segunda-feira, 5 de maio de 2014

A juventude operária do papa Francisco

 


Jovens europeus pedem que trabalho dos jovens seja central para a Igreja e a sociedade.
Por Giorgio Bernardelli
Um 1º de maio em que a atenção pelo trabalho dos jovens seja central para a Igreja e a sociedade. É o que pedem, em um documento comum, as associações europeias que seguem a GIOC (a Juventude Operária Cristã, conforme sua sigla em italiano), que nasceu em 1925, por iniciativa do sacerdote belga Joseph Cardijn. Uma postura na qual a visão do Papa Francisco sobre o tema da dignidade do trabalho (em contraposição à “cultura do descarte”) volta a ser de grande atualidade, numa Europa em que os novos “operários” também são os jovens relegados a empregos precários e com baixos salários.
“O papa Francisco – escrevem em seu documento as associações ligadas à GIOC –, muitas vezes, lembra que é preciso colocar o homem no centro e considerá-lo como uma riqueza e não como um resíduo. Em sua exortação apostólica “Evangelii Gaudium” escreveu: “Assim como o mandamento ‘não matar’ coloca um claro limite para garantir o valor da vida humana, hoje temos que dizer ‘não a uma economia da exclusão e da desigualdade’. Essa economia mata. Por esse motivo, queremos reafirmar que os jovens são uma riqueza para a Europa e não um perigo”.
O documento da coordenação europeia da GIOC não se limita a uma enumeração de princípios. Na apresentação aponta uma série de dramas, bem precisos, vividos pelos jovens, hoje, no mundo do trabalho europeu. Cita, por exemplo, os 55,1% de desemprego entre os jovens menores de 25 anos na Espanha, a praga do trabalho ilegal na Itália, o uso sistemático de contratos precários e a curto prazo na França, as quase nulas possibilidades para o trabalho feminino em Malta. São as questões que os jovens da GIOC apontam como prioridades para a Europa, que neste mês de maio se prepara para ir às urnas e eleger seus parlamentares.
Por isso, os jovens pedem “uma Europa com mais igualdade”, em que a dignidade do trabalho seja um valor independentemente das tarefas, onde “buscar um trabalho não seja a única alternativa” e onde os jovens dos países europeus não se vejam obrigados a “entrar em competição entre eles” pelo trabalho.
“Esperamos que todos aqueles que se ocupam da definição das políticas nacionais e europeias atuem em favor dos jovens”. A mensagem termina citando outra passagem da ‘Evangelii Gaudium’: “Rogo ao Senhor que nos dê políticos que sintam, de verdade, a dor da sociedade, do povo e da vida dos pobres! É imprescindível que os governantes e os poderes financeiros levantem o olhar e ampliem suas perspectivas, que procurem fazer com que haja trabalho digno, educação e saúde para todos os cidadãos”. Os jovens da GIOC acrescentam: “Esta também será nossa medida de avaliação para o voto do dia 25 de maio”.
É importante notar que por trás da sintonia entre os jovens da GIOC e as ideias do Papa há outro aspecto histórico muito interessante. Deve-se justamente ao padre Cardijn e às “revisões de vida” que propôs para seus jovens operários a origem do critério “ver-julgar-agir”, que tanta importância teve, recentemente, na história da Igreja latino-americana. Em torno deste esquema é que se articulou, por exemplo, a Assembleia do Episcopado Latino-Americano realizada, em 2007, na cidade de Aparecida. Nela, Bergoglio foi um dos protagonistas. Neste sentido, o que une a GIOC com o Papa Francisco não é apenas uma atenção geral aos jovens mais humildes, mas também um convite para analisar e enfrentar, pela raiz, as causas de temas como as desigualdades e a marginalização dos jovens no mundo do trabalho de nossos dias.
Vatican Insider, 30-04-2014.

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