Alertar a sociedade sobre o Tráfico Humano e propor ações para o seu enfrentamento faz parte da missão da Igreja. É o que acredita a Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB), que na noite desta quarta, 11 de junho, promoveu em Brasília (DF), uma Caminhada para recordar as vítimas desse crime que, somente em 2012, afetou mais de 20 milhões de pessoas em todo o mundo.
Munidos de faixas, bandeiras, lanternas e flores, cerca de 500 pessoas se concentraram em frente ao Museu Nacional e caminharam pela Esplanada dos Ministérios até o Congresso Nacional. A capital federal, toda iluminada com as cores do Brasil, por ocasião da Copa do Mundo, recebeu um recado vindo não só dos manifestantes, mas de um grupo de crianças. À frente, elas brincavam com bolas de futebol para pedir, na véspera da abertura do Mundial, esporte justo e livre do Tráfico.
"Grite a favor da vida, jogue pela vida porque nós queremos que nossos jovens, famílias e crianças sejam respeitadas", disse Irmã Maria Inês Vieira Ribeiro, presidente nacional da CRB, ao acolher os participantes. "É uma Caminhada de fé, de esperança e indignação com aquilo que acontece com os seres humanos ao serem traficados como mercadoria. Nós não queremos isso para a nossa sociedade. Queremos um Brasil mais justo, um Brasil humano que não trafique pessoas", defendeu a religiosa. A CRB Nacional abraçou a Campanha "Jogue a favor da Vida - denuncie o Tráfico de Pessoas", lançada pela Rede Um Grito pela Vida que vem realizando ações de conscientização em todo o país.
Comovente foi o depoimento do Sr. João José Felipe, residente em Goiânia, ao relatar o drama do desaparecimento de sua filha, Simone Borges Felipe (25), traficada e morta há 19 anos. "Estou aqui pela dignidade humana e por um país melhor. Há 19 anos estou lutando e sempre encontrei muito apoio de instituições e autoridades para tirar esta impureza do mundo".
Além da presidente nacional da CRB, participaram também o responsável pela Campanha da Fraternidade na arquidiocese de Brasília, padre George Tajra, assessores da CNBB para a Pastoral Social, Vocacional, Missão e Mobilidade Humana, representantes das Pontifícias Obras Missionárias (POM), Centro Cultural Missionário (CCM), Conselho Nacional do Laicato no Brasil (CNLB), Rede Um Grito pela Vida da CRB Regional de Brasília e Conselho Indigenista Missionário (CIMI).
O arcebispo de Palmas (TO) e presidente da Comissão para os Ministérios Ordenados e Vida Consagrada, dom Pedro Brito Guimarães, representou a CNBB. "A minha palavra é de incentivo aos religiosos e religiosas, todos os que assumimos esta missão de cuidar da vida e defender as pessoas como fez Jesus". O bispo disse ainda que, sensível a essa questão, a presidência da CNBB estava unida à Caminhada. Em seguida, falou da necessidade de unir forças com
outras instituições e órgãos públicos. Em clima de Copa do Mundo, "espero que as pessoas se divirtam e que tenham os seus direitos respeitados. Que ninguém seja traficado ou explorado na sua dignidade. Buscamos na Palavra de Deus, na fé cristã e na Doutrina Social da Igreja a motivação para estarmos aqui e denunciar toda forma de jogo contra a vida e o Tráfico de Pessoas".
Dom Philip Dickmans, bispo de Miracema (TO) e dom Roque Paloschi, bispo de Roraima encontravam-se em Brasília na reunião do Conselho Permanente da CNBB e também seguiram a marcha. "Percebemos que hoje temos de trabalhar em rede, senão não seremos capazes de fazer o mínimo diante dessa realidade do Tráfico Humano, da exploração sexual, do trabalho escravo e do comércio de órgãos", afirmou dom Roque, para quem, o trabalho em rede, "facilita e cria parceria onde vamos ter força para enfrentar o poder do dinheiro, das armas e, sobretudo, a força dos que transitam nesse meio".
Roraima vive uma realidade de fronteira onde existem rotas de tráfico, um desafio para a Igreja. "Diante dessa realidade não podemos ficar indiferentes. Precisamos fazer alguma coisa. Isso se faz em parceria com organismos e, sobretudo, em profunda aliança com as comunidades dos pobres, independente da confissão religiosa. É preciso assumir uma postura corajosa", reforçou.
A Caminhada reuniu também lideranças do exterior a exemplo dos jovens universitários americanos, Jeremias de la Cruz e Karin Miranda, que fazem um estágio no Centro Scalabriniano de Estudos Migratórios em Brasília. "Esta ação é importante porque a Igreja católica tem que proteger a dignidade humana e os grupos que estão aqui têm a missão de preservar a liberdade e promover os direitos humanos", destacou Jeremias. Para Karin, tanto no Brasil como nos Estados Unidos o tema do Tráfico de Pessoas é muito sério. "Uma maneira de saber mais sobre esse problema é fazer ações como esta. É importante mostrar que nós podemos fazer a diferença".
Irmã Valéria Maria da Silva trabalha em Nova Iguaçu (RJ) e nestes dias, frequenta um curso de formação missionária no Centro Cultural Missionário (CCM). Ela caminhou em companhia de outros 20 colegas do curso. "Acho importante a presença da Vida Religiosa no meio das pessoas marginalizadas e machucadas na sua dignidade. Precisamos ser sinal de esperança para essas pessoas e ajudá-las a ter uma nova vida".
Um grupo da Juventude Missionária (JM) ligado às POM, também marcou presença para mostrar solidariedade com o causa. Felipe Custódio dos Santos (20), residente no Gama (DF) explicou que o grupo veio do entorno de Brasília para recordar os jovens traficados. "Eles poderiam estar aqui conosco hoje", disse. "Caminhamos para lembrar esses jovens e crianças. Para a Juventude Missionária esta causa é mais do que uma missão, é um dever", acredita ele.
A ação terminou no gramado do Senado onde as flores foram depositadas formando uma cruz. Em círculo ao redor dela representantes dos vários organismos fizeram orações onde recordaram algumas realidades do enfrentamento do Tráfico de Pessoas. Ao lado da cruz, de joelhos, seu José João rezou em silêncio. Dom Philip Dickmans acompanhou o gesto enquanto dom Pedro Brito conduziu a oração do Pai Nosso e a bênção das flores. O evento foi mais um grito pela vida e um cartão vermelho para quem desrespeitar o seu semelhante.
Fonte: www.pom.org.br
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