Papa prepara encíclica em que levantará o dedo contra irresponsabilidade dos agentes econômicos.
Por Luigi Sandri
Paira o apocalipse sobre o mundo, destinado quase a ser destruído pelo homem que violou irresponsavelmente a Terra-Mãe, ou ainda existe esperança de que a sabedoria prevaleça e que o planeta possa ser salvo? Enfrentar adequadamente o problema ecológico, um dos mais dramáticos que existem hoje, é tarefa da macropolítica, a dos governos e das instituições internacionais, mas também da micropolítica, a de cada um de nós, para aquela parte infinitesimal que lhe diz respeito.
Deixando a principal responsabilidade à política e à economia, as Igrejas e as religiões também têm o dever de incentivar os seus seguidores a formar uma consciência ecológica, isto é, estar consciente de que explorar e contaminar a Terra-Mãe é mais do que um pecado, é uma escolha suicida.
É por esse motivo que a Assembleia Geral do Conselho Ecumênico de Igrejas, que ocorre em Vancouver (Canadá), em 1983, lançou o "processo conciliar de justiça, paz e salvaguarda da criação" (JPIC, na sigla em inglês). Essa tríade derivava de uma análise, dificilmente refutável, que destacava o entrelaçamento inseparável entre a ecologia e a paz na justiça.
De fato, uma das causas que mais contribui para depredar o planeta e para poluir a atmosfera é justamente a corrida armamentista, a busca de minerais para construir tais armamentos e o uso de armas. O aumento das bombas nucleares – sejam elas usadas contra a população, como os EUA decidiram em 1945, colocando o Japão de joelhos com as bombas atômicas lançadas contra Hiroshima e Nagasaki; sejam elas acionadas em um atol desabitado no Pacífico – tem consequências desastrosas para o ecossistema.
Mais uma vez, a principal causa das guerras do futuro será se agarrar ao "ouro azul", a água. Portanto, ajudar as pessoas a terem consciência ecológica não é, nem mesmo para as Igrejas, uma opção, mas é – ou deveria ser – um ponto capital do seu anúncio. E, de fato, em algumas Igrejas, o programa JPIC tornou-se proeminente do seu modo de anunciar o Evangelho.
Nesse rastro também está o papa Bergoglio, que, assumindo o nome de Francisco, quis expressar um compromisso e uma mensagem, a de "cantar as criaturas", bendizendo o Senhor "pelo Irmão Sol, Irmã Lua... e água preciosa e casta". Por isso, não surpreende que ele esteja preparando uma encíclica, dedicada justamente à ecologia.
Podemos ter certeza de que, embora o bispo de Roma irá citar, atualizando-a, a mensagem ecológica do pobrezinho de Assis, ele também levantará o dedo contra a "irresponsabilidade" daqueles que, no mundo político e econômico, ganham lucros gigantescos às custas da ecossustentabilidade da Terra-Mãe e às custas das gerações futuras, que vão se encontrar em um planeta doente e inabitável.
Uma "irresponsabilidade" que, certamente, também é de ateus ou de agnósticos, mas também de pessoas religiosas e até mesmo de cristãos, para os quais o Deus-dinheiro é muito mais importante do que o cuidado amoroso da "aiuola che ci fa tanto feroci" (do canteiro que nos faz tão ferozes), como Dante escreveu profeticamente sete séculos atrás.
Trentino, 07-04-2014.
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