'A pior situação é viver em pecado', se limita a recitar o padre Roman, do leste da Ucrânia.
Um homem em uniforme camuflado deixa a Igreja do Espírito Santo, faz o sinal da cruz e esconde o rosto em Slaviansk, cidade do leste da Ucrânia controlada por insurgentes pró-russos, para o descontentamento dos habitantes, que celebram a Páscoa Ortodoxa sob forte tensão.
"A pior situação é viver em pecado", se limita a recitar o padre Roman, recusando-se a comentar sobre o que acontece há quase uma semana em sua cidade.
O patriarca ortodoxo de Kiev, Filaret, em uma mensagem por ocasião da Páscoa, afirmou que o "inimigo" russo que cometeu uma "agressão" contra a Ucrânia está condenado ao fracasso.
"O país que nos havia garantido a integridade territorial cometeu uma agressão. Deus não pode estar do lado do mal, de modo que o inimigo do povo ucraniano está destinado ao fracasso", declarou Filaret.
Por sua vez, o patriarca da Igreja ortodoxa russa, Cirilo, pediu neste sábado na Catedral de Cristo Salvador, em Moscou, que os fiéis rezassem para que nada possa "destruir a Santa Rússia", durante uma missa na véspera da Páscoa.
Em Slaviansk, com uma cruz de ouro em sua mão, o sacerdote abençoa abundantemente com água benta os fiéis reunidos.
Do outro lado da imensa praça onde a igreja está localizada, vários "voluntários" em uniformes sem distintivos, alguns com rifles Kalashnikov, conversam em frente à prefeitura.
Dois adolescentes tiram fotos, aproveitando esta espécie de trégua pascal, apesar da forte tensão.
"Nós entramos na fase mais radical (...) exigimos a criação de uma federação (na Ucrânia), ou então faremos como na Crimeia", que se anexou em março à Rússia, advertiu Anatoli Khmelevoi, líder local dos Partido Comunista.
"No momento, tudo está calmo, mas eles (os soldados ucranianos) podem atacar. Não devemos baixar a guarda", explica Volodymyr, de 43 anos, perto de uma barricada erguida para impedir o acesso a principal delegacia de polícia de Slaviansk.
Quatro veículos repletos de bandeiras russas desfila em uma rua vizinha, sob os gritos e aplausos dos milicianos.
Mas esses defensores de uma maior autonomia para a sua região, incluindo de uma integração à Rússia, estão longe de ser uma unanimidade entre a população.
"O exército ucraniano virá para nos libertar", diz exaltado Dima, um engenheiro de 29 anos nascido na cidade, localizada 100 km ao norte de Donetsk.
Quando? "quanto mais cedo melhor", responde sua amiga. "Estamos com medo".
Para Volodia, que trabalha em uma fábrica, "que os bombardeiem, e já", exclama apontando para os membros de um destacamento de auto-defesa.
"Somos apenas um jogo para os russos, mas a Ucrânia está unida e é indivisível", acrescenta.
Tamara, que vende garrafas de azeite produzidas usando métodos tradicionais permanece, por outro lado, de fora da agitação política.
"Tudo isso me preocupa. Me dói ver pessoas morrer. Tudo que eu quero é que vivemos juntos", diz.
"Tudo está mais caro agora, isso está ficando pior, mas a Páscoa é a Páscoa, é uma grande festa para todos", acrescenta, sorrindo.
AFP
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