Estaria a Otan capacitada a se defender das investidas da Rússia contra a Ucrânia?
Por Lev Chaim*
Li uma coisa temerosa na imprensa holandesa, onde se fazia a seguinte pergunta: estariam os líderes da Otan propensos a se defenderem, como reza o artigo de número 5 de seu estatuto? "Se um membro da Otan estiver em perigo, todos vêm ajuda-lo" – de forma simplificada, mais ou menos isto.
Ela foi feita pelo general consultor do Instituto holandês Clingendael, Kees Homan. É claro que, como militar e consultor na área, ele não poderia levantar outra questão. A Rússia de Vladimir Putin invadiu a Crimea que era da Ucrânia e oficializou a coisa. Países vizinhos à Rússia, membros da Otan, ficaram preocupados. Homan acha extremamente preocupante e eu também.
Vamos recordar um pouquinho. A Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) foi uma aliança militar formada em 1949 pelos países ocidentais, durante a Guerra Fria, com o objetivo de conter a expansão militar e ideológica das nações do bloco socialista. E os Estados Unidos têm uma posição de destaque nesta organização. Parênteses fechado.
A União Soviética desapareceu, mas a Federação Russa está a todo vapor para marcar a sua posição no mundo, tanto militar como politicamente. Engano daqueles que enxergam a Federação Russa como um parceiro a mais e não como um rival. Isto fez com que o apoio popular no Ocidente à Otan caísse de 80% para 56%. Pensou-se (erroneamente) que ela não fosse mais necessária.
Nos últimos anos, os gastos dos países membros da Otan com a defesa só fizeram cair: no Canadá as queda foi de 7,6%, na Eslovênia 8,7%, na Itália 10,3%, na Hungria e na Espanha 11,9%. Nos últimos anos, as ações da organização, em sua quase totalidade, foram pagas pelos Estados Unidos. Não que seja favorável a mais gastos militares, mas eles são necessários para se manter democracias vivas no mundo.
Como se não bastassem, membros da Otan reduziram ainda o poder de artilharia. A Grã-Bretanha reduziu-o em 35% e seus tanques em 40%. Já a Holanda vendeu todos os seus tanques à Finlândia. E juntando-se a tudo isto, tem-se ainda a falha do inexperiente presidente Barack Obama de não ter conseguido se tornar “amigo” do presidente russo, Vladimir Putin.
De acordo com estudos da Universidade Nacional de Defesa Norte-americana, os Estados Unidos teriam perdido, em parte, o seu interesse pela Europa. “Holly shit”, diria um mais afoito - “Que enrascada”.
Enquanto isto, a Rússia só aumentou o seu orçamento militar nesta última década: o plano é um aumento de 79%. Apenas em 2013, estes investimentos chegaram a 12% do orçamento do Kremlin. É claro que muitos irão dizer que os russos necessitavam investir na defesa, para refazer as sucatas dos tempos da velha União Soviética.
Mas não se enganem. São bilhões e bilhões de euros investidos em armas e táticas militares que podem mexer um exército rapidamente para um ataque (vide fronteira da Rússia com a Ucrânia). E neste tempo todo, o que fizeram os membros da Otan? Enxugaram o seu orçamento de defesa e Obama não tem a mínima ideia de como agir com o seu colega russo.
Dentro deste contexto, repito a pergunta: estariam os países membros da Otan propensos a se defenderem, conforme reza o artigo de número 5 de seu estatuto? Ou estaria a Otan capacitada a se defender? Ao que tudo indica, não, pois Putin está agindo ao seu bel prazer, sem ligar a mínima para as ameaças verbais da Europa e dos Estados Unidos. Até parece que ele deu um xeque mate na Europa. Pelo menos é esta a impressão.
Nesse aparente desentendimento “público” entre Rússia e Ocidente, em virtude da Ucrânia, todos perdem com exceção de dois lados: o do ditador Putin, que está jogando estrategicamente muito bem, na busca de mais poder; e o lado as indústrias bélicas, que só fazem aumentar em bilhões e bilhões de euros os seus lucros.
*Lev Chaim é jornalista, colunista, publicista da FalaBrasil e trabalhou 20 anos para a Radio Internacional da Holanda, país onde mora até hoje. Ele escreve todas as terças-feiras para o Dom Total.
Nenhum comentário:
Postar um comentário