São Jorge quase sempre é invadida por alternativos e neo-hippies do Brasil todo em busca de um tempo perdido.
Por Ricardo Soares*
Há um mundo que se desmancha e outro que se reacomoda. Vemos isso todos os dias. É fato. Nenhuma novidade. Digitalizamos o discurso para pânico de muitas de nossas mentes analógicas. No entanto nesse hiato temporal um mundo entra no outro e ficamos naquela pedra no meio do caminho. Somos um futuro incerto eivado de artérias do passado e capilaridades presentes.
Sinto-me exatamente assim quando volto de curta jornada no distrito de São Jorge, município de Alto Paraíso de Goiás. Uma região que é uma espécie de capital da deslumbrante Chapada dos Veadeiros que literalmente “chapa” os seus visitantes conforme quis deixar bem claro no título – trocadilho dessa crônica. Se você parar para ouvir o som do tempo, ver a chuva de estrelas, sentir o vento frio que bate nas cabeleiras neo-hippies daquele pedaço durante a noite vai entender exatamente o que digo.
Até o dia 2 de agosto, São Jorge sedia o XIV Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros e lá estive com equipes dos veículos da EBC – Empresa Brasil de Comunicação – para conceber especiais para a TV Brasil e nossas rádios tentando demonstrar o que é aquele entorno todo e o que promove e divulga nesse encontro, que chega na sua décima quarta edição. Para não adiantar muito só lhes digo que tive o privilégio de ver uma oficina ao vivo do mestre Naná Vasconcelos durante a tarde e de noite um espetáculo belíssimo dele no palco montado no centro de São Jorge.
São Jorge quase sempre (e ainda mais nessa época do ano) é invadida por alternativos e neo-hippies do Brasil todo (e de alguns pontos do exterior como o fotógrafo canadense Wayne Eardley) em busca de um tempo perdido. Os anos 70. Na verdade em São Jorge não é um tempo perdido, pois os anos 70 são ali achados e prospectados em todo seu vigor criativo. Apesar da preguiça que me dá certo tipo de hippie de boutique, ainda prefiro uma horda deles do que a malta de patricinhas e marombadinhos do Planalto Central que ouvem música breganeja da pior qualidade, reproduzindo preconceitos paternos e maternos contra a preservação ambiental e direitos indígenas.
Nesses curtos e intensos dias comi poeira, participei de manifestações indígenas (como espectador, of course) tomei banho de rio e cachoeira, vi artesanato que se vendia e comprava em Trindade-Paraty-Mauá nos anos 70 e ouvi muito discurso sobra paz e amor, apesar de alguns desentendimentos entre os pacifistas por conta da muvuca e do trânsito de veículos na pequena São Jorge.
Pois um dos muitos males de São Jorge é justamente a chegada de carros, muitos carros. Chegam pela estrada que estão asfaltando desde Alto Paraíso. Uma construção monstruosa que não tem nenhum estudo de manejo ambiental, onde se aterram várzeas e pequenos rios para abrirem largas faixas para os automóveis. Meu temor é que com a chegada de mais e mais carros a vocação de estilhaço dos anos 70 de São Jorge acabe se diluindo e que tudo aquilo passe a ser, como Búzios, um shopping center para as dondocas entediadas do Leblon. Mas, por outro lado, creio nos resistentes que ali vivem e ainda acreditam que São Jorge possa ser forever uma fração do espírito de Woodstock.
Há um mundo que se desmancha e outro que se reacomoda. Vemos isso todos os dias. É fato. Nenhuma novidade. Digitalizamos o discurso para pânico de muitas de nossas mentes analógicas. No entanto nesse hiato temporal um mundo entra no outro e ficamos naquela pedra no meio do caminho. Somos um futuro incerto eivado de artérias do passado e capilaridades presentes.
Sinto-me exatamente assim quando volto de curta jornada no distrito de São Jorge, município de Alto Paraíso de Goiás. Uma região que é uma espécie de capital da deslumbrante Chapada dos Veadeiros que literalmente “chapa” os seus visitantes conforme quis deixar bem claro no título – trocadilho dessa crônica. Se você parar para ouvir o som do tempo, ver a chuva de estrelas, sentir o vento frio que bate nas cabeleiras neo-hippies daquele pedaço durante a noite vai entender exatamente o que digo.
Até o dia 2 de agosto, São Jorge sedia o XIV Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros e lá estive com equipes dos veículos da EBC – Empresa Brasil de Comunicação – para conceber especiais para a TV Brasil e nossas rádios tentando demonstrar o que é aquele entorno todo e o que promove e divulga nesse encontro, que chega na sua décima quarta edição. Para não adiantar muito só lhes digo que tive o privilégio de ver uma oficina ao vivo do mestre Naná Vasconcelos durante a tarde e de noite um espetáculo belíssimo dele no palco montado no centro de São Jorge.
São Jorge quase sempre (e ainda mais nessa época do ano) é invadida por alternativos e neo-hippies do Brasil todo (e de alguns pontos do exterior como o fotógrafo canadense Wayne Eardley) em busca de um tempo perdido. Os anos 70. Na verdade em São Jorge não é um tempo perdido, pois os anos 70 são ali achados e prospectados em todo seu vigor criativo. Apesar da preguiça que me dá certo tipo de hippie de boutique, ainda prefiro uma horda deles do que a malta de patricinhas e marombadinhos do Planalto Central que ouvem música breganeja da pior qualidade, reproduzindo preconceitos paternos e maternos contra a preservação ambiental e direitos indígenas.
Nesses curtos e intensos dias comi poeira, participei de manifestações indígenas (como espectador, of course) tomei banho de rio e cachoeira, vi artesanato que se vendia e comprava em Trindade-Paraty-Mauá nos anos 70 e ouvi muito discurso sobra paz e amor, apesar de alguns desentendimentos entre os pacifistas por conta da muvuca e do trânsito de veículos na pequena São Jorge.
Pois um dos muitos males de São Jorge é justamente a chegada de carros, muitos carros. Chegam pela estrada que estão asfaltando desde Alto Paraíso. Uma construção monstruosa que não tem nenhum estudo de manejo ambiental, onde se aterram várzeas e pequenos rios para abrirem largas faixas para os automóveis. Meu temor é que com a chegada de mais e mais carros a vocação de estilhaço dos anos 70 de São Jorge acabe se diluindo e que tudo aquilo passe a ser, como Búzios, um shopping center para as dondocas entediadas do Leblon. Mas, por outro lado, creio nos resistentes que ali vivem e ainda acreditam que São Jorge possa ser forever uma fração do espírito de Woodstock.
*Ricardo Soares é diretor de TV, escritor, roteirista e jornalista. Titular do blog Todo Prosa (www.todoprosa.blogspot.com) e autor, entre outros, dos livros Cinevertigem, Valentão e Falta de Ar. Atualmente diretor de Conteúdo e programação da EBC- Empresa Brasil de Comunicação.
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