quarta-feira, 30 de abril de 2014

Propaganda, consumo e destruição

Marcus Eduardo de Oliveira

A lógica do sistema produtivo que aí está é uma só: é preciso consumir cada vez mais.

Para atender essa prédica, deve-se produzir cada vez mais. Esses dois processos – produção/consumo – em ritmo e escala cada vez mais alucinantes, exige a exploração dos recursos da natureza. Quanto mais se exploram os recursos naturais, mais escassos se fazem, aumentando consideravelmente a poluição, degenerando os ecossistemas, super aquecendo o planeta, provocando substanciais mudanças climáticas.

Com o consumo acelerado como está, “estamos” gastando uma Terra mais 40%. Em outras palavras: o planeta está sendo estressado em 40%.

Para “alimentar” essa engenhosidade chamada produção/consumo excessivos, a publicidade não mede esforços para propagar a “necessidade” de tudo se consumir, gastando para isso fortunas em divulgação de produtos, a maioria de verdadeiras suntuosidades.

Não por acaso, a publicidade mundial é o segundo maior orçamento do planeta, perdendo apenas para a indústria bélica.

É oportuno, a esse respeito, destacar uma passagem encontrada em “O Cuidado Necessário”, de Leonardo Boff (2012, p.97): “O marketing, a grande arma de sedução no capitalismo, conseguiu criar uma subjetividade coletiva que se acostumou ao consumo. Ele produziu uma cultura do consumo que virou consumismo. Nesta perspectiva, as pessoas compram e consomem coisas das quais, em grande parte, não precisam. Basta constatar que 95% do que é oferecido nos shoppings, verdadeiros templos do consumo humano, não são necessários para se viver com dignidade”.

O resultado dessa cultura massiva de consumo dinamizou o modo de produção industrialista, consumista, perdulário e poluidor, fazendo da economia eixo articulador capaz de promover a falsa noção de progresso, uma vez que transforma tudo em mercadoria e faz do acesso aos bens materiais condição paradigmática de “prosperidade”.

O resultado de tudo isso, de uma destruição ambiental “patrocinada” por um consumo perdulário e tacanho, foi evidenciado no trabalho dirigido pela Organização das Nações Unidas (ONU) entre os anos 2001 e 2005, intitulado “A Avaliação Ecossistêmica do Milênio” que constatou que dos 24 serviços ambientais essenciais para a vida, como o ar e a água limpos, regulação dos climas, o solo, os mares e oceanos, a energia etc, 15 deles se encontravam em processo de degradação acelerada.

Cabe então indagar: quem está conduzindo essa destruição? As 500 milhões de pessoas mais ricas do mundo (7% da população) são responsáveis por 50% das emissões de gases de efeito estufa, enquanto 3,5 bilhões mais pobres (50% da população) respondem apenas por 7% das emissões, produtoras do aquecimento global, conforme artigo publicado no New Scientific, de setembro de 2009.
Marcus Eduardo de Oliveira é economista e professor de economia da FAC-FITO e do UNIFIEO, em São Paulo | prof.marcuseduardo@bol.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário