segunda-feira, 7 de abril de 2014

Qual visibilidade para a Igreja?

A Igreja não se impõe, mas se propõe, e não para mostrar a si mesma, mas para indicar Jesus.
Por Enzo Bianchi*

No início do século II, Inácio de Antioquia escrevia que é necessário se mostrar cristão, e não apenas proclamar que se é. Essas palavras sugerem aos cristãos uma coerência entre a própria fé e a própria vida, mas também que os cristãos devem ter uma visibilidade no meio dos outros homens. 

Essa visibilidade individual e coletiva (eclesial, em outras palavras, comunitária) é necessária, porque a fé não pode permanecer confinada no íntimo; o fato de ser visível é a primeira condição para o anúncio evangélico. 

No início do cristianismo, as pequenas comunidades, minoritárias em meio aos pagãos, eram minorias criativas, capazes de eloquência, apesar do contexto de hostilidade e de perseguições dos primeiros séculos. 

Atenção, porém, para não confundir a visibilidade com uma exibição programada: não se trata de se fazer ver a todos os custos. Ser visível corresponde simplesmente a renunciar à tentação de fugir dos homens, evitar de querer se esconder. 

Os cristãos não podem se esquecer das palavras de Jesus: "Vocês são a luz do mundo. Ninguém acende uma lâmpada para colocá-la debaixo de uma vasilha" (Mt 5, 14-15). Jesus exige dos discípulos uma presença visível e um testemunho transparente da sua diferença em relação ao mundo. Mas isso não autoriza, em caso algum, a buscar a admiração dos homens: "Cuidado com a prática de sua religião diante dos homens, para atrair a atenção deles" (Mt 6,1). 

Uma visibilidade, portanto, isenta ao mesmo tempo da tentação de se esconder e do desejo de se colocar na primeira fila: é um equilíbrio delicado e depende, acima de tudo, da pureza de coração dos cristãos. Mas em que consiste uma visibilidade desse tipo? Como ela não constitui um fim em si mesma, ela se expressará principalmente na ação social, no serviço da caridade declinável em formas muito diferentes, que vão do compromisso político à normalidade do cotidiano. Muitas conversões, na Igreja antiga, se deviam ao testemunho de amor recíproco entre os fiéis e a sua capacidade de serem caridosos para com todos. 

Hoje, em um tempo de grande indiferença para com o cristianismo, evitemos reagir mediante uma visibilidade midiática, construída artificialmente: a Igreja não quer mostrar a si mesma, mas ser sinal do mistério de Cristo. A Igreja não se impõe, mas se propõe, e não para mostrar a si mesma, mas para indicar Jesus Cristo.
Revista Panorama, de março de 2014
*Enzo Bianchi é monge e teólogo.

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