Darcísio Hobaert, o Frei Plácido, é responsável pelo Horto das Oliveiras.
Papa Francisco visita Jordânia, Palestina e Israel a partir de sábado (24).
Um frei brasileiro que vive há 40 anos em Jerusalém tem a responsabilidade de preparar o Horto das Oliveiras para receber o Papa Francisco na próxima segunda-feira (26), durante a primeira visita oficial do pontífice à Terra Santa. Francisco começa a viagem no sábado (24) pela Jordânia, e passa pelos Territórios Palestinos até chegar a Israel.
Darcísio Hobaert, religioso católico, mais conhecido como Frei Plácido, é responsável pelas chaves do Getsêmani, onde, segundo a Bíblia, Jesus suou sangue ao rezar e recebeu o beijo de Judas antes de ser capturado por guardas. Além de oliveiras milenares, que já foram analisadas por cientistas, o jardim abriga também a Igreja da Agonia.
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O local, já visitado pelos pontífices Paulo VI, João Paulo II e Bento XVI, vai receber Francisco e mais 700 pessoas por cerca de uma hora. Para que isso aconteça em segurança, uma movimentação pesada de militares do governo de Israel ocorre há semanas – o horto fica na Jerusalém Oriental, território que é reivindicado pela Autoridade Palestina, e recebe a visita de turistas de diferentes partes do mundo todos os dias.
“O serviço de inteligência preparou o lugar com equipamentos antibomba e de alta tecnologia, além de realizar uma varredura diária. A equipe de segurança tem vindo com frequência observar todo o caminho que o Papa vai fazer”, explica o frei.
O motivo de tanta preocupação é que o líder dos católicos estará em uma área de conflito. Israel e Palestina brigam por territórios desde a década de 1950, uma disputa com conflitos armados, atentados e baixas para ambos os lados. Apesar da existência de tratados de paz, ainda não há delineado um entendimento entre seus líderes.
Apesar de a visita papal ser apostólica, e não política, Frei Plácido diz que Francisco já sinalizou que deseja transmitir uma mensagem à região ao escolher começar a viagem pela Palestina. “É algo praticamente impossível, com as barreiras entre os territórios de Israel e Cisjordânia. Acho que ele vai falar sobre o mistério da Igreja para dar sua vida em favor dos outros [e dizer] não à autoridade e à opressão”, explica o religioso.
Bastidores do Getsêmani
Usando o hábito, um tipo de veste religiosa, o gaúcho de 75 anos, nascido em Crissiumal (a 400 km de Porto Alegre), atendeu ao G1 e explicou que já participou da visita de outros papas ao local. Ele conta que foi diretor da biblioteca da Terra Santa entre 1993 e 1999, ano em que voltou ao Brasil, onde ficou até 2012, quando retornou a Jerusalém.
Com propriedade, faz relatos sobre as antigas oliveiras, que teriam mais de 2 mil anos, além de reflexões sobre como é fazer parte de uma minoria cristã-católica em uma região de conflitos religiosos e políticos. “Somos minorisa absolutas. Seja a situação do católico ou do cristianismo em geral, com as ramificações. Temos a proteção do Estado, mas há registro de perseguição”.
Frei Plácido diz que a perseguição obriga alguns cristãos a rezar escondido, até mesmo de suas famílias, ou ainda, força a emigração para outros países.
“Eu sempre ia no Natal até Belém (na igreja da Natividade, cravada na Palestina). Estava sozinho quando veio uma russa, que me contou, em inglês, que tinha ido rezar à noite, mas disse à família que ia dar um passeio. São muitas as famílias de nomes árabes cristãos que já partiram para a América Latina. É preciso manter católicos [no Oriente Médio], senão teremos igreja de pedra, não de gente viva”, conta o religioso.
Mudanças na Igreja
Sobre a visita de Francisco, Frei Plácido diz que no dia da passagem dele pelo Getsêmani, o religioso e seu grupo ficarão “prisioneiros da segurança" desde 5 da manhã até a hora que o Papa for embora. “É um pouco chato e difícil”, explica. Apesar das restrições, o brasileiro deve se encontrar com o Papa.
Sobre a visita de Francisco, Frei Plácido diz que no dia da passagem dele pelo Getsêmani, o religioso e seu grupo ficarão “prisioneiros da segurança" desde 5 da manhã até a hora que o Papa for embora. “É um pouco chato e difícil”, explica. Apesar das restrições, o brasileiro deve se encontrar com o Papa.
O religioso faz críticas à montagem da infraestrutura para a visita, alegando que há desperdício. “Procuro não me meter em assuntos em que não devo palpitar, mas tem hora que ‘esquenta o sangue’”, disse. “Fico entristecido e lembro que a Igreja somos nós”, disse, ao citar que não há, em sua opinião, a necessidade de se colocar refletores dentro de uma igreja, uma das providências tomadas pelo governo de Israel.
Sobre as mudanças propostas pelo Papa para a Igreja Católica, de que é necessário “sentir o cheiro das ovelhas e não ficar na burocracia, mas como uma igreja serva e pobre”, Plácido diz apoiar a reforma, mas nega a necessidade de uma revolução, ou ainda, que Cristo tenha sido um revolucionário, como alguns escritores têm proposto (um deles é Reza Aslan, no livro “Zelota: a vida e a época de Jesus de Nazaré).
Questionado se o Papa Francisco teria motivos para “suar sangue” durante sua reflexão no Horto das Oliveiras – assim como fez Jesus, antes de ser crucificado –, o brasileiro afirma que os escândalos registrados dentro da Igreja Católica, como os casos de pedofilia e disputas internas no Vaticano, “são de suar sangue”.
“É uma dor enorme da Igreja os diferentes erros de sacerdotes que vemos nos noticiários. Que coisa terrível! (...) Um padre estraga o trabalho de dezenas de sacerdotes, porque ele tem ainda muita autoridade e visibilidade”, afirma.
Apesar de todos os problemas que o cercam, Frei Plácido se mantém firme em sua função no Getsêmani e não esquece sua grande paixão: o futebol. Torcedor do Internacional, ele relembra com saudades o time brasileiro e mostra, com orgulho, por baixo do hábito, uma camisa da equipe. É uma forma de sentir o sangue brasileiro frente às diferentes raças e credos que encontra todos os dias.
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