Putin amenizou temores de cortes de fornecimento, em caso de novas retaliações do Ocidente.
Por Natalia Zinets e Alexei Anishchuk
Kiev/Moscou - O presidente russo, Vladimir Putin, tentou nessa sexta-feira (11) amenizar os temores europeus de cortes de fornecimento de gás, depois que a União Europeia disse que ficará ao lado das novas autoridades ucranianas se o Kremlin cumprir sua ameaça de interromper o abastecimento da Ucrânia.
A Rússia, que no mês passado irritou potências ocidentais ao anexar a península da Crimeia, elevou o preço do gás que vende para a Ucrânia e informou que o governo ucraniano deve 2,2 bilhões de dólares em contas não pagas.
Isso fez ressurgir o espectro das "guerras do gás" anteriores, quando desentendimentos entre as duas ex-repúblicas soviéticas causaram problemas no abastecimento da Europa Ocidental. A repetição desse cenário poderia prejudicar a Rússia, bem como os consumidores da UE, porque as receitas do governo russo dependem das vendas de gás na Europa.
"Quero dizer mais uma vez: não temos a intenção e não pretendemos cortar o gás para a Ucrânia", disse Putin em comentários em uma reunião do Conselho Consultivo de Segurança, exibidos na TV. "Nós garantimos o cumprimento de todas as nossas obrigações para com os nossos consumidores europeus."
O impasse, iniciado após a derrubada do presidente ucraniano Viktor Yanukovich, pró-russo, depois que rejeitou a aproximação do país com a União Europeia, levou as relações da Rússia com o Ocidente ao seu momento mais preocupante desde o fim da Guerra Fria, em 1991.
Em um sinal dos esforços para acalmar os ânimos, os assessores da chefe da Política Externa da UE, Catherine Ashton, confirmaram uma reunião dela na próxima quinta-feira com a Rússia, a Ucrânia e representantes norte-americanos.
Depois que as tropas russas tomaram a Crimeia, no mês passado, dirigentes da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) vêm dizendo que Moscou está concentrando forças na fronteira com o leste da Ucrânia, região cuja população é predominantemente de língua russa, possivelmente se antecipando para ocupar mais partes do país.
O chanceler russo, Sergei Lavrov, negou nesta sexta-feira que essa seja a intenção do Kremlin. "Não podemos ter tal desejo. Ele contradiz os interesses centrais da Federação Russa. Queremos uma Ucrânia íntegra dentro de suas fronteiras atuais, mas tudo com pleno respeito às regiões", afirmou Lavrov, segundo a agência de notícias estatal RIA.
O Kremlin interveio na Crimeia depois que Yanukovich foi destituído em meados de fevereiro, após semanas de protestos sangrentos na capital. Ele foi substituído por um governo que quer estreitar os laços com o Ocidente, mas que a Rússia considera ilegítimo e acusa de discriminar a população de língua russa.
O procurador-chefe da Rússia disse nesta sexta-feira que Moscou não irá extraditar Yanukovich, a quem chamou de "presidente legítimo" da Ucrânia, para ser julgado por homicídio, acusação relacionada aos mortos nas manifestações.
Embora a tensão ainda seja grande em torno do leste da Ucrânia, onde ativistas pró-Rússia ocuparam nesta semana edifícios públicos em duas cidades, o foco do impasse entre Moscou e o Ocidente parecia estar se movendo em direção à questão controversa do gás.
Dizendo que os membros da UE estão juntos, a chanceler alemã, Angela Merkel, afirmou que os países do bloco darão uma resposta comum à carta que Putin enviou aos importadores europeus de gás, na qual apontava a perspectiva de corte de fornecimento para a Ucrânia.
"Há uma boa razão para encarar essa carta como uma oportunidade para dar uma resposta conjunta europeia", disse ela na Grécia, país que depende fortemente do gás russo. "Queremos ser bons clientes e queremos ser capazes de confiar no fornecimento russo se gás."
Reuters
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