quinta-feira, 5 de junho de 2014

Jornalista lança livro sobre escândalo revelado por Edward Snowden.

Ao G1, ele diz que EUA usam espionagem para fins econômicos.

Isabela MarinhoDo G1, no Rio
Glenn Greenwald (Foto: Isabela Marinho/G1)Glenn Greenwald (Foto: Isabela Marinho/G1)
Um ano após a espionagem em escala mundial realizada pela Agência Nacional de Segurança Americana (NSA), dos Estados Unidos , ter sido revelada pelo técnico Edward Snowden e o jornalista Glenn Greenwald, o repórter apresenta novos detalhes sobre o caso em um livro recém-lançado.
"Sem lugar para se esconder" (Editora Sextante) relata como a NSA coleta dados de pessoas no mundo inteiro, reitera que os EUA têm interesse em informações econômicas dos países espionados e mostra de que forma a agência norte-americana intercepta produtos como roteadores comutadores de rede quando eles estão em trânsito para os consumidores.
Segundo Greenwald, a agência abre pacotes, implanta dispositivos de vigilância nos aparelhos, e os devolve lacrados para os usuários sem que eles saibam disso.
"Eles abrem o produto e colocam um programa para todos as informações, todos os dados irem para a NSA, fecham o pacote e mandam para a pessoa que comprou. E esses produtos são usados para dar serviços de internet para muitas pessoas", disse Greenwald.
No livro, Greenwald traz bastidores das entrevistas com o ex-funcionário terceirizado da NSA no Havaí, Edward Snowden, que, após as denúncias, segue recluso em localização desconhecida na Rússia.
O objetivo [da NSA] é coletar informações na internet e no telefone sobre o que todas as pessoas do mundo estão fazendo"
Glenn Greenwald, jornalista
"No livro estão muitos documentos mostrando que o objetivo da NSA não é monitorar comunicações entre terroristas ou pessoas que estão planejando violência. O objetivo é coletar informações na internet e no telefone sobre o que todas as pessoas do mundo estão fazendo", contou o jornalista. Ele diz que o maior foco da espionagem norte-americana é no setor econômico, o que a NSA nega veementemente fazer.
Greenwald afirmou, em entrevista ao G1 nesta quinta-feira (5), que os EUA acusam o governo da China de fazer espionagem econômica, mas que os americanos fazem o mesmo.
De acordo com o jornalista -- que deixou a profissão de advogado após o atentado ao World Trade Center, em 11 de setembro de 2001-- o livro traz novidades sobre os programas usados para interceptar comunicações de internet e telefones celulares realizadas a partir de aviões, além de novas informações sobre como a NSA atua com agências de inteligência estrangeiras, como as financia, quais são seus alvos de espionagens e como elas trabalham juntas.
Greenwald afirmou que o governo americano está usando o terrorismo para justificar atos como "invadir o Iraque, fazer tortura e prender pessoas".
Segundo o autor de "Sem lugar para se esconder", uma investigação feita pelo governo americano para entender porque o ataque de 11 de setembro pôde acontecer sem os Estados Unidos ficarem sabendo mostrou que o problema não foi a NSA não coletar informação suficiente.
Quando você está ouvindo ligações da [chanceler da Alemanha] Angela Merkel ou da Dilma, ou lendo e-mails da Petrobras, você não está mantendo o foco de ter informações de pessoas que vão atacar os Estados Unidos"
Glenn Greenwald
"O problema era o oposto. Eles tinham informação para saber que o ataque estava sendo planejado, mas eles não conseguiam entender o significado do que coletaram. Depois disso eles resolveram coletar tudo e o problema piorou. Quando você está ouvindo ligações da [chanceler da Alemanha] Angela Merkel ou da Dilma, ou lendo e-mails da Petrobras, você não está mantendo o foco de ter informações de pessoas que vão atacar os Estados Unidos", disse.
Paranoico
Após ter trazido à tona o maior caso de espionagem do mundo, o jornalista diz que se sente ameaçado pelo governo dos EUA desde a primeira matéria que publicou sobre o caso. No entanto, tenta esquecer os riscos para "não ficar paranoico".
Ele voltou a falar sobre a necessidade de os governos - inclusive o brasileiro - se precaverem em relação à privacidade investindo em tecnologia de criptografia. "É muito mais fácil proteger a privacidade na internet do que destruir. Criptografia não é muito difícil em comparação com o desafio de invadir a privacidade. Médicos, advogados e jornalistas que tenham que proteger pacientes, clientes e fontes precisam usar a criptografia", defendeu Greenwald.
O jornalista considera a aprovação do Marco Civil positiva, mas acredita que a falta de punição rigorosa deixou a lei fraca. "Essa lei precisa de muito mais limites sobre o que as empresas privadas precisam fazer, como o Facebook e o Google. É mais difícil porque eles têm muito poder. Os governos precisam se posicionar e dizer a essas empresas que se elas fornecem dados de usuários para a NSA, que elas não podem permanecer no país. E o Marco Civil não tem isso", opinou o jornalista.
Sem lugar para se esconder
Editora Sextante
288 páginas
R$ 39,90

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