sexta-feira, 16 de maio de 2014

Um Papa, um Muçulmano e um Rabino

terra santaNa sua peregrinação no próximo Mês de Maio, o Papa Francisco irá acompanhado do Rabino Abraham Skorka e do dignitário muçulmano Omar Addoub.
Dois amigos da Argentina com os quais trabalhou para o diálogo inter-religiososo enquanto Arcebispo de Buenos Aires.
Rabbi-Abraham-Skorka
Conheciam-se desde há muitos anos. O Rabino Abraham Skorka, conhecido familiarmente desde algum tempo como “o Rabino do Papa”, é o reitor do Seminário Rabínico latino-Americano de Buenos Aires. A sua amizade com o futuro Papa, então Arcebispo de Buenos Aires, deu origem a uma longa e profícua colaboração no diálogo inter-religioso. Juntos, ao longo de anos, abordaram questões diferentes postas pelo mundo moderno aos Judeus e aos Cristãos tais como o fundamentalismo, o ateísmo, a morte, a Shoa, a homossexualidade e o capitalismo. As suas conversas foram, então, muito mediatizadas pela televisão local no programa “A Bíblia, um diálogo de hoje” e, depois, retomadas num livro intitulado “Entre o Céu e a Terra".
Depois de Mons. Bergoglio se tornar Papa, a sua amizade tornou-se ainda mais forte. Uma ponte foi levantada entre o Seminário Rabínica e as Universidades Pontifícias Romanas. Na sua entrevista ao Vatican Insider, em Janeiro de 2014, o Rabino exprimiu-se sobre o diálogo inter-religioso e a sua amizade com o Papa nos seguintes termos: desejamos dar um sentido ao Diálogo e à espiritualidade, às atividades da alma como à busca de Deus (…). A diferença é que hoje o meu amigo tornou-se Papa, mas continuamos o nosso compromisso, agora sob os olhares do mundo”.
Juntos partilham um sonho comum: “rezar juntos” e “mostrar ao mundo que tal é possível”. A 17 de Janeiro de 2014, durante um almoço "kosher" na casa de Santa Marta, este sonho começou a tornar-se realidade no momento em que decidiram fazerem, juntos, a histórica peregrinação papal a Amã, Belém e Jerusalém. Rezarem juntos no Muro das Lamentações, o lugar mais sagrado do Judaísmo depois do Monte Tabor, e em Belém no lugar do nascimento de Cristo, um dos mais sagrados da cristandade.
Contudo o Rabino está consciente que esta visita será um “verdadeiro challenge”: Israelitas, Palestinos, Judeus, Cristãos e Muçulmanos esperam, com efeito, muito do Papa Francisco. Em Janeiro, Skorka, na Pontifícia Universidade Gregoriana referiu as suas expectativas para esta viagem: “O que espero, o que peço a Deus, e o que desejo de todo o meu coração, com prudência e inteligência – uma vez que os habitantes desta região…….são muito apaixonados – é que o Papa possa deixar uma mensagem de paz e inspirar uma dimensão de paz para todos (…). É evidente que isto não vai ser fácil” E o Rabino acrescenta. “O Papa não poderá resolver todos os problemas, isso é impossível. Mas espero que possa deixar um sinal de paz aos povos”.
Omar-AbboudOmar Abboud é o antigo Secretário-geral do Centro islâmico da Argentina. É também o diretor do Instituto para o diálogo Inter-religioso, apoiado desde 2006 pelo Cardeal Bergoglio. Amigo de longa data do Papa, trabalharam juntos, infatigavelmente, para o diálogo na Argentina. Acompanhar o Papa na Terra Santa, integrado na Delegação do Vaticano, é fruto desta longa amizade e desta estreita colaboração.
O Papa Francisco comparecerá diante dos seus interlocutores judeus, cristãos e muçulmanos, acompanhado por dois dos seus velhos amigos do Instituto de Buenos Aires para o diálogo.
“Esta iniciativa, explicava, há dois dias, o dignitário muçulmano ao Vatican Insider, vai no sentido da nossa identidade nacional, um fruto cultivado com muitos cuidados por muitos líderes e chefes religiosos, graças ao impulso dado, pelo então cardeal Bergoglio, no sentido de criar espaços para que uma cultura de encontro possa ver o dia”. Omar Abboud tem, no entanto, o cuidado de sublinhar que “na realidade Buenos Aires se encontra do outro lado do planeta, a milhares de quilômetros das tensões do Médio Oriente”. Mas muito há a esperar deste diálogo: “o diálogo entre religiões não é um puro show fotográfico”. É, ao contrário, precisa o diretor do Instituto “um compromisso autêntico e bem fundamentado, um compromisso que se constrói, pois todos sabemos que não podemos avançar sem este diálogo”.
Diálogo e Oração: dois pilares incontornáveis para o Arcebispo Bergoglio como para o Papa Francisco. Omar Abboud conta como o Arcebispo estava consciente das virtudes “preventivas” do diálogo. Em Novembro de 2012, por exemplo, quando das violentas tensões entre Israelitas e Palestinos, o futuro Papa convidou judeus, protestantes e gregos ortodoxos para juntos rezarem pela paz, na Catedral de Buenos Aires.
Myriam Ambroselli
Patriarcado latino de Jerusalém
Redação A12, 13 de Maio de 2014 às 08h39. Atualizada em 13 de Maio de 2014 às 08h53.

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