Engessado, nosso debate político está fadado a um Fla-Flu retardado que a nada presta.
Por Alexandre Kawakami*
O fator que mais atrapalha o diálogo político no Brasil e no mundo atualmente é a divisão artificial e rasteira entre direita e esquerda. Essa distinção, resultante da massificação simplificadora e inútil do socialismo teórico, serve hoje para precisamente nada. Essa divisão, como se coloca hoje em nosso discurso, tem em sua simplicidade a expressão de sua incapacidade de se relacionar com os objetos que busca interpretar: público e privado. Ou social e capital. Ou qualquer outro símile que o valha: descrever o mundo nesses termos é como tentar descrever um quadro de Dali apenas com as palavras “preto” e “branco”. Patético.
Essa situação não melhora tentando-se estender o sentido dos dois termos. Livre mercado é um conceito importante, mas não embarca todas as possibilidades de relacionamento dentro de uma sociedade, principalmente o político (“eu tenho poder sobre você”). Justiça social é um valor nobre, mas sua aplicação através de tributação ou dirigismo produz, na realidade, as maiores injustiças.
Na verdade, os prisioneiros ideológicos da esquerda e da direita têm um inimigo em comum, uma problemática de acordo, cuja divisão que descrevo os impediu de enxergar e formar consenso sobre uma nova era de construção de democracias. Tanto os de esquerda como os de direita têm aversão a concentrações monopolísticas de poder. Os de esquerda se opõem à opressão de grandes grupos econômicos. Os de direita se rebelam contra a opressão do poder político estatal.
Na advocacia de suas aversões, esquerdistas tendem a defender o Estado como o antagonista do grande capital; os direitistas defendem a liberdade de grandes empresas como se fosse a liberdade de iniciativa encarnada. Essa divisão impede ambos de compreenderem que aquilo a que se contrapõem define aquilo que defendem, sem entenderem que uma conclusão não se depreende da outra.
Na verdade, é perfeitamente possível tentar empreender uma elaboração deontológica de modelo político mantendo-se a oposição a qualquer tipo de concentração de poder sobre o indivíduo. Esquerdistas bem intencionados concordarão que o poder estatal precisa ser restrito, ao menos porque sabem que nem sempre serão situação. Direitistas com mais visão concordarão que monopólios tendem a tentar se manter como monopólios a qualquer preço e, portanto, uma construção institucional que proteja o empreendedor de menor porte é necessária.
Infelizmente, estamos ainda presos à dicotomia direta-esquerda. E assim engessado, nosso debate político está fadado a um Fla-Flu retardado que a nada presta.
*Alexandre Kawakami é Mestre em Direito Econômico Internacional pela Universidade Nacional de Chiba, Japão. Agraciado com o Prêmio Friedrich Hayek de Ensaios da Mont Pelerin Society, em Tóquio, por pesquisa no tema Escolhas Públicas e Livre Comércio. É advogado e consultor em Finanças Corporativas.
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