terça-feira, 6 de maio de 2014

Família de SP tem mãe que deu aulas para o filho e avó professora do neto

Em Socorro, Maria Regina Sartori Dutra leciona geografia há 40 anos.
Hoje ela dá aulas para o neto, mas os três filhos também foram seus alunos.

Vanessa FajardoDo G1, em São Paulo

Cristiane e o filho caçula Gustavo; ela foi sua professora no ano passado (Foto: Henrique Picarelli)Cristiane e o filho caçula Gustavo; ela foi sua professora no ano passado (Foto: Henrique Picarelli/ G1)
Maria Regina Sartori Dutra tem 66 anos e leciona geografia há 40. Passaram por sua sala de aula, em Socorro (SP), os três filhos, e os dois netos, um deles, Gabriel, de 12 anos, ainda é seu aluno. A primogênita de Regina, Cristiane Sartori Dutra Rissato, 40 anos, também seguiu a profissão de lecionar e repetiu a tradição na família: no ano passado foi professora do filho Gustavo, 6 anos, na educação infantil. Tanto a mãe quanto a avó garantem que a experiência é emocionante e é que possível separar os papéis em casa e na escola.
Sempre fui boa aluna e eu admirava minha mãe como professora, fiquei com um sentimento positivo"
Cristiane Rissato,
que foi aluna da mãe, Regina
Depois de lecionar por quatro décadas, poucos moradores de Socorro, cidade de 40 mil habitantes no Circuito das Águas, não tiveram aula com Regina. Cristiane sabia que, inevitavelmente, trombaria com a mãe no papel de professora na Escola Estadual Narciso Pieroni.
Ela começou na 8ª série e foi até o término do ensino médio. Dessa época, Cristiane guarda as melhores lembranças. “Minha turma era muito amiga, todo mundo se conhecia e ninguém estranhou. O tratamento era igual, recebia recadinho nas provas, assim como os outros. Sempre fui boa aluna e eu admirava minha mãe como professora, fiquei com um sentimento positivo”, diz Cristiane.
Cristiane quando criança teve aulas com a mãe, Regina, e já foi professora do filho (Foto: Henrique Picarelli/G1)Cristiane quando criança teve aulas com a mãe,
Regina, e já foi professora do filho (Foto:
Henrique Picarelli/G1)
Para Regina, ensinar a filha também foi natural. Ela não lembra de ter tido problemas na função de professora dos filhos, exceto quando Cristiane encabeçou uma batalha para fundar o grêmio na escola a contragosto da direção. “Fiquei apavorada com a situação.”

No entanto, para Regina, a experiência mais emocionante foi quando teve o neto Lucas, hoje com 14 anos, entre os alunos do 6º ano na aula de geografia do Colégio Objetivo de Socorro. “Quando o vi entrando na sala foi uma sensação melhor do que senti quando a minha filha mais velha foi para a escola pela primeira vez. Nunca imaginei, foi incrível. Na classe a gente não tem diferença e meus netos são excelentes alunos”, diz Regina. Lucas, 14 anos, passou dois anos tendo aulas com a avó, e agora é a vez de Gabriel, que ao contrário do irmão não se intimida em chamá-la de ‘vó’ na sala de aula.

“Eu acho muito legal ter minha avó como professora, meus amigos já acostumaram, mas brincam falando que eu já tenho as respostas da prova. Eu falo que minha vó não conta nada para mim, quando estou com ela o assunto não é escola”, diz Gabriel, 12 anos. Para o garoto, o único lado ruim do grau de parentesco é a cobrança dele mesmo para tirar boas notas. “A responsabilidade aumenta.”

Filho chamava a mãe professora de ‘tia’
Cristiane com a mãe Regina e os três filhos (Foto: Henrique Picarelli/ G1)Cristiane com a mãe Regina e os três filhos: Gustavo, Gabriel e Lucas (Foto: Henrique Picarelli/ G1)
Para Cristiane, a ideia de ser professora do filho caçula a preocupou no começo, principalmente porque ele era muito novo (tinha 5 anos na ocasião) e havia o temor de que não tivesse maturidade para diferenciar as diferentes funções da mãe. Antes de aceitar, Cristiane conversou com a psicóloga da escola que a orientou a não levar nada da escola para casa e vice e versa, para que os papéis fossem bem definidos. No início teve de lidar com o dengo de Gustavo e os pedidos de colo durante a aula.
Do meio do ano para frente, ele começou a me chamar de ‘tia’, como as outras crianças, era engraçadíssimo"
Cristiane Rissato,
que foi professora do filho
“Respondia da mesma forma que para outras crianças e dizia que na escola ele era meu aluno. Ficava apreensiva, mas depois foi muito normal. Do meio do ano para frente, ele começou a me chamar de ‘tia’, como as outras crianças, era engraçadíssimo”, lembra Cristiane. “No começo estava preocupada, mas ele entendeu de forma muito suave. Foi uma experiência maravilhosa e na formatura foi emocionante”, diz.

Cristiane diz que se policiou para seguir a recomendação da psicóloga e não ser severa demais e cobrar o filho como mãe na classe. “Às vezes ele não produzia como eu queria, mas tinha de entender que era uma criança diante de uma professora, não de uma mãe. Fiquei atenta o tempo todo. Em casa, fazia as lições com ele, como mãe e não deixei a rotina mudar.”
Mãe e filha se dedicam ao ofício de lecionar (Foto: Henrique Picarelli/G1)Mãe e filha se dedicam ao ofício de lecionar
(Foto: Henrique Picarelli/G1)
Mesmo apreensiva, Cristiane conta que levava para a escola a sensação boa de quando era aluna e tinha a mãe como professora. “Eu levei esse sentimento, sabia que ia ser bom. Tinha satisfação de ter minha mãe como professora, levo isso para dentro da minha sala. Quero que meus alunos estejam cada vez mais felizes perto de mim.” A professora diz que se sente privilegiada por ter ido esta oportunidade. “Foi uma grande lição, eu estava angustiada, e não tive problema nenhum. Não podemos criar problemas antes de ele existir. Tudo dá certo se é feito com amor.”

Gustavo, 6 anos, que deixou a educação infantil para seguir no 1º ano do fundamental longe da mãe, chorou nos primeiros dias de aula. Da experiência de ter a mãe na sala de aula, não ficou nenhuma trauma, pelo contrário. “Gostei muito, porque foi muito legal ter a mamãe na escola. Meus amigos gostavam dela e ela me ensinou muita coisa, a ler, escrever, fazer letra cursiva. Ela não era nem um pouquinho brav
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