Enzo Ciconte:- "Tenho uma convicção particular: não creio que a religiosidade dos mafiosos seja a religiosidade dos católicos; creio que se seja mais propriamente uma forma de paganismo, embora eles façam uso da religião para seguir adiante. Desde quando os mafiosos deram os primeiros passos, sempre olharam para a religião como um pacto de consenso social. Aliás, existem inclusive mafiosos que pensam ser católicos praticantes... Portanto, provavelmente, alguém deles se sentirá interpelado em sua consciência."
RV: O fato de o Papa Francisco ter evidenciado essa condição de excomunhão em que se encontram os mafiosos pode tornar sempre mais difícil o consenso social que a criminalidade organizada busca criar em torno a si?
Enzo Ciconte:- "Sim, porque o seu Pontificado – embora ainda breve – tem um consenso muito amplo. Portanto, creio que essas palavras incidirão muitíssimo; é significativo que na Calábria tenha sido introduzido nos seminários o estudo da história acerca da 'Ndrangheta, algo que jamais tinha ocorrido antes. O fato de fazer com que os seminaristas conheçam o mal que 'Ndrangheta faz, não somente em nível social e econômico, mas também na alma dos calabreses e dos italianos em geral, creio que seja um fato de extraordinária importância."
RV: O Papa, encontrando os parentes de Cocó – a criança de três anos também assassinada em janeiro passado numa emboscada mafiosa –, disse: "Nunca mais as crianças sejam vítimas da 'Ndrangheta! Que significado tais palavras podem ter do ponto de vista cultural e social, naquela terra?
Enzo Ciconte:- "É importante! São gestos muito fortes e muito significativos, inclusive porque havia uma idéia propagada no tempo de que a 'Ndrangheta, e a máfia em geral, não tocava nas mulheres nem nas crianças. Era uma grande falsidade, basta pensar no caso da criança Cocó. A máfia sempre matou crianças e mulheres quando isso servia a seus interesses. Faço a distinção das duas questões: uma coisa são os associados e os afiliados, e não saberia dar uma medida a quanto possa incidir, embora imagine que haverá alguma incidência... espero estar enganado, mas não será determinante. Porém, eles terão uma dificuldade a mais em sua relação com a Igreja e com os simples cidadãos, com os católicos em boa fé, aqueles que pensavam ser possível ter uma relação com a máfia. Desse ponto de vista não há dúvida de que as palavras do Papa recaem sobre eles como uma pedra de moinho da qual dificilmente conseguirão se esquivar." (RL)
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