sábado, 21 de junho de 2014

Copa, cozinha e arredores

Que me desculpem os meus violões, mas a epidemia de Copa me pegou de jeito.

Por Celso Adolfo*

Os meus violões nada sofrerão por esse abandono a que os submeti por causa da Copa. Ela alterou minha atenção e está sacodindo tudo. Brasileiro, boleiro e corneteiro, não fico calado nem saio da frente da TV. Restando-me o CT doméstico, nele recolho fatos e dele transmito as minhas impressões. Se não, vejamos:

A seleção até aqui

Eu vi o genial Reinaldo (do Galo), Romário e Ronaldo Nazário. Pelé, Amarildo e Garrincha só nos filmes. Hoje é tempo de centroavante ruim de bola, que pode ou não dar certo. Tem faltado aquele maestro do jogo, feito Gérson, Cerezzo, Falcão, Sócrates. Na Itália, Pirlo queima os seus últimos litros. Ronaldinho Gaúcho teria algum querosene para queimar? Vamos do jeito que está, torcendo pelo que está no campo.

Na Savassi, em Belo Horizonte

O empate Ochoa 0 x 0 Brasil não tirou um torcedor da praça.  Nesse e nos jogos seguintes (hoje mesmo), todas as torcidas vêm se mantendo ali. Colombianos ganharam, até aqui, o Troféu Gente Boa. Quando cai a noite, os chifres dos Belgiums Red Devils, enxofre no ar e litragens de alta octanagem alteram (até aqui sem risco extra) o equilíbrio local. Não tendo formato para multidão e o que vem com ela, a praça suporta tudo do jeito que dá. E eu nesse meio.

Bafo 

Fui parado na blitz do bafômetro no Rio. Quando o policial viu que minha carteira era de BH, ele disse: aqui ninguém escapa e teve até  um sujeito importante da sua terra que não soprou o bafômetro, mas foi pego. O senhor sopraria? Sim, eu sopro. Perguntei se poderia fazer uma selfie. Sim, pode fazer. E soprei o bafômetro. Deu lá: zero, zero, zero. É ótima a sensação de andar na linha. No Rio de Janeiro, então, é indescritível. A história das Copas já regista que o bafômetro carioca não pegou outro mineiro.

Em plena Copa, o mundo vai se acabando.

É ler certos artigos de Arnaldo Jabor e suicidar. Fantasmagoria não é o principal negócio dele, pois muita coisa ali é palpável feito um tijolo. Mas há vazios entre as razões que o cronista julga ter e as que outros seres deste mesmo mundo também têm diante das piores e definitivas formas de desespero que ele expõe e impõe. Não sendo o caso dele, parece coisa de quem está a se despedir de uma vida infeliz, quando nada se salvará e o universo ruirá sob ódio, maldade, desgraça. Observando a vida para além dessa Copa, eu não acho isso sobre a humanidade, genericamente, nem particularmente sobre o Brasil de hoje.

Fantasmas

O que me amedronta mesmo, no duro, agora, seria a tristeza por não levantar o caneco, que já não é caneco desde que derreteram a Jules Rimet. Sobre a alegria, outra espécie de fantasma, ela resulta de qualquer felicidade, simples e momentânea que seja, como ganhar um beijo da filha, ganhar um jogo, um torneiro do brejo ou essa Copa do Mundo, fazendo bem pras vistas, pros dentes, pra pele. Na quantidade e na oportunidade que for, eu a cortejo.

Custos, legados

Quanto a custos e legados, ambiente predileto de quem é da contratorcida, veremos se (e como) os dois se ajustarão. Somente sobre legado, o melhor foi a descoberta do "Padrão Fifa", na forma e no conteúdo e quando cobra do jogo econômico e político o que ambos devem à sociedade que é construída por todos, por mais inacreditável que pareça.

Grosseria contra Dilma no Itaquerão

"Achei aquilo um horror!" Falou Joaquim Barbosa, juiz que agrada e horroriza desde os seus pares até citadinos que sabem onde, como, porque e por quem o galo canta.

A pergunta é...

Brasileiro não desiste nunca. Nem da infeliz vontade de falar mal de si mesmo. Não toco nesta banda e nem fecho os olhos para o que está ao meu redor. Mas, a todo instante se lê na imprensa estrangeira outra reflexão sobre o que somos. Dou um exemplo de matéria que não nos alivia de nossos pecados e nem os exagera. É abrir o link dohttp://www.miamiherald.com/2014/06/18/4187310/in-brazil-world-cup-party-is-just.html e dar uma lida no texto que não acompanha o sonho de quem quer que o Brasil se dane nesta Copa e em tudo mais. E a matéria pergunta: Are things perfect? No. They never are at big events. After covering 13 Olympics and five World Cups, I accept that glitches are inevitable. (...) Remember, the power went out at the 2013 Super Bowl in New Orleans, and, far worse, a bomb exploded in downtown Atlanta at the 1996 Olympics.
*Celso Adolfo é violonista e compositor.

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