sexta-feira, 27 de junho de 2014

Aberta 'caça a conservadores' na Igreja

Por Marco Tosatti

Esperamos estar errados, como muitas vezes acontece, felizmente; mas a impressão que temos a partir de toda uma série de pequenos sinais é de que, na realidade, na Igreja do Papa Francisco, está aberta a "caça aos conservadores"; um termo que, como sempre nesses casos, é bastante genérico a ponto de poder ser utilizado contra uma ampla gama de pessoas.
 
O caso mais surpreendente continua sendo o dos Franciscanos da Imaculada, uma ordem comissionada com autoridade com modalidades de extrema dureza e sem que tenham sido fornecidas razões claras, se não uma genérica acusação de desvio tradicionalista. Admito que, antes da decapitação, os Franciscanos da Imaculada não tinham um lugar de qualquer tipo na minha vida.
 
Bons católicos, pessoas – certamente não tradicionalistas – ligadas à Igreja agora me falam bem deles; outros enfatizam algumas excentricidades, ou personalismos excessivos do fundador (mas quantos fundadores de ordens, velhas ou recentes, não têm esses excessos?).
 
Em suma, na ausência de motivos sérios e pesados, tenho que pensar que se tratava de uma guerra interna, travada em nome do papa, com a crueldade típica dos ambientes fechados e de tudo o que diz respeito à liturgia. Em face da misericórdia.
 
Mas, além do caso exemplar dos Franciscanos da Imaculada, há uma proliferação de casos individuais, coisas pequenas e maiores, que levam a pensar nos especialistas do mundo eclesiástico, que foi colocado em movimento um processo não declarado, mas nem por isso menos eficaz.
 
Pensa-se que o papa não gosta de nada do que é tradicionalismo, particularmente na liturgia; que, mesmo que defenda oficialmente as decisões de João Paulo II e de Bento XVI nesse campo, escolhas certamente de abertura em relação a esse mundo, no fundo, no fundo, ele tem sensibilidades diferentes.
 
O bispo tcheco Jan Graubner, falando sobre a audiência do dia 14 de fevereiro passado, declarou à Rádio Vaticano: "Quando estávamos discutindo que aqueles que amam a antiga liturgia desejam voltar a ela, era evidente que o papa falava com grande afeto, atenção e sensibilidade por todos, para não fazer mal a ninguém. No entanto, ele fez uma declaração muito forte, quando disse que compreende quando a geração mais velha deseja voltar ao que viveu, mas não consegue entender as gerações mais jovens que desejam se voltar para esse lado. Quando busco mais a fundo – disse o papa – eu acho que é mais uma espécie de moda. E, se se trata de uma moda, não convém lhe dar muito peso. É só necessário mostrar um pouco de paciência e de gentileza para com as pessoas que são dependentes de um certo modo de fazer, mas considero que é muito importante ir em profundidade nas coisas, porque, se não aprofundamos essas temáticas, nenhuma forma litúrgica, seja esta ou aquela, pode nos salvar".
 
Talvez, haveria coisas a se objetar sobre esse ponto, também observando que ordens religiosas gozam de mais favor entre os jovens, do ponto de vista das vocações. Mas nos interessa apenas observar que, talvez, não se equivoque quem atribui ao papa pouca simpatia por esse mundo. E, na Cúria, que continua sendo uma corte, mesmo que o soberano, em vez de morar no Apartamento, viva no quartel dos Mosqueteiros do rei, ele é muito hábil para farejar essas atmosferas. E para agir em conformidade.
 
Assim, há notícias de sacerdotes julgados conservadores demais pelas próprias ordens, aos quais não seria concedido professar aqueles votos particulares típicos da própria ordem; promoções – e regressões – nos dicastérios da Cúria julgadas com base no "progressismo" ou no "conservadorismo" dos interessados.
 
Até possíveis decisões no nível muito mais alto, relacionadas à substituição de cardeais considerados "conservadores" em dioceses de nível médio, em vez de ad maiora.
 
Uma das últimas notícias vem de Nova York, onde um sacerdote sul-africano, ligado à representação da Santa Sé junto às Nações Unidas, apaixonado pela missa segundo o rito antigo (a missa na forma extraordinária) pronunciou um sermão em que ressaltava a necessidade de ter sacerdotes que tivessem amor e sensibilidade pelo antigo rito. A homilia apareceu na internet. Depois disso, o sacerdote cancelou todos os seus compromissos para celebrar a missa, e parece que voltou para a África do Sul.
 
Pequenas coisas, mas, costuradas juntas, formam um tecido. A impressão é de que o trabalho feito por Bento XVI para restaurar a cidadania a várias sensibilidades dentro da Igreja está prestes a ser cancelada. Uma pena. Justamente Vittorio Messori há muito tempo nos ensinava que a Igreja Católica se baseia no et-et [e-e], na convivência de católicos diferentes, mas unidos, enquanto as seitas praticam o aut-aut [ou-ou].
 
Certamente, o Papa Bergoglio não quer uma Igreja do aut-aut; mas talvez haja um problema de "bergoglistas" por convicção ou por oportunidade, que pensam que estão cruzando com o seu favor.
San Pietro e Dintorni, 25-06-2014.

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