quarta-feira, 25 de junho de 2014

China, o 'concílio' e o 'jubileu' de Francisco

Aquilo que foi o Concílio para o papa João XXIII é a China para Bergoglio: sonho e vontade.
Por Alberto Melloni*
Não são necessárias confidências ou bastidores para compreendê-lo. A história da Companhia de Jesus e a história do mundo levam o olhar do papa Francisco em direção ao horizonte da China.

Aquilo que foi o Concílio para o Papa João XXIII, o jubileu para Wojtyla, é a China para Bergoglio: sonho e vontade, obediência e dom, intuição e projeto. Os primeiros 15 meses de pontificado estão repletos de sinais inequívocos.

O fato de escolhido Pietro Parolin como secretário de Estado é uma mensagem para Pequim, que encontra um interlocutor leal. O fato de ter dito aos amigos que quer se encontrar com Xi Jinping tendo como modelo o encontro entre Francisco de Assis e o sultão de 1219 é um sinal percebido. O fato de ter assumido firmemente com prefeito da Propaganda Fide, Ferdinando Filoni – a beatificação de Matteo Ricci deve andar de mãos dadas com a do companheiro Xu Guangqi – removeu toda ambiguidade à causa aberto há muito tempo.

Até mesmo o fato de ter convidado Peres e Abu Mazen também falava à China: porque explicou verbis et operibus que, quando a Santa Sé quer falar e ouvir, não precisa nem de mediadores, nem de amadores, mas sabe representar a si mesma como uma comunhão capaz de levar a semente da oração ao mais inesperado dos bons terrenos.

Do lado chinês, a repercussão foi imediata: Romano Prodi salientou que a imprensa de Pequim escreveu que Francisco obteve no Oriente Médio, "em três dias", o que os outros não tinham obtido em 30 anos. Mesmo sem saber nada sobre o que está passando pelos canais diretos dos quais o papa revelou a existência ao jornal Corriere della Sera, é um sinal que diz que, em Pequim, eles sabem quanto tempo é preciso para que Francisco transforme em futuro um sonho.
 
Corriere della Sera, 22-06-2014.
*Alberto Melloni é historiador da Igreja, professor da Universidade de Modena-Reggio Emilia e diretor da Fundação de Ciências Religiosas João XXIII de Bolonha. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

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