domingo, 6 de abril de 2014

Emoções da Copa, um perigo para o coração

Chegamos ao ponto. Tanta emoção pode ser um risco para sua saúde.

Por Américo Tângari Jr.*
Neymar avança em velocidade numa troca de passes espetacular com Oscar e Bernard, é lançado dentro da área, dribla o goleiro e toca para o fundo das redes. É gol, a torcida brasileira vai à loucura: Brasil 1 a 0, hexacampeão do mundo. O planeta se rende mais uma vez aos mágicos brasileiros.


Difícil segurar a emoção. E olha que essa sensação veio crescendo ao longo da competição até chegar a esta final contra o timaço argentino, com Messi e tudo. Alegria dobrada, pelo título e por deixar os hermanos na vice humilhante.

Essa é uma possibilidade. A outra:

Neymar avança em velocidade numa troca de passes espetacular com Oscar e Bernard, é lançado dentro da área, dribla o goleiro e chuta... para fora. Último segundo, o juiz apita o fim do jogo: Argentina 1 a 0, tricampeã do mundo. Uma imensa tristeza se abate sobre a torcida brasileira. É a repetição do humilhante Maracanazo de 1950. 

Bem, a final pode ser contra a Argentina, ou Espanha, ou França, não importa o adversário se o Brasil chegar lá. Final de Copa do Mundo exige da torcida concentração, muito sangue frio, mas também muita reza brava, ramo de arruda, trabalho de encruzilhada, novenas e alguns goles para acalmar e esperar a hora.

Ainda assim, é angustiante. E quando a bola começa a rolar, a palpitação dispara, a cada lance perigoso o torcedor dá um pulo, grita. Fora o juiz, aquele... Se não sai gol logo, a expectativa é de matar.

Chegamos ao ponto. Tanta emoção pode ser um risco para sua saúde. Se seu coração não estiver em ótimas condições, bem calibrado, melhor prevenir. Aproveite esse período antes da Copa para prepará-lo com todo o cuidado. Infelizmente, muitos torcedores brasileiros e de outros países já morreram de enfarte diante de uma televisão torcendo pela seleção de seu país.

Copa do Mundo é apaixonante e atrai até mulheres que normalmente não gostam de futebol. Vira comoção nacional, época em que o Brasil é plenamente democrático, todas as classes se confraternizam de verde-amarelo e o patriotismo aflora no coração de todos. Mesmo as pessoas que acham um erro o Brasil patrocinar a Copa - em vez de investir em saúde, educação, transporte, moradia, infraestrutura, tudo o que move os protestos de rua -, talvez não desgrudem os olhos da tevê durante os jogos do Brasil.

O coração é sensível às fortes emoções. Se assim é, procure já um médico e faça os exames necessários, não apenas pela Copa, mas para o resto de sua vida. E saiba que prevenção é o melhor de todos os remédios. Muitas pessoas nem sabem se têm algum problema cardíaco, pois nunca sentiram nada. Cuidado, aí mora o perigo.

Para quem não pratica nenhuma atividade, ou o faz esporadicamente, o cuidado deve ser redobrado. Afinal, as doenças cardiovasculares são responsáveis por mais de 30% das mortes no Brasil, entre elas AVC`s, hipertensão, ataque cardíaco, aterosclerose e outras.

A maioria resulta de um estilo de vida inapropriado; entre os principais fatores que ocasionam estas doenças estão má alimentação, tabagismo, álcool, sedentarismo, obesidade, além do estresse do dia-a-dia. Convém ficar atento aos sintomas que se manifestam em quase todas as doenças do coração ou que podem indicar algum tipo de comprometimento cardíaco:

-- falta de ar ao repouso ou ao esforço; dor no peito em virtude de má circulação sanguínea no local; cansaço fácil; desmaio após atividade física intensa; palpitações ou taquicardia; tosse seca persistente; pressão alta; cor azulada nas pontas dos dedos ou unhas; tonturas; varizes; má circulação nas pernas; impotência sexual; inchaço nos tornozelos.

Alguns sintomas podem ser confundidos com um simples mal-estar, como sudorese, tremores e falta de ar. São manifestações que o organismo também utiliza como sinal de princípio de infarto agudo do miocárdio.

O maior pecado é o desleixo com a prevenção. Por exemplo, ignorar os  exames periódicos, como o de sangue e o eletrocardiograma, que permitem ao clínico avaliar os fatores de risco e o histórico de cada pessoa. Como um automóvel, o motor humano, depois de muita quilometragem, carece de prevenção e revisão.

E vem esta Copa do Mundo, emocionante por si só. Imagine se a pancadaria voltar a comer solta no entorno dos estádios e você estiver ali por perto. Haja coração. 

Por isso, previna-se, para o bem ou para o mal. O impacto na saúde será o mesmo na explosão de alegria pela vitória ou na grande decepção pela derrota. É como o choque térmico: pouco importa sair do quente para o gelado ou vice-versa.

O perigo espreita, pela Copa e pelos tormentos de nosso dia-a-dia, como os congestionamentos enervantes ou a violência assustadora. Além dos transtornos e dos aborrecimentos que todos temos. 

Mas o que importa mesmo é viver. 
GT Marketing e Comunicação
*Américo Tângari Junior é especialista em cardiologia pela Sociedade Brasileira de Cardiologia e Associação Médica Brasileira. Integra a equipe de Cardiologia no Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo.

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