O longa estreou no Festival de Berlim, em fevereiro passado e ganhou dois prêmios.
Por Alysson Oliveira
SÃO PAULO (Reuters) - Leo (Guilherme Lobo) é um adolescente, e, como tal, está descobrindo o mundo e a si mesmo. O fato de ser cego poderia ser uma complicação, mas com isso ele já está acostumado, lidando bastante bem com suas limitações.
Sua melhor amiga é Giovana (Tess Amorim), com quem convive há anos e o ajuda em qualquer dificuldade. Mas a chegada de um novo garoto na escola, Gabriel (Fabio Audi), muda tudo na vida dos dois - especialmente os sentimentos.
"Hoje Eu Quero Voltar Sozinho" faz uma crônica da dinâmica entre esses três jovens em busca de seu lugar no mundo e a compreensão de seus sentimentos. Escrito e dirigido por Daniel Ribeiro, o longa parte de seu curta "Eu Não Quero Voltar Sozinho" (que está disponível na Internet), premiado em diversos festivais, entre eles Paulínia, Mix Brasil e Aruanda.
Já o longa estreou no Festival de Berlim, em fevereiro passado, de onde saiu com o Fipresci (Prêmio da Crítica Internacional) e o Teddy Bear (que premia filmes com temática ou personagens GLBT).
O roteiro traça uma observação profunda e delicada do processo de amadurecimento desses jovens, acompanhando-os em suas dores e alegrias de ser o que são. As vidas de Leo e Giovana mudam com a chegada de Gabriel, abalando suas certezas e expectativas.
No fundo, esse é um filme de encontro, em que cada um dos jovens se encontram consigo mesmos para só então poderem cogitar se entregar a outras pessoas.
Ribeiro tem um olhar perspicaz - especialmente dentro do ambiente escolar, onde constrói personagens extremamente críveis, gente de carne e osso e não meras marionetes com função narrativa dentro do filme.
Na casa de Leo, há a mãe (Laura Romano), que alguns rapidamente chamariam de superprotetora, o pai (Eucir de Souza), que tenta respeitar a individualidade do filho, e também a avó (Selma Egrei), a confidente de Leo. Esses personagens só contribuem à gama de verdade que está impressa no filme.
Há um amadurecimento do curta para o longa - não apenas na expansão da narrativa e dos temas, como personagens e até mesmo a direção. Ribeiro tem segurança na condução das cenas e caminha confortável no limite entre o emotivo e o piegas, sem nunca pender para o segundo. Mas quem mais amadurece é o trio de atores centrais - não apenas estão maiores fisicamente, como mais conhecedores de seus personagens.
"Hoje Eu Quero Voltar Sozinho" é um caso raro no cinema brasileiro - seja por sua temática ou sua abordagem intimista. A descoberta da sexualidade e de si mesmo na adolescência é algo tão complexo como fácil de cair nos clichês.
Entretanto, o diretor evita as armadilhas, deixando que os personagens mostrem suas histórias, em vez de que elas sejam contadas. Assim, faz um filme complexo em sua essência e simples em sua forma - uma equação que poucos diretores conseguem resolver de forma tão eficiente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário