sábado, 28 de junho de 2014

Corvos, tucanos e a gaiola da Copa

A cordialidade perdida pareceu aflorar de novo nas ruas de Copacabana, nas superquadras brasilienses...

* Por Ricardo Soares
A grande partida, a nossa Copa do Mundo, ainda não acabou mas já dá pra saber que foi um retumbante fracasso a sombria  previsão de nossa mídia nativa  que apostava na derrocada total ao contrário do retumbante sucesso que vem sendo a COPA para desespero dos corvos modernos, menos inteligentes que Carlos Lacerda, o corvo ancestral.

Quem nasceu para Jabor ou Lobão jamais será Lacerda mas não é disso que venho falar e sim de que aliado ao sucesso da Copa vi percorrerem as ruas  e espaços públicos de São Paulo, Rio e Brasília um sentimento de alegria e solidariedade para com os estrangeiros e entre nós, nativos. A cordialidade perdida pareceu aflorar de novo nas ruas de Copacabana e Lapa, nas superquadras brasilienses, nas avenidas  paulistas. É como se estivéssemos despertando de uma ressaca de mau humor e falta de cordialidade e resolvêssemos ajudar os próximos com ares de “bons dias”, “até logos” e explicações cordiais de onde ficam os logradouros. Por um momento me sinto no país de Rubem Braga e Paulo Mendes Campos, no país da tese de Sérgio Buarque de Hollanda que cultuava nossa cordialidade e mesmo afrontando os versos do seu filho Chico que disse sermos o país da delicadeza perdida.

 Não me senti e nem me sinto indelicado por esses dias. Ao menos para esses próximos equatorianos, colombianos, franceses, belgas, argentinos e americanos com quem trombei por vias transversas.  Eles surgiram nos lugares mais improváveis, naqueles que não imaginei que fosse encontra-los. Mas lá estavam vendo, degustando, admirando, se lambuzando com nossa identidade nacional. Isso não é ufanismo. É a realidade e não a tese sombria inventada pela revista Veja que há tempos esqueceu o que é fazer jornalismo.

Até a rede Globo fez seu mea culpa sem graça ao admitir que houve excesso de pessimismo em relação a Copa. O tal bordão, a tal hastag  “imagina na copa” foi esquecida assim que a Copa começou e antes que eu me empanzine de triunfalismo devo admitir que eu também desconfiei. Também joguei pedra na Geni. Mas o zeppelin gigante com todos os seus comandantes conseguiram reger uma orquestra de acertos apesar de todas as cafajestices da Fifa e quejandos, apesar dos Galvões e Ronaldos Coxinhas, apesar do néscio Aécio, do turvo Serra e seus apaniguados.  Mas não vamos tucanizar a prosa. Deixe eles com a peja de “bons de bico”.  Até porque agora, com tudo dando certo, eles não se furtarão a pegar risonha carona no sucesso.
* Ricardo Soares é diretor de TV, escritor, roteirista e jornalista. Titular do blog Todo Prosa (www.todoprosa.blogspot.com) e autor, entre outros, dos livros Cinevertigem, Valentão e Falta de Ar. Atualmente diretor de Conteúdo e programação da EBC- Empresa Brasil de Comunicação.

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