Mateus parece dizer aos cristãos do seu tempo, que o Cristo ressuscitado é seu tesouro mais precioso
Mateus, hoje, novamente, nos oferece três parábolas para falar sobre o Reino. Em cada parábola nos é dito o essencial do Reino: o Cristo ressuscitado, centro da nossa vida cristã, razão de ser da Igreja. Ele é o tesouro escondido no campo do Reino, que se deixa encontrar. Ele é a pérola preciosa que nos faz procurar sem cessar. Ele é a rede da Igreja que é lançada ao mar, ao mundo e que recolhe todo tipo de peixe, uma multidão de pessoas, sem nenhuma discriminação.
A reflexão é de Raymond Gravel, padre da Diocese de Joliette, Canadá, comentando as leituras do 17º Domingo do Tempo Comum – Ciclo A do Ano Litúrgico (27 de julho de 2014).
Referências bíblicas:
Primeira Leitura: 1Rs 3,5-12
Evangelho: Mt 13,44-52
Eis o texto.
Mateus, hoje, novamente, nos oferece três parábolas para falar sobre o Reino que acontece e que já está no meio de nós: “O Reino dos céus é comparável a... um tesouro” (Mt 13,44), “a uma pérola preciosa” (Mt 13,45-46) e “a uma rede” (Mt 13,47-48). Em cada parábola nos é dito o essencial do Reino: o Cristo ressuscitado, centro da nossa vida cristã, razão de ser da Igreja. Ele é o tesouro escondido no campo do Reino, que se deixa encontrar. Ele é a pérola preciosa que nos faz procurar sem cessar. Ele é a rede da Igreja que é lançada ao mar, ao mundo e que recolhe todo tipo de peixe, uma multidão de pessoas, sem nenhuma discriminação. Mais uma vez, trata-se de parábolas, de comparações, para nos ajudar a compreender o Reino e seus mistérios.
1. A parábola do tesouro escondido (Mt 13,44)
Esta parábola nos diz algo de importante sobre o Cristo ressuscitado. Por que o homem que descobre o tesouro simplesmente não o pega, em vez de enterrá-lo novamente e comprar o campo onde está enterrado? Há duas razões para isso:
1) O tesouro não pertence à pessoa; é o Cristo e o Cristo não pode ser apropriado.
2) Um tesouro de grande valor requer que invistamos tudo o que possuímos para adquirir o campo no qual está enterrado. E adquirir o campo é tornar-se discípulo daquele a quem pertence o campo, portanto, de Deus.
A imagem utilizada por Mateus, de esconder o tesouro, era compreendida na sua época, porque não havia banco ou lugar seguro para proteger um tesouro. Era preciso enterrá-lo novamente para protegê-lo e que não seja roubado.
Mateus parece dizer aos cristãos do seu tempo, que o Cristo ressuscitado é seu tesouro mais precioso, que se deixa encontrar e que os convida a renunciar a tudo para descobrir e viver desse tesouro... porque aí onde está o tesouro, está o coração, e o coração de um cristão deve bater no ritmo do Cristo Pascal.
2. A parábola da pérola preciosa (Mt 13,45-46)
Desta vez, o negociante a procura e uma vez que a encontrou, é capaz de tudo para adquiri-la. Mais uma vez, esta pérola preciosa é o Cristo ressuscitado que não se deixa apenas encontrar como um tesouro, mas que devemos procurar sem cessar como uma pérola preciosa. O mesmo acontece com o Reino e o Reino de Deus inaugurado pelo Cristo Pascal.
Orígenes, Padre da Igreja, dizia que a esta parábola da pérola preciosa se aplicam as parábolas seguintes: “Procurai e achareis; batei e ser-vos-á aberto” (Mt 7,7-8). É preciso estar disposto a perder tudo para encontrar o Cristo. São Paulo disse: “Por causa dele perdi tudo, a fim de ganhar o Cristo” (Fl 3,8).
3. A parábola da rede (Mt 13,47-48)
Esta parábola da rede nos diz que a Igreja está a serviço do Reino e não é sua proprietária. Isso supõe a não exclusão, o não julgamento e a não discriminação da sua parte. A Igreja tem a responsabilidade de lançar a rede (o Cristo) ao mar, para recolher todo tipo de peixe. Como na parábola do trigo e do joio, não lhe cabe a tarefa de separar o que é bom do mau, menos ainda de decidir o que é bom e o que é mau. É bem má aquela pessoa que o faz e que se dá o direito de fazê-lo. O Evangelho precisa: “Assim acontecerá no fim dos tempos: os anjos virão para separar os homens maus dos que são justos” (Mt 13,49). Nossa missão cristã consiste, pois, em oferecer a todas e todos, sem exceção, a Boa Nova do Reino. O papel da Igreja é acolher todas aquelas pessoas que entram nas suas redes. Então, por que julgamos algumas pessoas que acolhem o Cristo e que querem vivê-lo? Será que existem diversas maneiras de acolher o Cristo e diversas maneiras de vivê-lo?
4. “Assim, pois, todo o mestre da Lei, que se torna discípulo do Reino dos Céus, é como um pai de família que tira do seu tesouro coisas novas e velhas” (Mt 13,52)
Vemos muito bem neste final das parábolas do Reino que Mateus fala de si mesmo. Como judeu convertido ao cristianismo, Mateus nos recorda que na nossa vida de fé é preciso continuamente construir o novo, conservando sempre o melhor do velho... o que significa que não devemos rejeitar o passado; devemos renová-lo, tendo em presente a realidade e projetando seu olhar para o futuro. Isso me faz pensar na bela frase do filósofo Kierkegaard (1813-1855), que dizia: “Só podemos compreender a vida olhando para trás. Só podemos vivê-la olhando para frente”.
Na Igreja de hoje, como se poderia traduzir este convite de Mateus? Extrair o novo do velho hoje é, sem dúvida, não ignorar os valores das nossas sociedades contemporâneas: a igualdade entre o homem e a mulher, a liberdade de consciência e de religião, a dignidade de todas as pessoas, independente de seu estatuto social, sua situação de vida, sua orientação sexual. Não ter em conta esses valores ambiciosos é necessariamente discriminar e é seguramente contrário às mensagens evangélicas.
É por isso que, na nossa Igreja, temos necessidade da Sabedoria; aquela que o primeiro Livro dos Reis atribui a Salomão: “Dá, pois, ao teu servo, um coração compreensivo, capaz de governar o teu povo e de discernir entre o bem e o mal” (1Rs 3,9). E a aplicação desta sabedoria do rei Salomão, que encontramos nos versículos seguintes, quando duas mulheres se apresentam diante do rei com uma criança que ambas dizem ser sua; Salomão, para fazer justiça, ordena que se corte o menino em duas partes para dar uma parte a cada mãe. Uma das duas mulheres se opõe firmemente, dizendo: “Entreguem o menino vivo a essa mulher, porque ela é a sua verdadeira mãe...” (1Rs 16-27). O autor bíblico acrescenta: “Todo o Israel ficou sabendo da sentença que o rei tinha dado. E o respeitavam, pois viram que ele possuía sabedoria divina para fazer justiça” (1Rs 3,28).
Terminando, penso que necessitamos, em nossa Igreja, desta sabedoria divina se queremos fazer justiça às mulheres e aos homens de hoje e fazer nascer a esperança no coração do nosso mundo. Nas últimas três semanas, através das parábolas de Mateus, o Evangelho nos diz que o Reino de Deus não nos pertence, que nós estamos ao seu serviço, que devemos ser pacientes, tolerantes para com todos os sujeitos do Reino e que devemos procurá-lo como a um tesouro ou uma pérola preciosa. E eu acrescentaria que nós devemos ser corajosos, para não deixar enferrujar esse tesouro enterrado na terra. Uma coisa é certa: a colheita será boa, porque Deus é responsável por ela, através do Cristo Pascal que dá a Vida em abundância.
A reflexão é de Raymond Gravel, padre da Diocese de Joliette, Canadá, comentando as leituras do 17º Domingo do Tempo Comum – Ciclo A do Ano Litúrgico (27 de julho de 2014).
Referências bíblicas:
Primeira Leitura: 1Rs 3,5-12
Evangelho: Mt 13,44-52
Eis o texto.
Mateus, hoje, novamente, nos oferece três parábolas para falar sobre o Reino que acontece e que já está no meio de nós: “O Reino dos céus é comparável a... um tesouro” (Mt 13,44), “a uma pérola preciosa” (Mt 13,45-46) e “a uma rede” (Mt 13,47-48). Em cada parábola nos é dito o essencial do Reino: o Cristo ressuscitado, centro da nossa vida cristã, razão de ser da Igreja. Ele é o tesouro escondido no campo do Reino, que se deixa encontrar. Ele é a pérola preciosa que nos faz procurar sem cessar. Ele é a rede da Igreja que é lançada ao mar, ao mundo e que recolhe todo tipo de peixe, uma multidão de pessoas, sem nenhuma discriminação. Mais uma vez, trata-se de parábolas, de comparações, para nos ajudar a compreender o Reino e seus mistérios.
1. A parábola do tesouro escondido (Mt 13,44)
Esta parábola nos diz algo de importante sobre o Cristo ressuscitado. Por que o homem que descobre o tesouro simplesmente não o pega, em vez de enterrá-lo novamente e comprar o campo onde está enterrado? Há duas razões para isso:
1) O tesouro não pertence à pessoa; é o Cristo e o Cristo não pode ser apropriado.
2) Um tesouro de grande valor requer que invistamos tudo o que possuímos para adquirir o campo no qual está enterrado. E adquirir o campo é tornar-se discípulo daquele a quem pertence o campo, portanto, de Deus.
A imagem utilizada por Mateus, de esconder o tesouro, era compreendida na sua época, porque não havia banco ou lugar seguro para proteger um tesouro. Era preciso enterrá-lo novamente para protegê-lo e que não seja roubado.
Mateus parece dizer aos cristãos do seu tempo, que o Cristo ressuscitado é seu tesouro mais precioso, que se deixa encontrar e que os convida a renunciar a tudo para descobrir e viver desse tesouro... porque aí onde está o tesouro, está o coração, e o coração de um cristão deve bater no ritmo do Cristo Pascal.
2. A parábola da pérola preciosa (Mt 13,45-46)
Desta vez, o negociante a procura e uma vez que a encontrou, é capaz de tudo para adquiri-la. Mais uma vez, esta pérola preciosa é o Cristo ressuscitado que não se deixa apenas encontrar como um tesouro, mas que devemos procurar sem cessar como uma pérola preciosa. O mesmo acontece com o Reino e o Reino de Deus inaugurado pelo Cristo Pascal.
Orígenes, Padre da Igreja, dizia que a esta parábola da pérola preciosa se aplicam as parábolas seguintes: “Procurai e achareis; batei e ser-vos-á aberto” (Mt 7,7-8). É preciso estar disposto a perder tudo para encontrar o Cristo. São Paulo disse: “Por causa dele perdi tudo, a fim de ganhar o Cristo” (Fl 3,8).
3. A parábola da rede (Mt 13,47-48)
Esta parábola da rede nos diz que a Igreja está a serviço do Reino e não é sua proprietária. Isso supõe a não exclusão, o não julgamento e a não discriminação da sua parte. A Igreja tem a responsabilidade de lançar a rede (o Cristo) ao mar, para recolher todo tipo de peixe. Como na parábola do trigo e do joio, não lhe cabe a tarefa de separar o que é bom do mau, menos ainda de decidir o que é bom e o que é mau. É bem má aquela pessoa que o faz e que se dá o direito de fazê-lo. O Evangelho precisa: “Assim acontecerá no fim dos tempos: os anjos virão para separar os homens maus dos que são justos” (Mt 13,49). Nossa missão cristã consiste, pois, em oferecer a todas e todos, sem exceção, a Boa Nova do Reino. O papel da Igreja é acolher todas aquelas pessoas que entram nas suas redes. Então, por que julgamos algumas pessoas que acolhem o Cristo e que querem vivê-lo? Será que existem diversas maneiras de acolher o Cristo e diversas maneiras de vivê-lo?
4. “Assim, pois, todo o mestre da Lei, que se torna discípulo do Reino dos Céus, é como um pai de família que tira do seu tesouro coisas novas e velhas” (Mt 13,52)
Vemos muito bem neste final das parábolas do Reino que Mateus fala de si mesmo. Como judeu convertido ao cristianismo, Mateus nos recorda que na nossa vida de fé é preciso continuamente construir o novo, conservando sempre o melhor do velho... o que significa que não devemos rejeitar o passado; devemos renová-lo, tendo em presente a realidade e projetando seu olhar para o futuro. Isso me faz pensar na bela frase do filósofo Kierkegaard (1813-1855), que dizia: “Só podemos compreender a vida olhando para trás. Só podemos vivê-la olhando para frente”.
Na Igreja de hoje, como se poderia traduzir este convite de Mateus? Extrair o novo do velho hoje é, sem dúvida, não ignorar os valores das nossas sociedades contemporâneas: a igualdade entre o homem e a mulher, a liberdade de consciência e de religião, a dignidade de todas as pessoas, independente de seu estatuto social, sua situação de vida, sua orientação sexual. Não ter em conta esses valores ambiciosos é necessariamente discriminar e é seguramente contrário às mensagens evangélicas.
É por isso que, na nossa Igreja, temos necessidade da Sabedoria; aquela que o primeiro Livro dos Reis atribui a Salomão: “Dá, pois, ao teu servo, um coração compreensivo, capaz de governar o teu povo e de discernir entre o bem e o mal” (1Rs 3,9). E a aplicação desta sabedoria do rei Salomão, que encontramos nos versículos seguintes, quando duas mulheres se apresentam diante do rei com uma criança que ambas dizem ser sua; Salomão, para fazer justiça, ordena que se corte o menino em duas partes para dar uma parte a cada mãe. Uma das duas mulheres se opõe firmemente, dizendo: “Entreguem o menino vivo a essa mulher, porque ela é a sua verdadeira mãe...” (1Rs 16-27). O autor bíblico acrescenta: “Todo o Israel ficou sabendo da sentença que o rei tinha dado. E o respeitavam, pois viram que ele possuía sabedoria divina para fazer justiça” (1Rs 3,28).
Terminando, penso que necessitamos, em nossa Igreja, desta sabedoria divina se queremos fazer justiça às mulheres e aos homens de hoje e fazer nascer a esperança no coração do nosso mundo. Nas últimas três semanas, através das parábolas de Mateus, o Evangelho nos diz que o Reino de Deus não nos pertence, que nós estamos ao seu serviço, que devemos ser pacientes, tolerantes para com todos os sujeitos do Reino e que devemos procurá-lo como a um tesouro ou uma pérola preciosa. E eu acrescentaria que nós devemos ser corajosos, para não deixar enferrujar esse tesouro enterrado na terra. Uma coisa é certa: a colheita será boa, porque Deus é responsável por ela, através do Cristo Pascal que dá a Vida em abundância.
Réflexions de Raymond Gravel
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