda ter dito ao papa polonês que tinha de “descansar”, ao que este lhe respondia que o podia fazer “no céu”, para sublinhar a necessidade de entender a vida de Karol Wojtyla (1920-2005) “a partir da sua relação com Deus”. "Tornou-se para mim cada vez mais claro que João Paulo II era um santo", revelou o papa emérito. 

Foi Bento XVI o responsável pela beatificação de seu predecessor, a 1 de maio de 2011, após ter dispensado o período canônico de cinco anos de espera após a morte para iniciar o processo de canonização. 

A entrevista foi publicada num livro intitulado "Ao lado de João Paulo II" (Edições Ares), por ocasião da cerimônia de canonização, marcada para o Vaticano. “Só a partir da sua relação com Deus é possível perceber o seu incansável empenho pastoral. Deu-se com uma radicalidade que não pode ser explicada de outra forma”, referiu-se o papa emérito. 

Bento XVI, enquanto cardeal, foi um dos mais diretos colaboradores do papa polonês, ao longo de mais de duas décadas, enquanto prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, acabando por ser eleito como seu sucessor, em abril de 2005. “Percebi de imediato o fascínio humano que dele emanava e como rezava, compreendi como estava profundamente a Deus”, recordou o papa emérito. 

Joseph Ratzinger diz que a colaboração com João Paulo II foi sempre marcada pela “amizade e afeto”, lembrando os desafios levantados pela ‘Teologia da Libertação’, na América Latina, por exemplo. “A fé cristã era usada como motor para este movimento revolucionário, transformando-a assim numa força de tipo político”, precisou.

Bento XVI destaca ainda os desafios levantados pela necessidade de promover uma “correta compreensão” do ecumenismo, do diálogo inter-religioso e da relação entre Igreja e Ciência. Na última parte da entrevista, o papa emérito coloca em relevo a sua relação de proximidade com o futuro santo. “Muitas vezes teria tido motivos suficientes para culpar-me ou pôr fim à minha missão de prefeito, mas apoiou-me sempre com uma fidelidade e uma bondade inexplicáveis”, lembrou.

Bento XVI destaca, a este respeito, a declaração "Dominus Jesus", sobre a unicidade e a universalidade salvífica de Jesus Cristo e da Igreja, que provocou um “turbilhão de reações” e mereceu uma defesa “incondicional” de João Paulo II. 

O papa emérito destaca que nunca teve intenção de “imitar” o seu predecessor, mas diz que procurou “levar por diante a sua missão e a sua herança”. “Estou certo de que ainda hoje a sua bondade me acompanha e a sua bênção me protege”, concluiu.
SIR

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